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Gabriel Galo
Publicado em 15 de julho de 2018 às 17:28
- Atualizado há 2 anos
Qual o tamanho adequado da expectativa para um final de Copa do Mundo? Para quem a disputa, nada menos do que o máximo possível é aceito. O maior palco do futebol mundial não aceita comedimento. Só recebe vibração altíssima.
Axé que pulsa das arquibancadas recheadas de torcedores apaixonados pelo maior esporte do planeta. Que também vem das telas plugadas em todos os cantos. Visível nas feições ansiosas de Macron e Kitarović, presidentes de França e Croácia, e na necessidade de Infantino de se provar o cabeça de uma Fifa encalacrada em acusações mil. Só não vinha de Putin, porque o homem de gelo tem uma predisposição genética para não sorrir.
No campo de jogo, as seleções receberam a energia no melhor de suas habilidades. A Croácia, tentando transformar num gás extra de quem chegava com pernas pesadas de prorrogações demais e um certo ar de que estar ali já era suficiente. A França, geração talentosa, pronta para brilhar, cuspindo fogo pela Eurocopa perdida em casa. Favorita, querendo seu papel de protagonista de maneira definitiva.
Mas de axé entende mesmo quem tem não apenas um pé, mas o corpo inteiro na África.
A França de 2018 é uma aula de geopolítica, de história, de sociologia, de antropologia, de filosofia… A grade inteira de humanas! É o resumo de uma linha do tempo que tende a se concentrar ao redor do Arco do Triunfo. E as ondas, as vibrações, o axé foi extravasado na Marselhesa entoada aos gritos, na Torre Eiffel iluminada pelo querer da massa.
Como é grande a França!
Agora coroada merecidamente como país do futebol, em mandato de quatro anos, prorrogáveis nos pés de seus bailarinos boleiros. Aquela que entende que para ser campeã mundial tem que ser atropelando.
Título com ares de dinastia. Ou há de se duvidar à 10 de Mbappé pertence o cetro do controle do futuro do ludopédio? Com direito a sobrenome que é destino, que é a confluência de todo o embaralhamento, quase esculhambação, que é o globalismo. O lado maravilhoso da inevitabilidade migratória e seus frutos.
Na chuva de gols, sucedida pela chuva torrencial que desabou sobre Moscou, mais mensagens do espetáculo que é o futebol. Um extasiado Macron criança, vibrando euforicamente com os gols, na única liturgia do cargo que cabe numa final de Copa, e distribuindo medalhas em puro contentamento. Kitarović chorando ao abraçar Modrić e sua Bola de Ouro. A água escorrendo aos cântaros pelos ternos desalinhados e ensopados de todos.
Todos adorando aquela alma lavada de uma Copa que deu certo!
Porque não há torneio mais exuberante que a Copa do Mundo. De jogos fantásticos, de outros nem tanto. Vale o que vier, vale o que quiser. De personagens elevados ao estrelato, outros renegados ao limbo. De novos Pelés, de sucessores dos grandes de antanho, daqueles que, mais-que-são, serão a referência de futuras gerações. Nem direito acabou, mas a saudade já é enorme.
Parabéns, Croácia! Vive la France! Viva ao futebol!
Axé, les Bleus!
*Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo.