Acesse sua conta

Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Recuperar senha

Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Dados não encontrados!

Você ainda não é nosso assinante!

Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *

ASSINE

Crônica do dia: Alemanha e o cheirinho

Leia texto do escritor Gabriel Galo

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Galo
  • Gabriel Galo

Publicado em 23 de junho de 2018 às 18:27

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Getty Images/Fifa

Toni Kroos se prepara para a cobrança. Ao seu lado, quase na risca da lateral direita da grande área sueca, Marco Reus, autor do gol de empate. Esperam pelo apito do juiz autorizando a cobrança aos quase 50 minutos do segundo tempo. Área lotada de alemães, todos menos o goleiro Neuer, que teve permissão negada pelo técnico Joachim Löw para se aventurar na tentativa do gol da salvação. Alemanha jogava com um a menos desde a expulsão de Boateng e ainda teve um jogador substituído no primeiro tempo por conta de um nariz quebrado num lance fortuito. O empate praticamente decretava a eliminação de uma das maiores instituições do esporte mundial.

Aqui no Brasil salivávamos pela consumação da derrocada alemã. Afinal, um 7x1 em pleno Mineirão não poderia passar impune. Os efeitos colaterais do maior desastre da história do futebol brasileiro pareciam atingir também a Argentina, finalista derrotada no Maracanã. Por um fio, mantém-se viva, respirando por aparelhos, correndo sério risco de se ver eliminada ainda na fase de grupos, o que não acontecia desde 2002 e aquela frustrante seleção de El Loco Bielsa. Se já ter a Argentina na berlinda era maravilhoso, ter também a Alemanha então era o auge!

Toni Kroos rola a bola de lado. Marco Reus a deixa imóvel, segurando-a contra o tapete verde com a sola da chuteira. Cumprida a sua função, afasta-se para deixar o espaço livre para Kroos, que num movimento seguro, martela a redonda.

O histórico alemão nas primeiras fases de Copas do Mundo é praticamente impecável. Nunca deu adeus ao torneio no formato de grupos. No longínquo ano de 1938 experimentou sua única eliminação em primeiras fases, numa Copa feita apenas de mata-matas. Em pleno auge nazista, os alemães sucumbiram nos pênaltis diante da Suíça, depois de empate por 1x1 no tempo normal. Aquele cheiro de eliminação precoce contra a Suécia seria um capítulo tenebroso no vencedor futebol germânico.

Quando o 8 de branco chuta, o esperado cruzamento não vem. Um apressado sueco sai da barreira de dois homens para evitar o arremate direto. Cuidadoso, procura manter os braços grudados no corpo. Um pênalti da eventual derrota seria fatal para a Suécia. O empate garantia que os nórdicos brigassem por um ponto apenas contra o líder México na última rodada, carimbando o passaporte dos dois à próxima fase, deixando os alemães para trás.

E em matéria de derrotar gigantes a Suécia estava escolada. Sobreviveu às eliminatórias europeias num grupo com França e Holanda, este último ficando de fora da festa na Rússia. Na repescagem, seguraram a Itália com o mesmo ônibus estacionado na frente de sua área que agora os alemães tentavam transpor. Alemanha seria apenas mais um, por assim dizer. Só que a Alemanha nunca é um qualquer.

Cair na fase de grupos de uma competição gera consequências severas. Assim foi quando, em 2000, seguraram a lanterna de sua chave na Eurocopa. O trauma foi transformado em reconstrução. Um extenso programa de evolução de centros de treinamentos, capacitação de profissionais, implementação de tecnologias de suporte, unificação de táticas nas categorias de base foi cumprido à risca. Apenas dois anos depois estavam numa final de Copa do Mundo. Viveram a dor novamente em 2004, mas o caminho estava pavimentado para evitar que este desdobramento jamais se repetisse. E assim se fez. No mínimo, a Alemanha alcançou as semifinais de todas as competições que disputou.

Quando a trajetória da bola apontou o canto esquerdo do goleiro sueco, o cheiro subiu. O cheiro do receio sueco de que um gol alemão no crepúsculo do jogo jogasse por terra suas pretensões. O cheiro da esperança inabalável dos alemães que sabem que a Alemanha sempre chega. O cheiro do extravasar de um Toni Kroos que se redimia de seu erro que deu origem ao gol sueco. O cheiro da história de uma equipe que nunca deve ser renegada. Respeita os caras! E ali ela se aninhou, serena com a placidez da certeza recoberta.

Alemanha segue viva, vivíssima. Com grandes chances de se pôr no caminho do Brasil já nas oitavas, num duelo de titãs que poderá sacudir o planeta.

Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo.