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Donaldson Gomes
Publicado em 2 de agosto de 2019 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Que a Chapada Diamantina tem belezas que atraem e encantam gente de tudo quanto é canto do planeta não é novidade. Mas o que pouca gente sabe é que a região tem potencial até para dobrar o número de visitantes, graças ao seu patrimônio geológico. Muito além de panos de fundo para fotos, formações geológicas como a Cachoeira da Fumaça e o Morro do Pai Inácio são importantes para contar a história do planeta. E o reconhecimento internacional disso pode atrair interessados em geologia de toda parte do mundo.
Tal qual o reconhecimento que existe para locais que guardam a biodiversidade, existe uma chancela, que é concedida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), para aqueles que ajudam a contar a história do planeta. A esses conjuntos de sítios, a entidade ligada à ONU concede os títulos de geoparques. Mas ao contrário de locais de preservação da fauna e flora, em que a presença humana exige controle, nos patrimônios geológicos a presença da população é estimulada e o turismo funciona como ferramenta de preservação.
“A nossa expectativa é de que o fluxo de turistas pelo menos dobre”, destaca o presidente da Associação Geoparque Serra do Sincorá, Renato Pimenta Azevedo. A entidade que ele dirige representa os municípios baianos de Lençóis, Andaraí, Palmeiras e Mucugê. A estimativa em relação ao aumento no número de visitantes se baseia em estudos que mediram o impacto da iniciativa em outras regiões.
Além dos municípios que integram o Geoparque da Serra do Sincorá, existem projetos em andamento nos municípios de Morro do Chapéu, São Desidério e em Rio de Contas.
“O reconhecimento como um geoparque provoca a atenção de uma rede que é mundial. A chancela da Unesco atrai a atenção de profissionais de todo o mundo”, diz Renato Azevedo.
Morfologia e garimpo Enquanto existem regiões que buscam o reconhecimento para atrair a infraestrutura turística, os municípios da Chapada já contam com rede de hospedagem instalada, guias, que precisariam apenas receber capacitação em informações geológicas, além de uma longa história ligada ao turismo.
Na região habitada por aproximadamente 40 mil pessoas, além dos destaques das formações geológicas, ainda é possível estudar a longa história do garimpo na região cujo “sobrenome” é derivado de diamente.
Renato Azevedo acredita que o processo de validação do geoparque na Unesco ainda pode se prolongar por um prazo entre quatro e cinco anos até se concretizar.
“Não há dúvidas quanto à riqueza do patrimônio geológico que temos aqui na Bahia”, ressalta a dirigente da Comissão de Geoparques da Sociedade Brasileira de Geologia na Bahia e Sergipe, Marilda Santos Pinto. Mas, segundo ela, para receber o reconhecimento é necessário que se comprovem processos que garantam a conservação geológica das áreas, que haja o investimento em educação para os habitantes da região e o investimento no geoturismo. “Tomar um banho de cachoeira é muito bom, mas existe um perfil de turista que quer saber como aquela estrutura foi criada”, diz.
“Este turismo traz uma série de benefícios para a região, porque o turista vai se hospedar, se alimentar e vai levar lembranças”, diz. Ela ressalta o caso dos visitantes do Serrano, em Lençóis, que quase sempre voltam para as suas casas com garrafinhas onde se produzem imagens com a terra colorida do local.
Desenvolvimento A postura receptiva aos visitantes no caso dos geoparques parte do princípio de que não é necessário afastar a população para proteger o patrimônio. “O benefício financeiro que a população local tem com a exploração responsável no ambiente favorece à preservação”, diz.
Marilda diz que durante o I Fórum Internacional de Inovação e Sustentabilidade na Mineração, que será realizado na Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), no próximo dia 14, será montado um estande mostrando a importância da instalação dos geoparques.
Atualmente, existe apenas um local reconhecido no Brasil, o Geoparque Araripe, no Crato (CE).
O geólogo Antonio Dourado, membro da Comissão de Geoparques da Sociedade Brasileira de Geologia (SBG), explica que a proteção à geodiversidade é tão importante quanto proteger a biodiversidade. “Nossas cidades estão crescendo, o mundo precisa de mais portos, aeroportos, ferrovias, agricultura, etc. E a geodiversidade fornece matérias-primas para tudo isso daí”, destaca.
A degradação das estruturas que possuem valor histórico pode representar prejuízos incalculáveis para a humanidade. “A geologia é uma ciência que se reinventa. Às vezes, uma determinada rocha já foi estudada, mas pode ser útil voltar a ela no futuro e examiná-la à luz das novas tecnologias”, explica.
Ele destaca que o território do Brasil, com quase 4 milhões de anos de história geológica pode contribuir muito para os estudos geológicos. E que os geoparques podem contribuir para o desenvolvimento do Brasil. “Estamos falando de um turismo para um público de alto padrão aquisitivo”, destaca.
Sustentabilidade será discutida em fórum sobre mineração
No próximo dia 14 de agosto, representantes da mineração na Bahia se reúnem em evento que terá os caminhos para uma atuação sustentável como um dos temas de discussão. Grandes empresas em operação na Bahia, representantes do poder público, iniciativa privada e da academia participam do I Fórum Internacional de Inovação e Sustentabilidade na Mineração.
O evento, que acontece na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), das 8h às 17h20, é promovido pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) e a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) e tem o apoio do CORREIO. Estão previstos três painéis temáticos: Desafios e Oportunidades da Mineração; Inovação, Sustentabilidade e Novas Tendências para a Mineração; Estratégias para o Fortalecimento do Ecossistema de Inovação da Bahia.
“Nós temos que enfrentar os desafios da sustentabilidade. Quando eu falo desse assunto, não estou falando em algo que vai me beneficiar hoje, estou falando de algo que vai ser importante para os meus netos”, diz o presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm. “O meio ambiente tem que ser resguardado porque é importante para o futuro, mas nós acreditamos que é possível e preciso aliar o desenvolvimento à preservação do meio ambiente”, afirma.
Entre os integrantes do poder público estão confirmados Alexandre Vidigal, secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME), e Victor Hugo Froner Bicca, diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM). “São as duas maiores autoridades formais em mineração do país. É uma coisa muito importante para a Bahia no momento”, destaca Tramm.
Na iniciativa privada, o presidente da Largo Resources no Brasil, Paulo Misk, é presença confirmada, para falar sobre a Vanádio de Maracás.
Gustavo Roque, coordenador do Mining Hub, em Minas Gerais, é outra presença confirmada. O projeto que a CBPM pretende implantar no estado é baseado do que está em operação em Minas desde o início deste ano. “O mundo está cada vez mais tecnológico e existe uma demanda por tecnologia na mineração também. Minas Gerais montou o primeiro e nós queremos aprender com a experiência deles”, destaca Tramm.
“O hub é uma aposta no futuro da mineração aqui na Bahia”, acredita.
Rinaldo Mancin, diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) também estará presente. A entidade é a responsável pela representação nacional da atividade. Segundo o presidente da CBPM, outros nomes de peso ainda serão confirmados.
Serviço
O quê I Fórum Internacional de Inovação e Sustentabilidade na Mineração
Quando 14 de agosto das 8h às 17h30
Onde Auditório da Fieb – Rua Edístio Pondé, 342, Stiep, Salvador, Bahia
Para se inscrever As inscrições são gratuitas e podem ser feitas através do site bit.ly/forumdemineracao