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Coronavírus limita velório com homenagens a Riachão

Enterro do sambista, no cemitério Campo Santo, é aberto ao público

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Moura
  • Gabriel Moura

Publicado em 30 de março de 2020 às 13:37

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

O enterro no sambista baiano Riachão, que morreu nesta segunda-feira (30), terá de seguir normas especiais por causa da pandemia do novo coronavírus. O decreto municipal que impede aglomeração de pessoas obrigou o velório a ser realizado em um esquema rotativo, com no máximo 10 pessoas podendo ficar na sala ao mesmo tempo para dar o último adeus ao sambista.

Apesar disso, a cerimônia será aberta ao público, às 16h desta segunda, no cemitério do Campo Santo, no bairro da Federação, em Salvador. O velório terá duração máxima de 2 horas e, na hora do enterro, não haverá um controle do número de pessoas. O único pedido da família é de que os presentes mantenham uma distância de no mínimo um metro entre elas, para dificultar o contágio da covid-19.

Riachão morreu nessa madrugada enquanto dormia em casa. 

O sambista teve uma dor abdominal no último domingo (29), tomou uma medicação e foi dormir. Os familiares só notaram que ele estava sem vida na manhã desta segunda, quando tentaram acordá-lo."A família inteira está muito triste, mas o que nos conforta é que temos que seguir o legado de alegria, simpatia, amor e felicidade que eram as marcas registradas dele", disse Júnior, sobrinho do sambista.Apesar da idade, o cantor era considerado saudável e ativo pelos familiares. Em um perfil do artista nas redes sociais, a família comunicou oficialmente o falecimento. 

"É com grande tristeza que nós, familiares, comunicamos o falecimento do nosso querido patriarca, Clementino Rodrigues, carinhosamente conhecido como o sambista Riachão! Riachão faleceu em casa, de causas naturais, na manhã desta segunda-feira, junto de sua família! O velório acontece no cemitério Campo Santo, e o sepultamento ocorrerá às 16h. Levando em consideração o decreto que proíbe a aglomeração de pessoas por conta da pandemia do corona vírus, a entrada de pessoas no velório será rotativa e limitada. Guardamos na lembrança a alegria e a felicidade que ele sempre transmitiu", diz a íntegra da postagem.

'Riachão não é músico, é música' Assim como Dorival Caymmi, Riachão seguiu o estilo do samba irreverente, com composições bem humoradas, como "Cada macaco no seu galho" "Vá morar com o diabo", "Retrato da Bahia, "Bochechuda e papuda", "A morte do motorista da Praça da Sé", "A martaruga", "Visita da Rainha Elizabeth" e "Incêndio no Mercado Modelo". Ele soube cantarolar a leveza dos acontecimentos ordinários, sempre inspirado no que acontecia no dia-a-dia.  

Além de Gil e Caetano, suas músicas foram regravadas também por Jackson do Pandeiro e Cassia Eller. Suas vestimentas - camisa social, calça, boina, toalha sob o pescoço, anéis - o caracterizavam.  

"Roberto Mendes quando o conheceu, espantado, disse que ele não era músico, era música. E realmente ele tinha essa coisa de sua vida e sua arte serem uma coisa só. E, felizmente, a obra dele como artista e compositor ficam,  mas quem o viu no palco jamais irá esquecer. Ele é um verdadeiro showman, com uma presença de palco que poucas vezes vi na vida. Ele mesmo com 80, 90 sambava, parecia que flutuava", lembra o produtor Paquito, que trabalhou com ele no início dos anos 2000.

Blog do Marrom: Morreu o último e genial “malandro” baiano: Riachão

Em 2017, já com 97 anos de idade, Riachão e seu bairro, o Garcia, ganharam uma homenagem com o lançamento do livro Eu e Meu Lugar, escrito pela também cantora Vânia Abreu e ilustrado pelo artista plástico Mike Sam Chagas.

"Importante lembrar que ele passou como figura folclórica diante do time de estrelas de Axé mas foi imenso e singular na sua criação. Nunca foi amargurado por isso, muito pelo contrário, só sabia ser ser alegria e gratidão com alguma rabugice pelos limites da idade e por achar que o samba perdeu sua alegria com a bossa-nova. Tenho gratidão por ter convivido com ele e pelo rico aprendizado de vida e de carreira. Tenho gratidão como baiana, pela riqueza de seus sambas de muitas claves e marchinhas, que não se preocuparam em ser 'pop', declarou Vânia, que é irmã de Daniela Mercury.

Foi em colaboração com a própria Vânia Abreu que Riachão gravou o seu último disco, em 2013, o CD Mundão de Ouro. Esse foi apenas o terceiro registro solo da sua carreira de centenas de sambas. Antes, havia lançado somente Sonho de Malandro (1973) e Humanenochum (2000).  

Riachão ia completar 99 anos no dia 14 de novembro de 2020. Ele estava preparando um disco pela Natura Musical, cujo nome era Se Deus quiser eu vou chegar aos 100.

Repercussão Relevante e popular, composições de Riachão já foram interpretadas por artistas como Cássia Eller, Gilberto Gil e Caetano Veloso. O Prefeito de Salvador, ACM Neto, lamentou a perda: "Riachão sempre foi uma grande referência da cultura popular. Nós, da Prefeitura, desde 2015, instituímos um circuito com o seu nome no Garcia, uma justa homenagem a quem muito fez pela nossa cultura. Que Deus conforte os familiares e amigos de Riachão neste momento de profunda dor", disse.

O secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Claudio Tinoco, também lamentou a morte do sambista: "O samba brasileiro hoje chora. Riachão era história viva. Era a essência do nosso samba, da nossa identidade brasileira e tão importante para a música. Lamentamos imensamente sua morte", afirmou Tinoco. 

O secretário destacou o legado gigantesco que o sambista e compositor deixa, o que ele classificou como "uma inesquecível contribuição para a música". 

"Ficamos felizes em ter tido a oportunidade de conviver com Riachão. Ele chegou a gravar um bate-papo super legal com Gringo Cardia e Paulo Miguez para a Casa do Carnaval e podemos ver sua essência no vídeo", disse Tinoco.

Já Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos, exaltou alegria de Riachão como característica que deve ser lembrada:

"Sem dúvida, vamos lamentar a perda desse ser iluminado, artista único, autor de mais de 500 composições, dentre as quais clássicos como Cada Macaco no seu Galho e Vá Morar com o Diabo. Vamos lembrar, também, de uma trajetória longa, que sempre celebrou a alegria e o bom humor. Essa figura genuinamente baiana, trazia em seu DNA a percepção rítmica e autoral do nosso modo de ser e conviver e transformou-se num dos maiores cronistas de nosso tempo. Viva a esse ser especial, ser humano incrível, que alegrou e continuará a alegrar, com seu legado, a todos nós", comentou Guerreiro.

O Esporte Clube Bahia também lamentou a morte do artista baiano. Em seu perfil no Instagram, o time relembrou a homenagem feita para o cantor: "Ele, em 2018, foi homenageado em uma das ações do Novembro Negro. Ramires, no triunfo sobre o Ceará, atuou com o nome dele na camisa".