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Vinicius Harfush
Publicado em 10 de agosto de 2020 às 11:11
- Atualizado há 2 anos
Das experiências pessoais e rodas de conversa entre amigos, para a tela da Rede Bahia: é assim que a nova atração da emissora, Conversa Preta, abordará a temática do racismo e todo o seu impacto cultural e social na sociedade. Comandado pelo ator, escritor e apresentador Aldri Anunciação, a estreia do programa será neste sábado, dia 15 de agosto, após a exibição do Jornal Hoje, e terá três episódios nessa primeira temporada.
E para acompanhar Aldri no debate dos desdobramentos do racismo, a atração terá a presença de repórteres e apresentadores pretos da Rede Bahia, que vivem na pele histórias que representam a maioria da população soteropolitana, baiana e brasileira. Segundo pesquisa do IGBE de 2019, a população da Bahia é majoritariamente declarada preta (22,5% contra 18,7%), o Conversa Preta é uma das ferramentas que dá o espaço e voz para essa maioria se posicionar e expressar. Novo programa estreia na Rede Bahia no dia 15 de agosto, após o Jornal Hoje (Foto: Reprodução) “O que é o Conversa Preta? É o que está nas esquinas da nossa cidade, de todo o estado. O programa compila diversos assuntos que se relacionam com o racismo. E o convite que me fizeram de estar no programa passa pela minha vontade de encontrar novos caminhos para abordar esse racismo além do factual”, conta Aldri, que vê a exibição ocupando um espaço como programa de entretenimento.
Nomes como Georgina Maynart, Vanderson Nascimento e Luana Assis estarão também no estúdio para contar suas histórias e servir de espelho para quem assiste a atração. A diretora e idealizadora do Conversa, Mira Silva, conta que essa representatividade é um das raízes de criação do programa: “Se você [como pessoa preta] não se vê em determinados espaços da sociedade, você acredita que não é capaz de chegar ali. Para os três episódios reunimos um cast de apresentação e reportagem todo negro, tanto da TV Bahia quanto das afiliadas do interior. A importância do programa passa por aí, produzido em um contexto de pretos e de pretas”, afirma Mira.
Na estreia, a conversa central será para falar sobre o racismo vivenciado nas trajetórias profissionais, que explicam “como chegamos aqui”, cita o apresentador.
O desejo de materializar esse debate cotidiano surgiu em 2019, justamente de um encontro de profissionais negros da Rede Bahia, das mais diversas áreas, que, segundo Mira, tinham um “desejo coletivo” de ampliar esse debate e levar para o meio do audiovisual. Para Aldri, é esse espaço, que reúne os profissionais negros, que fortalece o combate também à invisibilidade dessas figuras.
“Eu mesmo não imaginei que tínhamos uma equipe toda negra. Nós estamos nos vendo? Estamos nos ensinando a nos ver? São essas questões que vão surgir no programa além do racismo, vamos falar de problemas e as soluções”, completou.
Como convidados, Mira revela que a cantora Margareth Menezes participará - em formato virtual - assim como Naira Gomes, antropóloga, Enderson Araújo, articulador cultural nas periferias de Salvador, Carla Akotirene, que é ativista e pesquisadora baiana. Além da poeta Lívia Natália e Saulo Rogério, que debaterá, como publicitário, o empreendedorismo negro. Carla Akotirene, Margareth Menezes e Lívia Natália também irão participar do Conversa Preta ao longo dos três episódios (Foto: Divulgação) Referências
Aldri revela que o Conversa Preta carrega também pautas que surgem por meio das redes sociais. Como ele mesmo já citou, a ideia é trazer além daquilo que é notícia pelos dados e fatos, ampliando o debate na televisão aberta, que continua tendo um papel extremamente importante na formação e informação da população. “A TV tem seu lugar interessante, que é pautar de forma prática mesmo, por ela estar in loco, na rua. Não se pode perder isso nunca. Mas ela se associar às redes sociais é muito importante, enriquecendo as discussões que saem das redes sociais”, avalia.
E as reportagens estão nas mãos de repórteres negros da Rede Bahia, como Luana Souza, Pablo Vasconcelos, Lucas Almeida, Tiago Reis, Muller Nascimento e Joyce Guirra. E como a atração se estrutura como entretenimento, o formato se torna ainda mais leve com o quadro de humor feito por Patrícia Rammos. “Vamos tratar o negro nas mais diversas áreas, da ciência à moda, sempre valorizando e cultura e a importância histórica preta para a cultura baiana e brasileira”, completa Mira.
O Conversa Preta se soma a algumas atrações da grade local baiana que promovem as raízes da cultura baiana. E a exibição desse conteúdo, que muitas vezes substitui algumas programações nacionais, é fundamental para que os telespectadores sejam atingidos por algo que representa sua realidade. “A proximidade de temas ligados às pessoas é um valor que carregamos, pois estamos contando histórias reais, que pode ser seu amigo ou vizinho. É uma preocupação da Rede Bahia”, finalizou a produtora.
Aldri completa que a real sensação de fazer parte do Conversa Preta será quando for ao ar e entre em contato com a população: “Estamos dados passos certos para levar sujeitos negros para a TV. Um encontro potente, onde torço para que negros e não-negros sejam impactados por esses resultados positivos à sociedade”.