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Conheça o Ilê Oba L'Okê, terreiro declarado patrimônio em Lauro de Freitas

Acervo da casa é rico em esculturas e objetos rituais

  • Foto do(a) author(a) Vinicius Nascimento
  • Vinicius Nascimento

Publicado em 11 de junho de 2021 às 06:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Imponente. Belo. Sagrado. Rico. Emocionante. Sobram adjetivos para definir o que se sente só de ver a fachada do Ilê Oba L'Okê. No meio de um bairro de classe média alta onde as coisas parecem tão iguais e comuns, surge o terreiro que foi declarado Patrimônio Histórico e Cultural de Lauro de Freitas nesta quinta (10) para enfatizar a herança africana. E isso é só a entrada, passando da porta para dentro, o universo que se abre diante dos olhos é profundo e inesquecível.

Trazer impacto é missão da casa fundada em 2002 e que desde 2004 se mudou para Villas do Atlântico. Sacerdorte do Ilê Oba L'Okê, o Babalorixá Vilson Caetano não esconde que gosta de utilizar o exagero saltando aos olhos: logo de cara, o que se vê é um pilar de 7,5m dedicado a Xangô. Uma das infinitas e, ainda, incontadas obras do artista plástico Rodrigo Siqueira, um dos fundadores do terreiro, que explica o conceito daquela que ele acredita ser a maior escultura em homenagem ao orixá da justiça, dos raios, do trovão e do fogo."O pilar é a antena principal da casa. Traz a energia do céu e divide para dentro da casa. Ele tem uma fonte composta por quatro bacias incrustadas com pedras preciosas e conchas que representam os rios Ogum, Níger, Oxum e Obá. Essas bacias têm esculturas de Yemanjá, Oyá, Oxum e Obá. Mãe e as três mulheres de Xangô. Juntas, elas o sustentam. Xangô é quarto Rei de Oyó e seus sacerdotes foram responsáveis pela consolidação do candomblé de origem yorubá aqui no Brasil", explica.O Ilê Oba L'Okê também é conhecido como  Casa do Rei e Senhor das Alturas e é composto por nove espaços, todos inspirados por Oxum, que é a rainha das águas doces. O pilar de Xangô está no barracão, que é o espaço onde se desenrolam as festas públicas nos Terreiros de Candomblé. É nele que os orixás, em dias especiais, recebem as pessoas. Barracão com a escultura gigante de Xangô no pilar central (Foto: Paula Fróes/CORREIO) O barracão está sob a guarda de Bara Ojunilê, uma das invocações de Exu que significa "aquele que olha, vela e toma conta da casa". Há uma escultura do lado direito de quem entra na casa com cerca de 2m, trazendo  nas mãos um ogó, espécie de bastão ou porrete, um dos símbolos de Exu.

Quem entra no barracão também vê uma série de esculturas de Oxoguiã sobre um cavalo nas colunas e diversas máscaras africanas. A cadeira principal, onde fica o babalorixá da casa tem camaleões laminados com folhas de prata. Pai Vilson Caetano senta-se ao lado de duas esculturas: uma de Ogum e outra de Oyá, orixás de sua avó e tia - mulheres que o iniciaram no candomblé na cidade de Valença, onde nasceu.

Atrás de sua cadeira, está o painel que é tido como o mais importante da comunidade e celebra a maior festa da casa: a festa do pilão. A festa do pilão é em homenagem a Oxaguiã, a versão jovem de Oxalá, que é um orixá apaixonado por inhame.  Casa de Oxalá e Oxum na Alameda dos Orixás (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Praça de Obaluayê

O barracão tem duas saídas. Uma delas, à direita de quem entra, dá acesso à Praça de Obaluayê, que é chamada assim porque é o local onde acontece anualmente a cerimônia dedicada a ele e a sua família, chamada Olubajé. 

A praça tem três casas, uma delas é a Casa de Exu, que ficou de porta fechada. Um dos filhos de santo explicou que ele é "um tanto serelepe" e por isso o acesso é restrito. No entanto, há outras casas na praça com orixás mais abertos ao contato com pessoas: o Ilê Odé ou a “Casa dos caçadores” que abriga os orixás Ogum, Odé e Oyá; e a Casa de Obaluayê, onde moram com ele: Oxumarê, Nanã e Ossain. A casa possui uma fonte consagrada a Nanã e Oxumarê. As águas saem de conchas, caem numa bacia e retornam num fluxo infinito. 

"A frente do templo de Obaluayê é coberta por trepadeiras que o protegem de olhares curiosos", disse Rodrigo.

Casa dos búzios/Conselho

Saindo da praça, passamos novamente pelo barracão e posicionado ao lado dos atabaques está a Casa do Conselho, ou o quarto dos búzios. É lá onde o merindilogum (jogo de búzios) é lançado para se saber a vontade dos orixás. O quarto do jogo abriga o ojubó de Ajê Xalunga. Ajê é a irmã mais nova de Yemanjá e filha de Olokum. Uma máscara de Olokum, laminada com folhas de ouro, faz parte do assentamento de Ajê, Orixá do dinheiro e do comércio.

Alameda dos Orixás

A outra saída do barracão dá acesso à “Alameda dos Orixás”, um espaço acessado por uma pequena rampa. A alameda é uma espécie de corredor que faz a ligação entre a parte de dentro do terreiro. Nela, há cabeças de elefantes, sob esculturas de guerreiros e guerreiras africanas, além de telas dos orixás, pintadas a óleo por Rodrigo Siqueira.

Há dois guerreiros e duas guerreiras. Rodrigo Siqueira explica que a ideia dessas esculturas é mostrar que as orixás femininas também são caçadoras, não apenas Oxóssi, que é o orixá da caça, da fartura e do sustento.

No final da alameda, há mais três casas. A de Xangô abriga o anfitrião e Yemanjá, que é cultuada em torno de uma fonte ladeada por esculturas que representam Odô, os rios, e Ossá, as lagoas. 

A Alameda dos Orixás dá acesso também à Casa de Oxum e à Casa de Oxalá, que são geminadas. Na frente dessas casas, há duas máscaras, de dois metros por 50 centímetros, trazendo inscrições dos odus Ejionile, Ofun, Oxê e Obará.

Na Casa do Rei e Senhor das Alturas, Oxum é adorada numa fonte formada por águas que descem em forma de cachoeira, que saem de conchas e percorrem caminhos desviados por pedras semipreciosas. Oxum, no Ilê Oba L´Okê, é representada por uma sereia grávida.   Filhas de santo do Ilê Oba L'Okê (Foto: Paula Fróes/CORREIO) As águas da fonte de Oxum vieram do rio que tem o nome da orixá e foram recomendadas pela princesa Adedoyn Talabi Faniyi, quando o babalorixá Vilson Caetano e Rodrigo Siqueira estiveram em visita à cidade de Oxobô, capital do estado de Oxum na Nigéria.

Por fim, a principal casa do Ilê Obá L'Okê: a casa de Oxalá. É dela que se preside o culto aos chamados orixás das alturas ou Orixá N´lá, e de onde sai anualmente a Procissão do Pilão, principal evento da casa.

A Festa do Pilão rememora a história de Ejibô, um dos nomes de Akinjole, fundador do terreiro. É a última festa de um ciclo que se desenrola durante dezesseis dias chamado “Águas de Oxalá”. Durante este período, a casa se cobre toda de branco e, sob um alá estendido na porta de entrada, celebram-se Oduduwa, ancestral fundante dos yorubás, Obatalá e Oxoguiã, ao lado de outros como Orixá Okô e Yemowo.

Cozinha

Um dos lugares de acesso restrito da casa. Fica no finalzinho da Alameda dos Orixás, logo ao lado direito. A cozinha é aberta às pessoas de fora uma única vez por ano. Sim: a cozinha tem sua festa própria, a Festa da Cozinha, que abre o calendário das Festas do Ilê Obá L´Okê.

Axé e Ibó

São dois lugares classificados como de extremo segredo. O Axé fica atrás da casa de Xangô. Lá é onde são iniciadas as pessoas. Já o Ibó é onde acontece o culto para os antepassados.