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Confinamento de jumentos para abate é proibido em Itapetinga

Sem guia de trânsito, animais morreram durante viagem e foram desovados

  • Foto do(a) author(a) Mario Bitencourt
  • Mario Bitencourt

Publicado em 1 de novembro de 2018 às 03:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Divulgação/Adab

Depois de mais um caso de maus-tratos a jumentos, registrados nesta segunda-feira (29), a cidade de Itapetinga, no Sudoeste da Bahia, não poderá mais confinar animais deste tipo em propriedade alguma do município, por determinação da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab).

O diretor de Defesa Animal da Adab, Rui Leal, disse nesta quarta-feira (31) que a partir de agora os animais, que são oriundos de outras cidades da Bahia e de outros estados nordestinos, deverão ser levados diretamente para serem abatidos do Frigorífico Sudoeste, e precisam ter ainda a guia de trânsito animal (GTA).

“Vamos intensificar a fiscalização para que casos desse tipo não voltem a ocorrer”, disse ele, em referência aos nove jumentos encontrados mortos na segunda, numa estrada de chão em Itororó, cidade vizinha a Itapetinga. Os animais seriam levados para o abate no Frigorífico Sudoeste, mas morreram na viagem.

Os bichos estavam sendo confinados numa fazenda situada a 1 km de Itororó, mas no território de Itapetinga. O caso foi registrado pela Polícia Civil, que, após denúncias de populares, interceptou o caminhão dirigido por Fabian Cléber Silva Bahia, 44 anos, logo após ele deixar os animais mortos numa estrada de Itororó, a cidade da “carne do sol”.

O motorista, segundo a polícia, disse que saiu de Pernambuco e recolhia os animais em várias propriedades pelo caminho, e que tinha 4 dias de viagem. Além dos jumentos mortos, o caminhão estava com mais 53 bichos, todos sem comida ou água. O motorista será indiciado por maus-tratos aos animais, informou a polícia.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, na propriedade onde os jumentos estavam sendo deixados, do fazendeiro João Batista, havia 335 animais, sob os cuidados do chinês Xu Zhijini, 24, responsável por selecionar os que seriam abatidos. Um adolescente de 17 anos que dirigia um caminhão até o frigorífico foi apreendido na fazenda.

Mas segundo a polícia, quem ficava responsável por tudo mesmo era um homem de prenome Alexandro, que recebia os caminhões com jumentos e pagava os fretes, cujos valores não foram revelados. Alexandro, o chinês e o adolescente foram ouvidos na delegacia de Itororó na segunda e liberados. Eles não foram incriminados. A polícia acredita que Alexandro seja um “laranja”.

Já os animais, segundo a Adab, foram soltos na fazenda logos após inspeção do órgão estadual. A fazenda possui registro para confinamento de animais e possui estrutura de alimentação, contudo os jumentos estavam presos num curral quando os fiscais chegaram na fazenda e foram soltos para que se alimentassem.

A Adab, contudo, informou que eles serão levados para o abate nos próximos dias porque aparentam boa saúde e não oferecem risco de transmissão de doenças.“Além disso, o frigorífico tem sistema de inspeção federal, que avalia a qualidade da carne que foi abatida, então não isso não será um problema”, disse Rui Leal.Abate legal Em Itapetinga, o Frigorífico Sudoeste presta serviço de abate para a empresa chinesa Cuifeng Lee desde agosto. Estima-se que mais de 4 mil animais tenham sido abatidos desde então – o frigorífico estava fechado há um ano e foi reaberto apenas para abater jumentos, e, segundo a Adab, atua dentro da legalidade.

No início de setembro deste ano, a empresa chinesa foi multada em mais de R$ 30 mil por maus-tratos a cerca de 750 animais que estavam sendo amontoados na fazenda Barra da Nega, em Itapetinga. Centenas de animais morreram de fome e sede no local, muitos deles filhotes e fêmeas em trabalho de parto.

A Cuifeng Lee exporta a carne e o couro para o Vietnã. Segundo dados Ministério da Agricultura, que agrupa numa só categoria carnes de “cavalo, asinino e muar”, a Bahia exportou este ano para o Vietnã 1,28 mil toneladas de carne e couro desses animais, a US$ 2,5 milhões. Para Hong Kong, a exportação é de 24.420 quilos, por US$ 36.814.  

Mas o problema dos maus-tratos a jumentos na Bahia não tem se restringido somente a Itapetinga e Itororó, segundo a Adab. No estado, há outros dois frigoríficos que realizam abates de jumentos, um em Amargosa e outro em Simões Filho, os quais exportam carne e couro, respectivamente, para China e Hong Kong.

Segundo Rui Leal, são abatidos na Bahia por dia de 200 a 300 animais, nos três frigoríficos. O problema maior é com o transporte irregular dos animais, realizado sem a GTA, o que pode conferir risco a outros animais, caso o jumento esteja com alguma zoonose contagiosa.“Os jumentos são transportados por 400 a 500 quilômetros. Eles rodam mais à noite. Os animais ficam nos caminhões sem água ou comida, mas estamos de olho nisso, com mais fiscalizações”, explica Leal, que diz já ter comido uns “tira-gostos” de carne de jumento. “O consumo é só uma questão cultural”.Na Ásia, sobretudo na China, o apelo maior é para o couro do jumento, com o qual se faz uma gelatina usada pela indústria de cosméticos para fazer um produto que rejuvenesce e a pele e outro que, na crença dos chineses, seria um afrodisíaco, muito consumido sobretudo por mulheres.

De acordo com a Adab, a Bahia possui um plantel de 96 mil jumentos, declarados pelos produtores rurais. Mas estima-se que eles podem chegar até 200 mil. No Nordeste, a estimativa é que haja cerca de 800 mil jumentos.