Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Laura Fernades
Publicado em 2 de fevereiro de 2021 às 06:35
- Atualizado há 2 anos
Mãe, acolhedora, guerreira e forte. Iemanjá aparece de diversas formas nos trabalhos de artistas inspirados por sua história e parte disso pode ser visto neste 2 de fevereiro, quando acontecem shows, lançamentos de músicas e exposições sobre o tema em Salvador. Admiradores da rainha das águas salgadas contam como ela os inspira e dão dicas de filmes, livros e músicas para quem quiser celebrar Iemanjá. A fotógrafa Vânia Viana, 59 anos, por exemplo, não esquece de suas primeiras impressões. “Sempre me encantei com aquela imagem feminina de uma mulher bela, de cabelos longos, vestido de cor azul. Aquilo ficou impregnado da minha memória de criança”, lembra a artista paulista radicada em Salvador há 30 anos. Seu olhar sobre a homenageada está na exposição coletiva YèYé Omó Ejá. Foto de Vânia Viana na exposição coletiva YèYé Omó Ejá, em cartaz no Espaço Pierre Verger, no Forte de Santa Maria, na Barra (Foto: Vânia Viana/Divulgação) A mostra gratuita em cartaz no Espaço Pierre Verger, em Frente ao Forte de Santa Maria na Barra, reúne imagens de Vânia feitas no calor das festas do 2 de fevereiro. “Tem muita beleza, porque é uma festa especialíssima”, elogia Vânia, que estudou mais sobre a história de Iemanjá no livro Mitologia dos Orixás (Companhia das Letras), de Reginaldo Prandi. Foi aí que descobriu como a orixá está associada ao mito de criação do mundo. “Iemanjá, pra mim, é o arquétipo materno, a mãe primordial. É uma pena que algumas pessoas da sociedade não tenham condição de perceber sua força e acabe a reduzindo a um orixá ‘ligado a uma ceita’”, lamenta. “É nossa cultura, nossas origens. É uma força incrível e a gente vê isso no 2 de fevereiro”, reforça. Do mar Sempre que entrava sozinho no mar, o cantor Leandro Pessoa, 34, tinha o hábito de se benzer e cantar. Muitas vezes se percebia conversando e recebendo conselhos espirituais, experiência marcante que deu origem à letra da música Inaê, que será lançada neste 2 de fevereiro, no YouTube. “Iemanjá é mãe, acolhedora, mas também com uma dimensão de guerreira e de força, de quem não desacredita de seus filhos. Ela me acompanha e me protege. Desde então, sigo cantando. Como não vamos ter a festa, fui no sábado na praia do Rio Vermelho, cantei e senti o que é o essencial. Considero que essa foi a minha festa”, conta Pessoa, que assina a letra de Inaê em parceria com Weslei. Registo de Marta Suzi na exposição coletiva YèYé Omó Ejá, em cartaz no Espaço Pierre Verger, no Forte de Santa Maria, na Barra (Foto: Marta Suzi/Divulgação) A relação forte com o mar também acompanha a cantora Márcia Castro, 42, desde pequena. Baiana de nascimento, sempre ouviu as histórias de Iemanjá e cresceu “sabendo que no mar habita uma figura mitológica, uma sereia”. “Quando fui crescendo, fui entendendo com o candomblé aquele símbolo de força, do sagrado, do feminino, daquela mulher”, resgata Márcia. No contexto que se vive hoje, a cantora acredita que as pessoas precisam da força resiliente de Iemanjá, que não se deixa levar pelo desespero. “A gente precisa preservar essa resiliência e força que ela tem, ao mesmo tempo com acolhimento. Iemanjá é aquela mãe que dá bronca. É o que a gente precisa alimentar: força, fé e ternura ao mesmo tempo”, acredita. Uma das convidadas do Festival Oferendas, do Lálá Casa de Arte, Márcia escolheu as músicas A Lenda das Sereias, Canto ao Pescador e 2 de Fevereiro para reverenciar Iemanjá. O show, que conta com a participação de Margareth Menezes, está disponível no YouTube do Lálá.
Assim como Márcia, a fotógrafa Marta Suzi, 58, acredita que a fé é uma das características da homenageada que precisam ser ressaltadas nos dias de hoje. Da mesma forma, a doação ao outro merece atenção em sua opinião. Suas fotos, também disponíveis na Espaço Pierre Verger, mostram imagens desse universo captadas ao longo dos anos na festa de Iemanjá. “Todos os registros têm uma visão poética, mostram sempre a delicadeza do ofertar. As flores oferecidas, as mãos conduzidas... São mãos que se abraçam. Vejo gente que reza, corações que fazem entregas, mentes que agradecem. Uma explosão de emoções muito grande”, resume, emocionada. Essa mulher mitológica que é “sinônimo de maternidade, doação e fertilidade” tem muito a ensinar, acrescenta. “Entendo que há algo que tem que ser nutrido: a fé. É inconteste, soberano, seja da forma que for processada essa fé. A gente precisa acreditar, esperançar. Esperançar é a palavra de ordem”, acredita. “As águas vêm, dão um banho e há uma urgência no banho daquelas águas. É a renovação, é quando o ano de fato se anuncia e se renova a esperança dando um sopro de vida”, conclui. Mais sobre Iemanjá Livro Mitologia dos Orixás (Companhia das Letras), de Reginaldo Prandi Documentário Festa de Iemanjá, com roteiro e direção de Fabíola Aquino - Disponível no canal do YouTube da Fundação Gregório de Mattos Música O Mar Serenou, de Clara Nunes – Disponível nas plataformas digitais Livro Iemanjá A Grande Mãe Africana Do Brasil (Pallas), de Armando Vallado Serviço Exposição YèYé Omó Ejá Galeria Fragmentos - Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana Forte de Santa Maria, Porto da Barra Diariamente Gratuito Festival Oferendas Ao vivo: Terça-feira (2), a partir das 15h Programação do primeiro dia disponível no https://www.youtube.com/user/lalamultiespaco Lançamento da música Inaê Terça-feira (2), no YouTube (https://youtu.be/VdPaezQ_L04)