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Vinicius Nascimento
Publicado em 28 de julho de 2022 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Richardsson é um rapaz como outros tantos, que termina a escola e vive o dilema de não saber exatamente o que fazer, mas precisa correr atrás porque a vida não dá muito espaço para rapazes negros e suburbanos pensarem demais. O personagem vivido por Lucas Koka Penteado, aquele mesmo ex- BBB, no filme Barba, Cabelo & Bigode por dar um tom leve e bonito a uma história de vida que milhares de jovens estão vivendo agora.>
O filme é o primeiro longa-metragem dirigido por um outro ex-BBB, Rodrigo França, e estreou na Netflix nas primeiras horas desta quinta-feira (28), já deixando como marco que está enegrecendo os quadrinhos da plataforma de streaming.>
Com um elenco recheado de estrelas que um dia foram jovens guerreiros negros de alma leve, o filme tem uma narrativa gostosa de acompanhar e enredo conduzido no dilema de Richardsson - um talentoso barbeiro que dá o grau nas pessoas de sua comunidade e tenta convencer sua mãe de que o trabalho dele tem sua beleza e já mudava a vida de muita gente. Dentro e fora de casa."A gente trabalha com signos e símbolos. Falar sobre narrativas a partir de construções de sujeitos, valores sociais difundidos no cinema, na novela. Se eu coloco, num filme, que um determinado cabelo é bonito, tem milhares de pessoas que vão acreditar nisso", disse Rodrigo França que também é escritor, cientista social e diretor de curtas e documentários. Rodrigo e Lucas nos bastidores de gravação do filme (Foto: Divulgação/Netflix) Black Power>
De acordo com o Google, a busca por informações sobre cabelos afros cresceu 309% entre 2019 e 2021. Com cada vez maior adesão, assumir os cachos é uma das mudanças que tem promovido o empoderamento dos negros na sociedade. Levar isso para as telas do cinema, ou das TVs de casa, é a maneira que o diretor e seu elenco encontraram de valorizar essa característica tão marcante das pessoas negras.>
"O cabelo é um código enorme que nós temos quando você fala de periferia, subúrbio e negritude. Ele que tantas vezes foi preterido, modificado. Trazer isso é um elemento de força, de poder", conta Rodrigo.>
A resistência de dona Cristina (Solange Couto) em deixar o menino trabalhar com cabelo está em seu próprio ofício. Ela é dona do Saignon, um salão de beleza que fica no bairro carioca da Penha e tem outras expectativas para o filho - que passam longe do empreendimento familiar.>
Precisando de ajuda para pagar as contas e dar conta de tudo, ela aceita a proposta do filho em começar a ajudá-la no ofício. Enquanto realiza seu sonho, o rapaz se mete em confusões tão incríveis de acompanhar quanto os cortes de cabelo que ele sai fazendo nas cabeças do Rio de Janeiro: que vão de traficante a policial.>
Além de Solange e Lucas, o elenco conta com nomes como Juliana Alves, MC Rebecca, MV Bill, MC Carol, Yuri Marçal, Jeniffer Dias, Sérgio Loroza, Neuza Borges, Luana Xavier, Xando Graça, Nando Cunha, Bruno Jablonski e Leandro Santanna. Leticia Prisco assina a codireção do filme roteirizado por Anderson França, Marcelo Andrade e Silvio Guindane.>
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É importante citar cada um dos nomes e perceber que a maioria deles são negros. Rodrigo França estima que 85% da equipe, à frente e atrás das câmeras, foi formada por pessoas negras e que viveram realidades semelhantes ao que a produção mostra na tela.>
Isso pode parecer bobo ou até caxias, mas quando se olha os últimos dados da Ancine, publicados há 6 anos, de que somente 2,5% dos profissionais de roteiro do Brasil eram negros àquela ocasião, é possível construir uma noção mais sólida da importância de se enegrecer um filme por completo.>
"Acredito que as produções estão começando a entender sobre a relação de narrativa, de qual caminho mais digno da escrita, da direção em determinadas temáticas. Falaram que tem um filme que é a minha cara pela minha luta, minha vida. O filme tem um discurso que a gente vivencia em Salvador, em Plataforma, na Maré, no Rio. Ele fala sobre morro, periferia, favela, família", acrescenta Rodrigo França.>
Todas essas palavras-chave traduzem bem a ideia do filme, que, como supracitado, vai enegrecer os quadrinhos dos filmes e séries oferecidos pelo Netflix. É uma produção bem-feita, principalmente por cumprir bem o papel de tornar o cotidiano de milhares de brasileiros suburbanos em algo extraordinário e coisa de cinema. >