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Priscila Natividade
Publicado em 25 de outubro de 2020 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
Hora do recreio virou break. Ao invés de ler sua resposta, compartilhe a tela. Clique no link. Te vejo no Zoom? A necessidade de adoção do ensino remoto na pandemia acelerou as transformações tecnológicas na educação, ao migrar a sala de aula presencial para o digital. Após mais de seis meses, o que a gente pode dizer é que a tecnologia na educação veio de vez e que ela vai ficar.>
O ensino híbrido é só uma das principais mudanças que devem permanecer nas escolas em 2021. As plataformas digitais de educação, aula invertida, professores inovadores e atividades mais diversificadas também são um caminho sem retorno.>
“As escolas que avançaram nas metodologias ativas, desenvolvimento de competências com apoio das tecnologias digitais estão prontas para implantar modelos híbridos adequados a cada nível de ensino e situação”, diz o professor da USP (Universidade São Paulo) e designer de ecossistemas inovadores na Educação, José Moran.>
No Colégio Marízia Maior, em Stella Maris, além da aposta na construção de estúdio para gravação de aulas e adequação das salas para transmissões ao vivo, a direção vai usar Big Data para gerenciar dados. “Isso vai permitir que a gente entenda o perfil de nossos alunos e possa oferecer um ensino mais inovador”, afirma o coordenador de projetos, Gabriel Tarrão.>
A Pan American School of Bahia (PASB), em Patamares, vai manter para o ano que vem o uso de todas as plataformas digitais adotadas, como garante a diretora do Programa Brasileiro da PASB, Andréa Basílio. “Essas plataformas são o Power School e Unified Classroom, SeeSaw e Google Classroom. Os investimentos agora estão ligados à preparação dos professores e em soluções tecnológicas para atender ao ensino híbrido”, pontua.>
A professora Luiza Sampaio é mãe de Alice, 14 anos, e Tomás, de 12. Apesar de os filhos terem se adaptado bem às aulas remotas, as escolas precisam buscar alternativas que melhorem o envolvimento na aula.>
“São 100, 120 crianças em uma mesma aula. A sala ficou gigantesca e o professor não tem como dar uma atenção mais direta ou envolver todo mundo. O desafio de fazer uma aula mais interativa é uma das grandes questões que eu vejo para o ano que vem”. O que a sua filha Alice mais gostou no ensino remoto foi poder fazer as provas de forma virtual. “Respondo às questões com mais calma e me sinto mais segura em casa, com menos pressão”, conta. Mãe de Alice e Tomás, Luiza Sampaio acredita que o desafio das escolas é tornar as aulas online mais interativas (Foto: Acervo Pessoal) A gerente executiva de Educação e Cultura do Sesi Bahia, Clessia Lobo, admite que, mesmo com o retorno das aulas presenciais, o ensino não será o mesmo. “Instituímos até a sala de professores virtual para viabilizarmos o respiro que precisam entre uma aula e outra”, diz. >
No Colégio Antônio Vieira, a diretora acadêmica, Ana Paula Marques, diz que toda a comunidade aprendeu a se apropriar de conteúdos e a produzi-los sem precisar de tanto papel.>
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Não é fácil ter que conectar três computadores (ou tablets) em tempos distintos. Mas os pais de Maria, 8 anos, Tito, 7, e Bia, 4, conseguiram. “Hoje as crianças estão plenamente adaptadas, experts no uso das plataformas de ensino, consolidando esse aprendizado mesmo que remotamente”, opinam o casal Simone e Ricardo Didier. >
CINCO MUDANÇAS QUE PERMANECEM EM 2021>
1. Escola híbrida >
O ensino passa a ser presencial e on-line também, mesmo que haja a liberação de reabertura das escolas, a sala de aula on-line não vai deixar de fazer parte da rotina.“Assim, teremos uma situação híbrida que obrigará a escola a se tornar ‘ampliada’: funcionando presencialmente, com atendimento reduzido por questões de segurança sanitária — e remotamente”, antecipa a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Karina Menezes.O professor da USP (Universidade São Paulo) e designer de ecossistemas inovadores na Educação, José Moran, concorda. “Propor modelos híbridos possíveis e valorizar o bom de estarmos juntos com a flexibilidade do on-line”.>
2. Plataformas digitais >
Ferramentas como o Google Sala de Aula, Google Meet, Moodle, Zoom, Teams, além dos aplicativos gameficados — entre eles o Kahoot, Mentimeter, Scrumble, Nearpod —, se popularizaram bastante na pandemia e não devem ficar de fora do processo educativo daqui para frente, após tornarem o ensino remoto possível na pandemia. Porém, o acesso à Internet e a estes recursos terão que ser mais inclusivos, como destaca o professor da USP José Moran.“Antes, nós queríamos resolver tudo na sala de aula presencial. Vamos precisar de políticas públicas de apoio a plataformas abertas, recursos educacionais abertos e disponíveis para todos para minimizar a brutal desigualdade”.3. Aula invertida>
No modelo, os alunos recebem um roteiro de estudo antes de o conteúdo ser trabalhado pelo professor. Ainda segundo Moran, ano que vem, a personalização desses roteiros de atividades deve ser maior, assim como a autonomia dos alunos em todo esse processo de aprendizagem.“Os momentos presenciais terão maior ênfase na participação, realização de projetos, compartilhamento. Já as atividades on-line vão favorecer mais pesquisa, roteiros personalizados, projetos mais longos. Ou seja, podemos ensinar de maneira mais ativa, com os estudantes sendo mais pesquisadores (no on-line) e mais participativos, resolvendo problemas (no presencial)”, analisa o especialista.4. Professores inovadores>
Não é mais uma opção para o professor dominar o uso de tecnologias na educação. É uma necessidade. “Muitas destas transformações foram impostas por um cenário de medo, de incertezas e de perdas trazidas pela pandemia. Os professores e professoras foram exigidos demais nesse momento. Mesmo assim, houve força de vontade, solidariedade e novas experimentações", defende a professora da Faculdade de Educação da Ufba Karina Menezes. O que precisamos ter clareza como educadores é que não podemos mais nos furtar de compreender ainda mais o poder das tecnologias nas nossas vidas e na vida de nossos aprendizes”, complementa.5. Atividades mais diversificadas >
Os alunos devem ter ainda mais acesso às atividades com maior uso de vídeos e recursos como murais digitais, aplicativos de games e participativos, como complementa o professor da USP José Moran:"Os aplicativos digitais são versáteis e se adaptam às diversas situações e necessidades. O que gestores, docentes, alunos e pais perceberam é que a escola pode ser mais flexível, pode-se aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e de múltiplas formas. Bons docentes, aprendizagem ativa e flexível com tecnologias e plataformas digitais interativas são uma combinação fantástica para ensinar e aprender daqui em diante”.>