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Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 15:52
- Atualizado há 2 anos
Uma das testemunhas sigilosas ouvidas na primeira fase da audiência do caso Daniel, jogador de futebol brutamente assassinado em São José dos Pinhais, no Paraná, afirmou que ouviu Cristiana Brittes falando para a filha: "Não deixem matar ele aqui dentro de casa". Cristiana, a filha, Allana Brittes, e o marido, Edison Brittes, estão presos acusados de envolvimento com a morte do jogador. Edison confessou o crime e alegou que agiu tomado por forte emoção por flagrar Daniel tentando estuprar sua esposa.
A Justiça do Paraná divulgou alguns vídeos com os depoimentos colhidos nessa primeira fase da audiências, que aconteceu entre segunda e quarta. São 77 testemunhas ao todo e os depoimentos só serão retomados em abril.
A testemunha - não identificada, como as demais - acrescentou que depois da frase de Cristiana, ainda ouviu a resposta da filha. "Daí a Allana olhou pra ela (Cristiana) e falou: 'Mãe você sabe como é o pai', e saiu". Para a testemunha, a frase de Cristiana não é um incentivo ao crime. "No meu ponto de vista, não. Eu sentei lá. Fiquei chocada. Sem saber o que fazer", contou.
Outra testemunha ouvida também citou uma frase que ouviu de Cristiana no dia do crime. "Não deixa seu pai fazer isso dentro da minha casa. Você sabe como ele é", teria dito Cristiana segundo esta outra versão. Também para essa testemunha, Cristiana não disse a frase para incentivar que o marido matasse Daniel. "No meu ponto de vista, não".
Uma terceira pessoa relatou que dois dos homens que estavam na casa tentaram impedir as agressões contra Daniel, mas não conseguiram. "A Stephany foi tentar chamar o Samu, e o Edison mandou todo mundo fazer nada e ficar quieto", contou a testemunha, lembrando que uma convidada tentou acionar socorro para o jogador.
Uma quarta testemunha contou que quatro pessoas agrediram Daniel na casa e que Edison estava muito alterado e com raiva do jogador. "O Edison falava: 'olha, o cara tava estuprando a minha mulher'", lembrou.
Últimos momentos do jogador
Os últimos a depor nessa fase foram os policiais que investigaram a morte de Daniel e fizeram o inquérito do caso. Eles deram detalhes sobre os momentos finais do jogador, que depois de ser espancado na casa dos Brittes foi levado de carro para uma área de matagal.
O investigador Marcelo Brandt afirmou que o trajeto da casa até o local em que o corpo de Daniel foi encontrado durou 30 minutos. "Fizemos a identificação dos envolvidos na violência na casa. Brittes põe Daniel no carro e os outros entram no carro. Eles foram em direção ao pedágio, mas lembraram que tem câmera de segurança e procuraram um lugar ermo na Borda do Campo. No caminho, Daniel pedia desculpas, socorro. Brites e companhia o ameaçavam", contou.
Brandt disse ainda que embora os laudos sejam inconclusivos quanto à ordem, ele acredita que Daniel ainda estava vivo quando teve o pênis decepado. "Ele foi, na minha opinião, emasculado vivo, pois o sangue foi projetado para longe do cadáver. Segurado de pé e emasculado na rua".
Já o investigador Izaudino dos Reis disse que Daniel foi agredido dentro e fora da casa da família. "Cristiana falou que o rapaz invadiu o quarto onde ela dormia. Ele foi espancado fora de casa também e o Lucas Mineiro reconheceu os agressores via foto. Edison e mais três entraram no carro. O Edison intimou o pessoal para ir na base do 'quem é homem vem comigo'. Ele disse que segurou pela cabeça e passou a faca e que depois cortou a genitália. Deve ter alguém que segurou para cortar, como teve gente para ajudar a colocar dentro do carro", depôs.
Ele foi o único que foi pessoalmente ao local do crime quando o corpo foi achado e contou que havia muito sangue na região da cabeça da vítima, o que impossibilitou ver detalhes do ferimento. "O corpo estava atrás de umas samambaias. Ao fazer levantamento do corpo, verificamos no braço pulseira da boate Shed. O corpo não foi arrastado, não tinha resíduo de folha caída das árvores de pinus, indicando que corpo foi conduzido ao local", detalhou.
O inquérito concluiu que os outros suspeitos que estavam no carro, David Vollero, Ygor King e Eduardo da Silva, ajudaram a carregar o corpo de Daniel até o local em que foi achado.
Os dois investigadores também endossaram a visão das testemunhas, de que Cristiana não incentivou o crime. Ambos citaram a frase dela para o marido, dizendo que "não continuasse aquilo na casa dela"."Ela pediu para que não continuasse na casa dela. Eu perguntei para Cris e ela disse que 'esse menino destruiu minha vida'. Eu perguntei por que não chamou a polícia. Para mim, ficou claro que ela não conseguiu evitar. Eu perguntei por que não evitou, ela não soube responder", falou Brandt.Para Izaudino, a mulher não orientou ou coordenou o crime.
A audiência vai decidir se os acusados vão a júri popular. Até agora, a juíza Luciani Martins de Paula ouviu 14 testemunhas de acusação. Em seguida devem ser ouvidos as testemunhas de defesa e os réus, mas somente em abril, quando o processo for retomado.