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Ana Pereira
Publicado em 25 de setembro de 2021 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
Tem um ponto em comum entre a coleção da editora Companhia das Letras - que publicará os diários integrais da escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977) - e a megaexposição sobre ela que será aberta neste sábado (25) no Instituto Moreira Salles, em São Paulo: ambas se apoiam nos manuscritos da autora mineira que se tornou fenômeno literário nos anos 60 e deixou uma obra que aos poucos vai sendo revelada.
No caso de Carolina, os manuscritos são ainda mais relevantes. Tendo estudado formalmente por apenas dois anos, Carolina escrevia à mão nos famosos cadernos que registraram momentos de sua vida – da favela ao estrelato e posterior ostracismo – poemas, letras de música e reflexões sobre o país, família e a condição de uma mulher negra, solteira e mãe de três filhos. Foi um destes cadernos que caiu nas mãos do jornalista Adaúlio Dantas, que a revelou.
A coleção Carolina estreou com os volumes 1 e 2 do diário Casa de Alvenaria, que fala sobre a vida da escritora logo depois do sucesso alcançado com Quarto de Despejo, lançado em 1960 com repercussão imediata. O livro 1 descreve os três meses em que ela morou em uma casa arrajada em Osasco, São Paulo, assim que conseguiu deixar a favela e passou a levar uma uma vida de celebridade: muitas entevistas, lançamentos e contatos com políticos e pessoas conhecidas. O 2 fala de sua vida nos três anos seguintes, quando se fixou de vez na cidade.
Trechos destes diários já tinham sido publicados com o título Casa de Alvenaria (1961) mas agora o conselho editorial responsável pela publicação optou por ser o mais fiel possível ao original. A escritora Conceição Evaristo, que coordena a coleção ao lado de Vera Eunice de Jesus (filha de Carolina), explica a opção que têm dividido estudiosos e críticos.
“O Conselho Editorial entende que a inscrição e a incorporação sem ressalva da obra de Carolina Maria de Jesus se iniciam a partir do modo como são olhados e tratados seus manuscritos”. E mais, afirma que “parece haver má vontade para a compreensão semântica da fome contida na escrita de Carolina”. Por isso, a opção de respeitar sua maneira de lidar com as palavras, as construções frasais, falas populares, estilo de pontuação e afins.
“No caso de Carolina Maria de Jesus, o ato de escrever empreendido pela escritora amplia seu gesto para o de se inscrever no sistema literário brasileiro”, anota Conceição Evaristo. Já Vera Eunice diz que, se estivesse entre nós, ela “estaria feliz ao ver um de seus sonhos se concretizando: a publicação de seus romances, poemas, provérbios, peças teatrais, contos e diários tal qual escreveu”.
A mostra Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os Brasileiros leva o nome de um dos livros da escritora e, entre as 300 peças que apresenta, espalhou vários manuscritos para os visitantes chegar mais próximo do universo dela. A curadoria destaca que neste livro, a autora apresenta “pontos de vista de personagens que foram apagadas das narrativas oficiais, escritas majoritariamente por autores homens e brancos. Carolina faz assim um interessante contraponto aos cânones literários vigentes no Brasil”.
A seleção reúne fotografias, matérias de imprensa, vídeos e outros documentos. Inclui também obras de cerca de 60 artistas, que dialogam com os temas investigados por Carolina. A curadoria é do antropólogo Hélio Menezes e da historiadora Raquel Barreto.D ividida em 15 núcleos temáticos, a exposição ocupa o 8º e o 9º andar do IMS Paulista, com também no 5º andar, no térreo e na avenida Paulista.
Assim como boa parte da produção de Carolina, em seu processo de edição, o livro sofreu diversas alterações que desrespeitaram o texto da autora, a começar pela modificação do título original, Um Brasil para os Brasileiros, frase atribuída ao jurista e escritor Ruy Barbosa (1849-1923). No romance, Carolina rememora sua infância e juventude na cidade de Sacramento (MG), no período pós-abolição, enquanto reflete sobre as condições socioeconômicas da população negra.
A mostra fica em cartaz até janeiro de 1922. Para quem está fora de São Paulo vale dar uma olhada no site www.ims.com.br/colecaocarolinamariadejesus. Casa de Alvenaria - Volume 2 (59,90, 520 páginas) Casa de Alvenaria - Volume I (R$ 39,90, 232 páginas) STREAMING
Espetáculo inédito ‘Cura’, da Cia de Dança Deborah Colker, estreia no Globoplay Com estreia adiada por conta da pandemia, o espetáculo Cura, da Cia de Dança Deborah Colker, estreia hoje no Globoplay – ao vivo e com sinal aberto para não assinantes. Com criação, direção e coreografia de Deborah Colker, o espetáculo inédito conta com dramaturgia do rabino Nilton Bonder e trilha original de Carlinhos Brown. A transmissão do primeiro espetáculo de dança ao vivo na plataforma será realizada diretamente da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, e conta com direção artística de LP Simonetti, direção geral de Angélica Campos e direção de gênero de Boninho.
“É a primeira vez que eu vou fazer uma transmissão de um espetáculo de dança. Trabalhar com a Deborah Colker é uma honra. É super desafio e uma enorme responsabilidade criar essa linguagem junto com ela para a TV”, conta Simonetti. Após a live, o espetáculo ficará disponível na plataforma até o dia 2 de outubro. Cura trata de ciência, fé, da luta para superar e aceitar nossos limites, do enfrentamento da discriminação e do preconceito. Deborah Colker dedicou seu tempo, nos últimos anos, a buscar uma cura. No caso, uma solução para a doença genética que seu neto tem, a epidermólise bolhosa. Dessa angústia pessoal nasceu o novo trabalho da Cia. de Dança Deborah Colker, um espetáculo que vai muito além do aspecto autobiográfico. "A música veio na minha cabeça logo depois da primeira conversa com Deborah. Eu pensei: ‘Isso é um chamado, não é uma trilha normal’. É um trabalho muito mais profundo”, afirma Brown, que canta em português, iorubá e até em aramaico. Pela primeira vez nos 27 anos de companhia, os 13 bailarinos também cantam durante a apresentação. Nova coreografia da Cia Deborah Colker, Cura tem trilha de Carlinhos Brown (Foto: Léo Aversa/divulgação) Novidades musicais
Aldir Blanc inédito
Autor de alguns clássicos da MPB, Aldir Blanc deixou algumas composições inéditas quando morreu no ano passado, vítima d covid-19. O álbum Aldir Blanc Inédito (Biscoito Fino), lançado nesta sexta nas plataformas digitais, reúne grandes nomes da música brasileira, amigos e admiradores interpretando 12 canções inéditas. Em outubro, o álbum ganha edição física. Com arranjos de Cristóvão Bastos e produção musical de Jorge Helder, o projeto gravado de julho a agosto deste ano, estabelece uma transversal do tempo dos parceiros de Aldir. Vai de João Bosco (com quem fez diversos clássicos desde que se conheceram, na virada para 1970), passa por Guinga, Moacyr Luz e Cristóvão Bastos e chega a Alexandre Nero, último parceiro de Aldir. Entre os interpretes estão Maria Bethânia, Ana de Hollanda, Leila Pinheiro, Chico Buarque, Sueli Costa e Joyce.
A ideia do álbum surgiu quando Mary Lúcia de Sá Freire, viúva do compositor, voltou de uma viagem ao sul do país, no início deste ano. Determinada a rever sua nova jornada e honrar a memória de Aldir, Mary reuniu manuscritos, letras e poesias inéditas. Entre os intérpretes estão Maria Bethânia, Chico Buarque, Ana de Hollanda, Sueli Costa e Dori Caymmi. Estreia instrumental
O pianista baiano Marcelo Galter faz sua estreia solo em álbum com Bacia do Cobre - segundo disco lançado este ano pela gravadora Rocinante. Acostumado a colocar as suas teclas a serviço do Letieres Leite Quinteto, o músico reuniu as partituras de seis de suas composições e escolheu uma música pouco conhecida de Dorival Caymmi para registrar . O nome do disco homenageia a área de proteção ambiental onde ele cresceu, em Salvador, dos últimos remanescentes de Mata Atlântica na capital baiana. O disco também sairá em vinil.
A maioria das músicas foi composta especialmente para a formação com Luizinho do Jêje e Reinaldo Boaventura (percussões) e o irmão mais velho Ldson Galter (baixo) , exceto Bacia do Cobre, que existe há cerca de 7 anos, e a regravação de Temporali. O pianista fez as outras cinco : Cobra Coral, Galinha Pulando, Capricorniana, Prece e Lourimbau, para explorar as potencialidades de cada músico. "Venho tocando com esses rapazes há muito tempo e labutando na escolha desse repertório que me apresenta como solista", afirma Galter.
A capa traz a obra Parque dos Girassóis, de Genaro de Carvalho (1926-1971), pintor e pioneiro da tapeçaria moderna no Brasil.