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Da Redação
Publicado em 6 de dezembro de 2019 às 23:01
- Atualizado há 2 anos
Três itens foram responsáveis por boa parte da inflação oficial no mês de novembro, segundo os dados divulgados, nesta sexta-feira, 06, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): as carnes, a energia elétrica e os jogos de loteria.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,51% no mês, depois de ter ficado em 0,10% no mês de outubro.
“Este foi o maior resultado para um mês de novembro desde 2015, quando o IPCA ficou em 1,01%”, informou o IBGE, em nota. Foi também a maior inflação mensal desde abril (0,57%).
As carnes ficaram 8,09% mais caras, uma contribuição de 0,22 ponto porcentual para o IPCA. Os jogos de loteria, por sua vez, subiram 24,35% em novembro, o segundo maior impacto no IPCA, de 0,13 ponto porcentual.
Já a tarifa de energia elétrica aumentou 2,15%, contribuição de 0,09 ponto porcentual para o índice.
Como consequência, os grupos Alimentação e bebidas, Habitação e Despesas Pessoais responderam por 82% do IPCA de novembro. Com alta de preços de 0,72%, os alimentos contribuíram com 0,18 ponto porcentual.
O grupo Habitação teve elevação de 0,71%, com 0,11 ponto porcentual de impacto, e o grupo Despesas Pessoais avançou 1,24%, com contribuição de 0,13 ponto porcentual.
Os demais grupos com aumentos de preços em novembro foram Vestuário (0,35%), Educação (0,08%), Saúde e cuidados pessoais (0,21%) e Transportes (0,30%). Houve deflação em Comunicação (-0,02%) e Artigos de residência (-0,36%).
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Motivos para o aumento
Apesar da aceleração na inflação oficial do país, ainda não há pressão geral de demanda sobre os preços, afirmou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. Segundo ele, a alta no IPCA do último mês foi concentrada e cada um dos três grupos com maior pressão de preços teve um fator principal de alta, apontou o pesquisador.
“Em alimentos foi a carne, por restrição de oferta. Em despesas pessoais e habitação foram reajustes administrados”, disse Kislanov. “Não teve tanto efeito de demanda especificamente, a demanda está relativamente estável. Apesar de os últimos resultados do PIB (Produto Interno Bruto) terem mostrado que o aumento no consumo das famílias vem sendo consistente”, completou.
O preço da carne deve continuar mais salgado nos meses iniciais de 2020. Isso porque para que os preços caiam, é preciso que a oferta de animais para o abate volte a aumentar, o que só deve acontecer depois de fevereiro, segundo os especialistas.
Com o aumento nas demandas de países como a China (+110%), a Rússia (+694%) e os Emirados Árabes (+175%) pela carne brasileira, aumentou também a pressão sobre os produtores.
Como consequência, o preço da arroba do boi gordo disparou, a carne subiu nos açougues e o consumidor correu atrás de outras fojtes de proteína como ovos, frangos e carne suína, levando, por sua vez, a uma alta nos preços desses produtos.
Seca na Austrália
O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior exportador do produto. Atrás do Brasil vem a Austrália no ranking de exportações de carne, mas o país, atualmente, vive uma das maiores secas de sua história, o que impactou na produção de gado.
Em terceiro lugar nas exportações estão os Estados Unidos, mas Donald Trump, presidente dos EUA, está em guerra comercial há meses com Xi Jimping, o presidente chinês. País mais populoso do planeta, a China também é o principal consumidor de proteina animal.
Após um surto de peste suína africana e da morte de 7,5 milhões de porcos em toda a Ásia, os chineses ficaram sem a sua principal fonte de proteína animal, justamente a carne suína.
Atualmente 102 indústrias brasileiras estão autorizadas a vender carne para a China: 16 de suína, 48 de frango, 37 de bovina e 1 de carne de asinino (jumento).
Atraso no confinamento
O aumento no preço da carne no Brasil pode ainda ser associado a uma estratégia dos pecuaristas, que para dimunuir custos de produção atrasaram o período de confinamento do gado, quando os animais entram em dieta de engorda antes do abate.
Com o gado mais tempo no pasto, houve atraso da chegada dos animais aos frigoríficos. A arroba do boi gordo, que nos dois primeiros quadrimestres do ano, custava entre R$ 150 e R$ 160, disparou para R$ 220, em novembro, quando mais frigoríficos brasileiros foram certificados para exportar para a China.
Outro fator que pode explicar o aumento da carne no Brasil, além da alta de exportações, é a desvalorização do Real frente ao Dolar, dizem os analistas do IBGE.
Inflação de serviços
A inflação de serviços passou de 0,19% em outubro para 0,20% em novembro, dentro do IPCA. A taxa de inflação de serviços acumulada em 12 meses desacelerou do aumento de 3,61% em outubro para 3,39% em novembro. Já os preços de bens e serviços monitorados pelo governo saltaram de um recuo de 0,11% em outubro para alta de 0,97% em novembro. A taxa de inflação de bens e serviços acumulada em 12 meses pulou de 2,21% em outubro para 4,24% em novembro.
Entenda porque a carne está mais cara:Demanda da China - Um surto de peste suína africana matou milhões de porcos na Ásia. Com isso, a China aumentou a quantidade de carnes, principalmente a bovina, compradas do Brasil;
Arroba mais cara - Com a alta nas exportações da carne para a China, o preço da arroba (uma arroba equivale a 15 quilos) do boi gordo disparou por conta da especulação;
Procura-se um bezerro - A alta na demanda por carne bovina brasileira está maior que a oferta de bezerros, o que levou o preço deles a aumentar;
Substitutos - Com o preço da carne bovina mais salgado, o consumidor passou a comprar outras proteínas como frango, porcos e ovos, o que levou a alta dos preços desses produtos;
Principal exportador - O Brasil é o 2º maior produtor de carne bovina no mundo e o principal exportador. Além da China, a demanda por carne do Brasil também aumentou na Rússia nos Emirados Árabes.