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Daniel Aloísio
Publicado em 19 de maio de 2020 às 17:00
- Atualizado há 2 anos
A chuva que caiu na manhã desta terça-feira (19), em Salvador, não impediu que a Rua Hélio Machado, na Boca do Rio, e as avenidas Sete de Setembro e Joana Angélica, no Centro, tivessem um visível aumento de movimentação. É que hoje é o primeiro dia de suspensão das medidas mais restritivas de circulação, que estavam em vigor nesses locais. >
Isso significa que a circulação de carros voltou ao normal e que qualquer loja de até 200 metros quadrados pode voltar a funcionar. Isso inclui os vendedores ambulantes, que puderam montar suas barracas após ficarem oito dias em casa, cumprindo isolamento social. >
Estabelecimentos de vários tipos voltaram a funcionar nos dois bairros: roupas, variedades, instrumentos musicais, doces, tecidos e utilidades do lar são alguns dos segmentos que estão de portas abertas. O sentimento dos comerciantes era um misto de alegria por poderem voltar ao trabalho e preocupação, por não se resguardarem em casa. >
"Queria que aqui ficasse vazio como estava antes, mas em casa tinha o medo de perder o emprego", disse o segurança Aldo Sérgio, 51, que atende a algumas lojas da Rua Hélio Machado. “O movimento está começando a voltar ao normal, mas não é nada comparado a antes. Aqui era uma muvuca”, lembrou. A chuva não impediu que as pessoas saíssem de casa na Boca do Rio (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A comerciante Emily dos Santos, 21, que trabalha há dois anos no segmento de vestuário, admite que preferia estar em casa nesse período. "Meu sentimento é de aflição por saber que algumas pessoas não estão respeitando o isolamento social. Estamos lidando com clientes, com dinheiro e fica o medo de ser contaminada", disse. Apesar disso, ela também demonstrou preocupação com a questão econômica."Essa angústia se estende também ao futuro da loja. Agora, o que as pessoas estão menos comprando são roupas. São João é um período que vendíamos muito, por exemplo", lembrou. Para o aposentado Raimundo da Hora, 65, a volta do comércio é algo positivo, pois ele pode comprar o que precisa. “Hoje mesmo eu vim comprar alimentos. Antes, várias lojas estavam fechadas e é um pouco triste”, disse ele, que admitiu que não tem sido responsável no cumprimento das medidas de distanciamento social. “Tenho saído de casa pelo menos umas cinco vezes na semana”, completou. >
Mercado informal Na Avenida Sete e na Joana Angélica, onde ferve o comércio informal da cidade, ambulantes comemoraram a possibilidade de voltar a trabalhar na região, mas lamentaram o fraco movimento. Houve gente que só conseguiu vender a primeira mercadoria às 10h30, como é o caso do vendedor de salgados Antonio Carlos, 58. >
“Me sinto angustiado, pois a gente trabalha aqui é para sobreviver. Em casa, parado, só vendo as contas chegar, não dá certo”, disse o morador do Dois de Julho. Vivendo sozinho e de aluguel, seu Antonio carrega diariamente a mercadoria da sua casa até a frente do Shopping Center Lapa, onde vende seus salgados. >
Seu colega de trabalho, José Roberto, 41, explicou que alguns setores do mercado informal são mais afetados do que outros. “Quem vende água e alimentos, por exemplo, fica mais prejudicado do que eu, que vendo produtos tecnológicos, porque os produtos deles podem estragar. Graças a Deus, a minha área não é muito afetada, pois as pessoas têm consumido tecnologia nesse período. Minha venda é praticamente a mesma de antes", disse. >
Por não ter cumprido a determinação da prefeitura de ficar em casa nessa semana de medidas mais restritivas no bairro e ter buscado outras formas de vender seus produtos, Roberto disse que não buscou a cesta básica que foi fornecida para os ambulantes pela Secretaria de Ordem Pública (Semop). “Tenho colegas que precisam mais do que eu nesse momento”, confessou. >
Roberto não usava a máscara corretamente enquanto falava com a reportagem. Vale lembrar que todos os ambulantes e feirantes devem usar o equipamento de proteção individual, além de terem álcool em gel 70% e obedecer a distância mínima de dois metros entre as barracas. Para o comércio formal, valem as regras gerais anunciadas para toda a cidade (veja mais abaixo). Marcas no chão foram estabelecidas para separar os ambulantes e feirantes (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) O aposentado Antonio Franco, 65, que mora na Avenida Sete, ficou feliz com o fim das medidas restritivas no bairro. “Tinha que voltar, pois o Centro é um espaço grande e dá para mantermos um distanciamento social. É só termos ordem”, disse, a caminho de uma farmácia e garantindo que está saindo pouco de casa. >
Já para o gari Gabriel Reis, 28, que trabalha no local, a volta do comércio o preocupa. “Com os dias, acho que o movimento aqui vai aumentar ainda mais e, assim, aumenta o risco de eu ser contaminado”, disse. Reis já encontrou máscaras no chão do bairro, o que pode ser um foco de contaminação. “Tenho que manter a máxima distância para conseguir coletar o material com a vassoura e a pá, para depois colocar no lixo”, afirmou. >
Outros bairros Ao contrário da Boca do Rio e do Centro, em Plataforma as ações restritivas e de proteção à vida seguem por mais sete dias. Sobre as restrições na Pituba, a definição se haverá continuidade ou não só será divulgada nesta quarta-feira (20). Nesta mesma data, ACM Neto determinou que haverá o início de restrições e ações de proteção à vida em mais três bairros: Lobato, Bonfim e Liberdade, áreas onde o número de casos da covid-19 preocupa, por ter apresentado forte crescimento em maio. Por isso, é necessário ampliar o isolamento social. >
Assim como em Plataforma, no Lobato, no Bonfim e na Liberdade os comércios formal e informal devem permanecer fechados entre os dias 20 e 26 de maio, com exceção de supermercados, farmácias, agências bancárias, lotéricas, estabelecimentos que fazem delivery, cartórios, repartições públicas, clinicas veterinárias, serviços de imagem e radiologia, atendimento de tratamento contínuo (oncologia, hemoterapia, hemodiálise) e laboratórios de análise clínica. >
A Prefeitura vai realizar, nesses bairros com medidas regionalizadas, testes rápidos para detectar pessoas com a covid-19, distribuição de máscaras, entrega de cestas básicas a ambulantes e feirantes, combate ao mosquito Aedes Aegypti e o projeto Cras Itinerante. >
Regras gerais para estabelecimentos autorizados a funcionar em toda a cidade: >
Manter a distância mínima segura entre as pessoas de dois metros, readequando espaços e realizando marcações em locais mais críticos, com formação de filas; >
Obrigatoriedade do uso de máscaras faciais, tanto para funcionários próprios e terceirizados quanto para os clientes; >
Disponibilizar kits de higienização à base de álcool em gel 70% ao longo do estabelecimento, em locais visíveis, de maior fluxo de pessoas; >
Exigir que clientes ou usuários higienizem as mãos com álcool em gel 70% ou soluções de efeito similar ao acessarem e saírem do estabelecimento; >
Disponibilizar kit completo para higienização nos banheiros; >
Antes, durante e após o período de funcionamento, reforçar a sanitização do ambiente, sendo que banheiros, superfícies de toque e meios de pagamento devem ser higienizados constantemente; >
Fica vedado a experimentação, testagem e/ou prova de produtos nos estabelecimentos; >
Fica vedado a prestação de serviços de manobrista. >