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Donaldson Gomes
Publicado em 7 de abril de 2021 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Em 2011, os primeiros dormentes começavam a desenhar o caminho das locomotivas que devem impulsionar o desenvolvimento da Bahia pelas próximas décadas. Após dez anos de uma longa viagem, com algumas paradas inesperadas, a sigla Fiol começa a ganhar vida. O primeiro trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste vai a leilão amanhã, às 14h, na B3, em São Paulo. Até 2035, a expectativa é que o trecho alcance movimentação anual de 50 milhões de toneladas por ano. >
O vencedor do certame ficará responsável por concluir os 25% finais da obra e operar o trecho por 35 anos, totalizando R$ 3,3 bilhões de investimentos. Desse total, R$ 1,6 bilhão será utilizado para a conclusão das obras, que estão com 80% de execução. Além disso, a concessão da Oeste-Leste vai permitir a criação de 55 mil empregos diretos, indiretos e efeito-renda ao longo da concessão nos próximos anos. >
A disputa pelos primeiros 537 quilômetros do corredor logístico entre o litoral de Ilhéus, no Sul, e Caetité, no Sudoeste, acontece com a garantia de pelo menos uma empresa interessada. Mineradora com um projeto pronto para produzir quase 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, a Bamin é apontada como a grande favorita para arrematar o trecho 1 da Fiol. Alguns analistas de mercado acreditam que a mineradora pode ser a única participante do leilão. >
Além da Bamin, figuram como possíveis interessadas a VLI, controlada pela Vale e maior operadora ferroviária do país, e a Rumo Logística, outra grande empresa do setor. Procuradas, todas as três empresas optaram pelo silêncio em relação ao leilão. A VLI respondeu que “como grande player do setor, a VLI avalia todas as oportunidades, mas prefere não comentar antecipadamente sobre nenhuma em específico”. >
A Bamin é a dona do projeto Pedra de Ferro, que produzirá quase 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, em Caetité, no interior da Bahia. Com a Fiol, a empresa vai escoar sua produção até Ilhéus e enviar o produto para o mercado externo pelo Porto Sul, que está sendo construído por ela e o governo da Bahia.>
Projeto amplo Para o ministro da Infraestrutura, o interesse da Bamin na operação da ferrovia é natural. Porém, acrescenta, o minério de ferro deve ser apenas um dos tipos de cargas que serão movimentadas. “No caso da Fiol, teremos um sistema com mina, ferrovia e porto, que é um clássico. Geralmente, como o minério de ferro está em alta e a gente tem uma mina importante, há um interesse por ter a conexão ferroviária. Obviamente, a ferrovia acaba sendo muito atrativa para quem é o dono da carga”, avaliou numa entrevista para a TV B3. “Mas é bom que se diga que é uma ferrovia de integração e este é o primeiro trecho”.>
O ministro acredita que a ligação entre a Fiol e outros trechos de ferrovia, como a Norte-Sul, e a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), vai fomentar a movimentação de grãos e também de cargas gerais. “Será um grande corredor de integração, que vai cortar a Bahia e Tocantins até a Norte-Sul e a Fico. De fato, é um projeto estruturante e que vai induzir novas cargas”, avalia. >
O secretário nacional de Transportes Terrestres, Marcello Costa, diz que a viabilização do projeto é mais importante que uma grande disputa. Para ele, o fato de haver pelo menos uma empresa interessada no projeto já representa uma vitória. “Qual é o interesse da administração pública? Não é a outorga. Quanto mais competidores tiver, maior a outorga”, diz. “Mas é um benefício pequeno quando comparado à possibilidade de transmitir para a iniciativa privada a obrigação de investimentos de R$ 3 bilhões. Vamos antecipar a conclusão do projeto sem onegar o orçamento da união”, ressalta.>
Ricardo Kawabe, gerente de estudos técnicos da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), acredita que o projeto integral da Fiol terá um grande impacto na economia brasileira. “Para a Bahia, este primeiro trecho já terá um impacto significativo. A ligação entre Caetité e Ilhéus já possui uma viabilidade econômica muito grande, com cargas disponíveis”, destaca Kawabe. “A gente aposta que isso vai dar um impulso grande para aquela região da Bahia”, projeta. >
Kawabe acredita que a conjuntura econômica não deverá ter grande impacto no resultado do leilão. "Felizmente quem atua neste mercado tem um olhar de longo prazo", diz. >
Infra Week Num ambiente de piora das condições econômicas e no meio da pandemia de covid-19, o governo marcou uma bateria de leilões de aeroportos, portos e ferrovia para esta semana, entre hoje e a próxima sexta-feira (dia 9). As ofertas da Infra Week (semana da infraestrutura) podem render até R$ 10 bilhões em novos investimentos. Porém, contando outros leilões previstos para o mês, os investimentos podem ultrapassar os R$ 20 bilhões.>
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, acredita que as concessões dos 22 aeroportos, cinco terminais portuários e o trecho da Fiol têm potencial para gerar 200 mil empregos diretos e indiretos. Ele projeta que todas as rodadas previstas para este ano devem permitir a geração de 2,9 milhões de postos de trabalho diretos e indiretos. E afirmou ainda que o objetivo do governo é arrecadar somente R$ 642 milhões em outorgas com a Infra Week. >
O secretário nacional de Transportes Terrestres, Marcello Costa, acredita que o momento econômico não deve trazer prejuízos para as concessões. Ele cita como exemplo o caso da Fiol, cujo prazo do contrato é de 35 anos. “Por mais que tenhamos um problema mundial, são investimentos de longo prazo. No caso da Fiol, falamos de 35 anos. Ultrapassam e muito período de uma crise mundial”, lembra. “Lógico que crise faz priorizar investimentos, mas isso é oportunidade. Quem tem projeto bom sai na frente. Dinheiro continua lá, disponível para a aplicação”, destaca Costa. >
Marcello Costa acredita que um evento como a Infra Week fará o Brasil chamar a atenção de um tipo diferente de investidor. “Você começa a chamar atenção para investidores que não vem ao Brasil para um ativo. Eles começam a olhar para fundos de logística”, avalia. “Essas empresas olham uma carteira de projetos”. >