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Da Redação
Publicado em 1 de janeiro de 2021 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
Tradicionalmente marcado por um infindável número de festas, encontros e furdunços, o Réveillon de 2020 será diferente. Por conta da pandemia da covid-19, que restringe — em teoria — as aglomerações e os eventos sociais, a maioria das pessoas passará a virada do ano com foco na paz e na recarga das energias para o novo ciclo que se iniciará.
Dito isto, um grande número de pessoas optou por algo que podemos classificar como “medida extrema” de tranquilidade e sossego para o fim do ano. Ao invés de irem à recantos praianos badalados como como Trancoso e Porto Seguro, escolheram se refugiar no interior do estado. A modelo Gabriella Rocha, por exemplo, optou por celebrar a virada ao lado do marido e de alguns poucos amigos na Chapada Diamantina, longe da agitação e até do sinal do celular.
Aos pés do Morro do Pai Inácio ou apreciando o Poço do Diabo, Iemanjá dá espaço com suas sete ondinhas salgada para Oxum e suas doces águas de rios e cachoeiras. “Busquei um destino em que pudesse me reconectar com a natureza. Que fosse mais tranquilo e diferente da agitação das praias ou cidades. Aqui está sendo possível contemplar a natureza, fazer trilhas, tomar banho de rios e cachoeiras. A Chapada tem inúmeros pontos para serem visitados e aqui está se mantendo todas as normas da OMS. Então, está sendo possível aproveitar os últimos dias do ano com segurança e bem-estar”, afirma Gabriella.
Na Chapada há alguns dias, a modelo projeta perspectivas positivas para 2021, que definitivamente foram potencializadas após a chegada no paraíso localizado em meio ao sertão baiano. “Que seja um ano de colheita, já que em 2020 o trabalho foi árduo. Espero que a vacina esteja disponível para toda a população e que possamos voltar para o convívio social com aqueles que amamos”, torce.
” Gabriella Rocha e seu marido na Chapada Diamantina (Reprodução/Instagram) Fugere urbem
Cravada pelo poeta romano Horácio há mais de 2020 anos, o conceito de fuga da cidade permanece ativo e vibrante até os dias atuais. Seguindo esta premissa milenar, a dupla Karlo Dias e Victor Lacerda optou por virar o ano em uma fazenda localizada no pacato município de Dom Macêdo Costa, que possui apenas pouco mais de quatro mil habitantes e fica a quase 200 km da capital baiana. A experiência de fuga da agitação não se resume apenas na estadia, mas também modifica a rotina, trazendo tranquilidade e paz de maneira intrínseca.
“Antes de qualquer coisa, é uma questão de humanidade. Sabemos o sofrimento que o mundo inteiro está passando, todos os lugares tradicionais estão cheios de aglomerações e riscos. Frequentar estes lugares é ser conivente com a pandemia, afeta as outras pessoas. Mesmo que você possa alugar uma mansão. A ideia de vir pra zona rural é ficar isolado, proteger minha família e refletir sobre o momento que vivemos. Temos paz, não tem internet — o que é ótimo —, dá pra andar de cavalo, aproveitar a natureza, acordar e dormir cedo, enfim, ter uma rotina de bastante paz”, resume Victor.
Ele conta que, em anos anteriores, passou o Réveillon em Morro de São Paulo, Caraíva e Trancoso. “É um momento importante de desaceleração, que faz a gente refletir sobre como vivemos, e nos faz lembrar que devemos aproveitar mais as coisas, de maneira mais intensa”, complementa Karlo. Victor Lacerda na fazenda em Dom Macêdo Costa (Arquivo Pessoal) Ciência explica
A decisão de várias pessoas por pegar o “caminho da roça” é classificada como interessante pela psicóloga Catarina Andrade, que define este acontecimento como uma via oposta em relação às pessoas que, apesar da pandemia da covid-19 e todas as suas consequências, seguem levando uma vida normal, sem cumprir os protocolos que evitam a proliferação do coronavírus.
“É um fenômeno interessante, porque estamos com dois extremos. Temos essas pessoas, que estão optando por esse momento mais de calma, e outras que estão negando completamente a realidade da pandemia e indo para festas, como todos os anos. Como fomos obrigados a lidar de forma direta com o real e a inevitabilidade da morte, a impotência humana, esperava-se mesmo que tivéssemos essas duas reações”, explica Catarina.
“A negação da situação e a ida para festas pode indicar uma dificuldade em lidar com a realidade, que gera angústia, então para evitar a angústia, as pessoas fazem crer que está tudo bem, que não tem nada acontecendo. Além disso, é difícil lidar com longos períodos de restrição, e como já estivemos em isolamento social o ano inteiro, algumas pessoas não estão suportando mais estar restritas”, complementa a psicóloga.
Catarina também explica as possíveis razões para a predileção por situações de extremo conforto e calmaria, afirmando que a valorização dos momentos mais corriqueiros e simples podem ter grande peso sobre a tomada de decisão das pessoas irem se refugiar em lugares mais tranquilos.
“O medo da contaminação certamente ainda é um fator importante. Mas também o clima de luto desse ano influencia nessas decisões. Não somente luto pelas vidas perdidas, mas também pela vida “normal” como conhecíamos antes, por situações financeiras e profissionais que variaram muito.
*Com orientação do Chefe de Reportagem Jorge Gouthier