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Wendel de Novais
Publicado em 5 de junho de 2021 às 05:15
- Atualizado há 2 anos
Uma semana depois de registrar o primeiro recém-nascido com anticorpos contra a covid-19, mais uma criança baiana vem ao mundo imune ao coronavírus, desta vez em Vitória da Conquista, no sudoeste do estado, e com uma diferença: a mãe não foi imunizada, mas teve a doença dois meses antes de engravidar. Pietro Kevin Brito nasceu no dia 24 de maio com poucas chances de ser afetado pela transmissão do coronavírus por receber a imunidade através da transferência placentária durante a gestação.
Sua mãe, Glece Quelle Brito, 25 anos, é auxiliar de farmácia de UTI em um hospital e pegou covid-19 dois meses antes de engravidar. Sem sintomas mais graves, ela se curou através da produção de anticorpos e parece estar com eles até agora, o que possibilitou que Pietro viesse ao mundo imune, como ela explica. "No fim da gestação, eu fiz esse exame de anticorpos total e vi que tava com imunidade ainda, o que dava indício de que passaria o anticorpo para ele. Depois, fizemos nele e também deu positivo para o IgG contra a covid", relata. Comemoração e pose pelo nascimento de Pietro (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Anticorpo persistente Para quem pode estranhar a presença tardia do IgG no organismo de Glece e a sua transferência para Pietro, o caso é sim possível. É o que garante Matheus Todt, infectologista da S.O.S Vida. Ele afirmou que o comum é que a imunidade permaneça por menos tempo, mas que isso não impossibilita situações em que o anticorpo seja produzido e permaneça por até 12 meses.
"O IgG é a linhagem de anticorpo mais tardia e que, no caso da covid-19, pode durar até um ano no organismo. Caso a mãe tenha tido contato com o vírus e desenvolvido esse anticorpo, o IgG pode passar pela barreira da placenta e chegar na criança porque, nesse caso, está dentro do tempo que se imagina que ele pode permanecer lá. Então, é possível sim", diz Todt, que alerta que ainda sim é difícil saber o quanto isso representa de proteção para a criança.
Ao CORREIO, Glece contou que a dúvida sobre a força do anticorpo no organismo do pequeno Pietro não foi capaz de diminuir a euforia de saber que seu bebê nasceu com imunidade contra a covid-19. "Nossa, quando eu peguei o resultado, eu chorei de alegria. Chorei mesmo, não tava acreditando. Liguei pra minha família pra contar. Foi uma emoção muito grande, um presente de Deus. Depois de tudo que a gente passou, veio essa bênção grandiosa", declara ela.Antes de Pietro, ela deu à luz a Henzo, que nasceu com problemas cardíacos e acabou não resistindo. A perda do primogênito, no entanto, deu para Glece mais empatia para seguir trabalhando na linha de frente contra o coronavírus até o oitavo mês de gestação, quando deixou o trabalho por orientações médicas. Segundo ela, o medo sempre existiu, mas a vontade de ajudar em um momento que os profissionais de saúde são tão necessários foi superior.
"Pra mim, foi o amor ao próximo que me sustentou. Ano passado eu perdi meu bebê e, depois disso, acabei tendo mais compaixão e amor à vida, seja ela a minha ou do próximo. Então, mesmo com medo de acontecer tudo de novo, a gente não quer deixar de ajudar os outros, ainda mais em uma pandemia que tá maltratando tanto", afirma Glece. Pietro nasceu saudável e com carga de imunidade (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal) Proteção mais curta Assim como para os bebês que ficaram imunes por conta da imunização de suas mamães, o tempo em que Pietro terá os anticorpos presentes no seu organismo é incerto. Porém, segundo Todt, é provável que esse período de imunização seja menor do que dos filhos de vacinadas. "No caso da covid-19, a imunidade vacinal, que é a que chamamos de imunidade ativa artificial, é maior e mais duradoura do que a conferida pela contaminação e produção de anticorpos que classificamos como imunização ativa natural. No entanto, isso é especulação porque, por ser um situação nova, não há testes para comprovar isso. Mas o que se acredita hoje é que a vacina dê uma imunização mais potente", explica.Procurada para saber se tinha ciência do caso de Pietro, a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) afirmou que não acompanha o caso em específico e disse que não tem o dado oficial de quantos recém-nascidos já foram registrados com anticorpos contra o vírus.
*Sob supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro