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Vinicius Nascimento
Publicado em 19 de maio de 2020 às 18:00
- Atualizado há 2 anos
Não é difícil encontrar favelas na Bahia. Andando nas principais avenidas do estado, basta olhar para um dos lados que você verá o cenário: casinhas aglomeradas, em cima de morros, que vão compondo um verdadeiro quebra-cabeças a céu aberto. Às vezes sem pintura, outras vezes coloridas... mas sempre estão lá.
Sempre mesmo. A Bahia é o 3º estado com maior número absoluto de domicílios ocupados em favelas - ou aglomerados subnormais, como descreve o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável por fazer o levantamento que foi publicado nesta terça-feira (19) e que servirá de auxílio para a distribuição de renda nos municípios durante a pandemia de coronavírus.
Segundo a pesquisa, o Brasil tem quase dois terços (64,93%) das favelas localizadas a menos de 2km de distância de hospitais. A maioria desses locais (79,53%) também está próxima, a menos de 1 km, de unidades básicas de saúde. “Antecipamos a divulgação dos dados, já que nessas localidades a população tem maior suscetibilidade ao contágio pela doença, devido à grande densidade habitacional”, afirma Maikon Novaes, gerente de Regionalização e Classificação Territorial do IBGE.
Em nosso estado, um em cada 10 domicílios ocupados estava em área de favelas e assemelhados em 2019: 469.677 ou 10,62% do total, estimado em 4.422.073. Usando densidade domiciliar no Nordeste, de acordo com o último Censo, em 2010 (3,5), seriam cerca de 1,6 milhão de baianos vivendo nesses locais. No gera, a Bahia só fica atrás de São Paulo, que tem mais de um milhão de domicílios em favelas, e do Rio de Janeiro (717.326). (Foto: Andrea Farias/Arquivo CORREIO) O soldador Joseilson Santana, 34, mora no bairro Nelson Costa, em Ilhéus, desde 2001, quando voltou de Salvador após uma tentativa frustrada de se tornar jogador de futebol. Passou pelas categorias de base do Bahia entre 1997 e 2000, mas não conseguiu se profissionalizar. Na capital, morava de favor no bairro do Jardim das Margaridas, próximo ao Fazendão - antigo Centro de Treinamento do tricolor.
Após ser dispensado, tentou se manter na capital por mais um tempo até que as contas apertaram de vez e ele retornou para sua terra natal. De volta à casa dos pais, começou a trabalhar como servente de pedreiro para ganhar algum trocado e ajudar nas despesas de casa. Com ajuda de familiares, fez um curso técnico e começou a trabalhar com solda - o que faz até hoje."Fui fazendo um serviço aqui, outro ali e juntando dinheiro até conseguir levantar minha casinha aqui. Bati a laje junto com meu pai e meu irmão mais velho e fui montando aqui aos pouquinhos", conta.Ilhéus é o município do interior com o maior percentual de estimativa de domicílios ocupados em favelas. O IBGE estima que 34,6% das casas estejam distribuídas entre as 24 favelas que existem por lá: um total de 21.123 casas.
Salvador lidera - com sobra - esse ranking dentro do estado. A capital baiana tem cerca de 900 mil domicílios ocupados em seu território e o levantamento do IBGE estima que quase 42% dessas casas estão em aglomerados subnormais, o que corresponde a 375.291 residências.
Isso significa que, no ano passado, quatro em cada 10 imóveis onde moravam pessoas na capital baiana estavam em locais onde verificava-se pelo menos uma das seguintes características: inadequação do abastecimento de água, do fornecimento de energia, da coleta de lixo ou do destino de esgoto; existência de padrão urbanístico irregular ou restrição de ocupação do solo. Além disso, a ausência da posse formal do terreno é algo recorrente.
A capital baiana tem quase metade das 572 favelas do estado que foram identificadas pelo IBGE e estão distribuídas entre 33 municípios. São 270 comunidades em Salvador, que é seguida em números absolutos por Feira de Santana (65) e Itabuna (40).
"O IBGE não usa o termo favela porque em muitos lugares do país não é esse o termo. É mais comum que no Sudeste seja utilizado, na Bahia até bem pouco tempo se falava invasão, por exemplo. Como favela não é um termo aplicado a todos os contextos, procuramos um termo genérico. É só uma questão de terminologia", explica Mariana Viveiros, analista de dados do IBGE.
São consideradas aglomerados subnormais, as áreas que obedecem aos seguintes critérios: apresentam ocupação ilegal da terra (construção em terrenos de propriedade alheia no momento atual ou recente) e precariedade na oferta de serviços públicos essenciais (abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e fornecimento de energia elétrica).
Também são caracterizados como aglomerados subnormais, regiões com urbanização fora do padrão (vias de circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais) ou que estão em locais de restrição de ocupação. Por exemplo: faixas de domínio de rodovias, ferrovias, áreas ambientais protegidas e áreas contaminadas.
*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro