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Bahia tem alta de 86% no número de casos ativos de covid-19 em uma semana

Diminuição no ritmo da vacinação e proximidade do São João preocupa especialistas

  • D
  • Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2022 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A covid-19 voltou a ter o sinal de alerta ligado na Bahia. Em apenas uma semana, o estado registrou um aumento de 86% no número de casos ativos da doença. Na quinta-feira (2), a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) informou que 953 pessoas estão contaminadas, enquanto na quinta passada (26) eram 512. A flexibilização do uso de máscaras e a diminuição do ritmo de vacinação são fatores que explicam o crescimento, de acordo com especialistas. 

Dados da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) apontam um crescimento no número de testes positivos realizados em maio em farmácias da Bahia. Enquanto em março a taxa de positividade dos testes rápidos era de 5,2%, no mês passado o número dobrou para 10,3%. 

No Laboratório Central do Estado (Lacen-BA), a taxa de positividade está em 4,68%, de acordo com o boletim da Sesab de quinta-feira (2). O Lacen-BA, no entanto, não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre número de testes feitos e a variante mais encontrada.

O aumento no número de casos no estado não é isolado e nem uma novidade para quem acompanha diariamente os números da pandemia no Brasil, como explica o coordenador do portal Geocovid, Washington Franca-Rocha.“A estatística é proporcional ao que ocorre no país. Desde meados de maio a tendência de queda no número de casos foi revertida para leve crescimento. Isso já era esperado, tendo em vista o que aconteceu em outros países e já passou o momento de ser dado o alerta”, afirma. No estado de São Paulo, por exemplo, entre os dias 6 e 27 de maio, foram registrados mais de 75 mil novos casos de covid-19, um aumento superior ao da Bahia. Na semana em que houve aumento de mais de 80% nos casos por aqui, 20 pessoas morreram por causa da doença. Para o especialista, o crescimento de registros está ligado à dispensa da obrigatoriedade do uso de máscaras. 

“Na situação de baixa carga viral circulante que prevalecia no país o uso de máscaras em ambientes fechados era a única segurança que havia para conter a transmissão. Assim, a flexibilização geral do uso de máscaras nesses ambientes veio contribuir para a reversão desse quadro, mas também a não adoção de outras medidas de controle, inclusive redução no ritmo de vacinação”, explica Washington Franca-Rocha.

É sabido que a vacinação não impede que a população se contamine com o coronavírus, mas ela é importante para que os infectados não tenham casos mais graves da doença. Além disso, com o passar do tempo após a imunização, os anticorpos começam a diminuir no organismo, tornando necessárias as doses de reforço. No estado, cerca de 6,5 milhões de baianos não estão vacinados ou estão com o esquema vacinal incompleto.“A flexibilização das máscaras não é um fator isolado, a simples passagem do tempo contribui para o aumento de casos. Após um período de tempo desde a vacinação, a tendência é que o sistema imunológico tenha um queda na quantidade de anticorpos”, explica Angelo Loula, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e cientista de dados do portal Geocovid. Na Bahia, 52% das pessoas voltaram aos postos de saúde para tomar a terceira dose da vacina contra a covid-19. Enquanto isso, mais de 3,5 milhões de baianos poderiam ter tomado a dose de reforço e não o fizeram ainda. Para especialistas, a sensação de que a pandemia havia acabado contribuiu para que as pessoas relaxassem na vacinação. 

Salvador O secretário de Saúde de Salvador, Décio Martins, afirmou que está atento a essa alta de casos ativos de covid-19, em entrevista ao BNews nesta quinta-feira (2). “Estamos acompanhando a evolução de casos aqui em Salvador. Em média, a gente registra dois casos por dia, ao analisar os últimos 15 dias. Na Bahia, os casos dobraram, passando de 300 para 600 casos registrados. Isso liga o sinal amarelo. A prefeitura tem um plano para enfrentamento caso ocorra a alta de casos”.

A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) e o secretário foram procurados para obter mais detalhes do plano, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem. De acordo com o BNews, no plano descrito por Décio Martins estaria prevista a ampliação das unidades de saúde e a volta da obrigatoriedade do uso de máscaras. A capital possui 379 casos ativos, segundo a Sesab.

Apesar da fala do secretário, dados dos boletins epidemiológicos divulgados pela secretaria estadual apontam que entre os dias 26 de maio e 2 de junho, 735 novos casos de covid-19 foram registrados em Salvador.

A capital está com a taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva destinados a tratar covid-19 em pacientes pediátricos em 90%; e com 20% de ocupação nos leitos de UTI para adultos. 

Contaminação O estudante de Engenharia Mecânica Thiago Barbosa, 21, custou a acreditar que estivesse contaminado com a covid-19 no mês passado. Com um quadro similar ao de rinite, realizou o teste após ter febre. O resultado positivo veio no dia 12 de maio. “Eu não esperava porque sigo os protocolos e evito lugares de aglomeração, mas não chegou a ser uma surpresa porque eu tenho acompanhado e vejo que a pandemia não acabou apesar das flexibilizações”, diz. 

Quem está contaminado agora com a doença são o pai e o irmão de Thiago. Ambos apresentam sintomas leves. Os três haviam tomado as doses da vacina anticovid. “A vacina de alguma forma tranquiliza. Acredito que nossas respostas imunológicas não teriam sido tão rápidas sem ela”, afirma o estudante. 

Na quinta-feira (2), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que a pasta vai autorizar a aplicação da 4º dose da vacina para pessoas acima de 50 anos. Até então, só as pessoas com 60 anos ou mais e imunossuprimidos estavam autorizados. 

Número de casos ativos se aproxima de 1 mil No início de abril, o governador Rui Costa afirmou que o uso de máscaras seria flexibilizado em ambientes fechados quando os casos ativos estivessem abaixo de 1 mil no estado. Agora, a tendência de alta aponta que nos próximos dias essa marca de mil infectados voltará a ser atingida. O estado não registrava mais de 850 casos ativos desde 11 de abril, quando 883 pessoas estavam com a doença. 

Questionada sobre uma possível volta da obrigatoriedade do acessório, a Sesab informou que o aumento de casos ainda não preocupa por conta do número de vacinados no estado. A secretaria disse ainda que o cenário está sendo monitorado e que a maior parte dos casos ativos é de visitantes  de fora e não de moradores da Bahia. 

A Sesab foi novamente questionada se o fato dos visitantes estarem em contato com moradores do estado não era preocupante e disse que o aumento de casos não é uma variante importante por si só neste momento e que há um percentual considerável da população vacinada com duas doses. “O governador usou esse número máximo no início de abril para que as máscaras fossem liberadas. Se continuarmos nessa tendência, é provável que sexta-feira cheguemos a mil casos ativos”, diz Angelo Loula.Enquanto isso, as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) adultas estão com 14% de ocupação na Bahia e as pediátricas com 78%. 

Realização de grandes festas de São João preocupa especialistas A proximidade das comemorações juninas preocupa especialistas em meio ao cenário de alta de casos no estado. As grandes festas que já foram confirmadas em diversos municípios representam risco especialmente para os que não completaram o esquema vacinal. 

“O tipo de festa de São João com muita aglomeração preocupa mais. Se for uma festa com número de pessoas mais reduzido e ao ar livre pode ter um impacto diferente. Além disso, se as pessoas estiverem com as doses de reforço em dia, podem ir para o São João um pouco mais tranquilas”, diz o professor da UEFS Angelo Loula. 

Já o especialista Washington Franca-Rocha é mais cauteloso com a questão dos festejos deste mês. “Passou a ser preocupante, como qualquer festa ou evento de massa, por se tratar de ambientes profícuos para a transmissão acelerada da covid. Vários municípios já firmaram contratos relacionados às festas juninas e considerando a demanda reprimida, é pouco provável que este ciclo de eventos seja suspenso de forma voluntária”, acrescenta.

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.