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Da Redação
Publicado em 25 de maio de 2022 às 19:06
- Atualizado há 2 anos
Pela segunda vez consecutiva, a Bahia ocupa o segundo lugar no ranking de desmatamento da Mata Atlântica no Brasil, entre 2019 e 2020, de acordo com o relatório “Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica”. O documento foi divulgado nesta quarta-feira (26) pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas (INPE).
De acordo com o relatório, a Bahia desmatou 4.968 hectares da Mata Atlântica, ficando atrás somente de Minas Gerais, com 9.209 hectares desmatados. Em terceiro lugar aparece o Paraná (3.299 ha), seguido por Mato Grosso do Sul (1.008 ha) e Santa Catarina (750 ha). O documento mostra ainda que o aumento também foi registrado em estados que estavam se chegando ao fim definitivo do desmatamento, como São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe e Pernambuco. Já Alagoas, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte tiveram desflorestamento menor que 50 hectares, mas por serem regiões constantemente cobertas por nuvens, a observação via satélite é restringida, então não dá para dizer com certeza que essas regiões estão em situação de desmatamento zero.
O relatório também mostra um outro dado alarmante: no Brasil, entre 2020 e 2021, foram desmatados 21.642 hectares da Mata Atlântica, um crescimento de 66% em relação ao registrado entre 2019 e 2020 (13.053 hectares) e 90% maior que entre 2017 e 2018, quando se atingiu o menor valor de desflorestamento da série histórica (11.399 hectares). A perda de florestas naturais, área em que caberiam mais de 20 mil campos de futebol, corresponde a 59 hectares por dia ou 2,5 hectares por hora, além de representar a emissão de 10,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente na atmosfera.
O diretor de Conhecimento da SOS Mata Atlântica e coordenador do Atlas, Luis Fernando Guedes Pinto, explica que o aumento do desmatamento, com grande perda da vegetação nativa da Mata Atlântica, mantém o bioma em um alto grau de ameaça e risco.
“É um problema que afeta todo o país e impacta diretamente a sociedade, pois 70% da população e 80% da economia brasileira se concentram na região. Se as derrubadas persistirem, vai faltar água, vai faltar alimento, vai faltar energia elétrica É uma ameaça à vida, um desastre não só para o Brasil como para o mundo, pois importantes referências internacionais apontam a Mata Atlântica como um dos biomas que precisam ser restaurados com mais urgência para atingirmos a meta de redução de 1,5°C de aquecimento global estabelecida no Acordo de Paris. Mas estamos percorrendo o caminho oposto, em direção a sua destruição", afirmou o diretor.
Guedes Pinto pontua que o bioma, que tem sua vegetação nativa protegida por lei, vem sendo devastado atualmente, acima de tudo, para dar lugar a pastagens e culturas agrícolas. Além disso, segundo o diretor, a pressão da expansão urbana e da especulação imobiliária, principalmente em torno de grandes cidades e no litoral, também pode ser apontada como uma das causas.
“A verificação da confirmação da ilegalidade é comprometida pela pouca transparência e pequena disponibilidade de dados dos governos estaduais a respeito das autorizações de desmatamento. A disponibilização desses dados é fundamental para que se possa avançar para o desmatamento zero na Mata Atlântica com a velocidade necessária para contribuirmos para a urgência da emergência climática e garantirmos a provisão dos serviços ecossistêmicos”, declara o diretor. Vale ressaltar que as informações levantadas pelo Atlas são levadas para as autoridades públicas com o objetivo de que seja verificada a legalidade dos desmatamentos identificados e, assim, sejam tomadas medidas de fiscalização e punição. “O respeito à Lei da Mata Atlântica e ao Código Florestal são os primeiros passos para começarmos a reverter essa situação crítica”, finaliza Guedes Pinto.
O CORREIO procurou o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) para um posicionamento sobre os dados apresentados no relatório, mas eles informaram que ainda analisam o documento para emitir uma resposta.
O Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica é uma colaboração entre a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) iniciada em 1989 com o objetivo de determinar a distribuição dos remanescentes da Mata Atlântica, monitorar as alterações da cobertura vegetal e gerar informações permanentemente atualizadas sobre o bioma. Foi um projeto pioneiro para monitorar a situação da vegetação nativa de um bioma no Brasil.