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Gil Santos
Publicado em 27 de junho de 2019 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Em agosto do ano passado o CORREIO mostrou que o pior desempenho dos estudantes baianos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no ano anterior, foi na área de Matemática e suas Tecnologias. A reportagem, na época, provocou um debate nas redes sociais. Mas, um levantamento divulgado esta semana aponta um cenário ainda mais preocupante.
Segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, divulgado na terça-feira (25), pelo movimento Todos pela Educação, em parceira com a Editora Moderna, apenas 4,7% dos estudantes do ensino médio na Bahia tem proficiência adequada em matemática. Atualmente, são mais de 600 mil alunos estudando nesse ciclo de ensino, que é de responsabilidade do Governo do Estado.
Quando o assunto é a Língua Portuguesa, o resultado é um pouco melhor, mas também está longe do aceitável. Apenas 18,4% dos estudantes do ensino médio dominam os conteúdos dessa disciplina. A deficiência em duas áreas “mães”, consideradas indispensáveis para o desenvolvimento de qualquer conhecimento específico preocupa professores, especialistas, o governo estadual e, principalmente, os próprios alunos.
Diogo Moreira tem 16 anos e está no 2º ano do ensino médio no Centro Estadual de Educação Profissional em Tecnologia, Informação e Comunicação (Ceep-tic) de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana. Ele faz parte dos 43,3% dos jovens que concluem os estudos até os 19 anos na Bahia – em São Paulo o percentual é de 78,3% - e conta que as dificuldades são muitas.
“No meu caso, português até que vou bem, mas matemática é mais difícil. Agora, vamos começar a estudar algoritmos e já vi que não vai ser fácil. Funções exponenciais é outra área complicada. Na minha turma tem muita gente com dificuldade nas duas disciplinas”, disse. Ele contou que está preocupado com a preparação para o Enem.
Aulas Um desafio para os professores é conseguir relacionar os conteúdos explicados em sala de aula com a realidade dos estudantes, uma estratégia importante para facilitar a assimilação desse conhecimento, segundo os jovens. Mas a questão é mais complexa. Para o professor de matemática Toni Santana existe um excesso de assuntos.“O que eu percebo é que há dificuldade no entendimento dos comandos verbais pedidos. Isso se deve, em parte, à falta de cuidado no foco do aprendizado. Série a série deveria se ter um foco no aprendizado e não mudar de conteúdo simplesmente para cumprir um programa, porque isso deixa um déficit que é cumulativo. É desnecessário tanto assunto”, opina.Ele atribui os problemas no aprendizado da matemática também a outro fator: deficiência com a língua portuguesa. “Matemática, hoje, depende demais da base do português, dos entendimentos dos comandos verbais, de identificar os destratores, da leitura de livros e revistas, e as pessoas estão cada vez lendo menos”, diz.
É por isso que Ana Clara Oliveira, 15 anos, adota a leitura também fora da sala de aula. Ela está no 1º ano no Colégio Estadual David Mendes Pereira, em São Marcos, e focada em se preparar para o Enem.“A leitura ajuda muita gente que tem dificuldade com essas matérias. Tenho amigos que sentem isso. Eu, tenho praticado muita leitura, e os problemas matemáticos das lições de casa para aprimorar o conhecimento. Outra coisa que pode ajudar também são outras atividades, como cursos”, sugere.Pesquisa O coordenador do núcleo de inteligência do Todos pela Educação, Caio Sato, revela que os dados do anuário mostram avanços importantes na última década, mas acredita que a fotografia de hoje ainda é bem crítica, quando observada a quantidade de alunos com aprendizagem adequada na fase final do Ensino Fundamental e no Ensino Médio.
“A questão não é exclusiva da Bahia, o Brasil todo enfrenta isso. Em primeiro lugar, porque o Ensino Médio é uma etapa pouca atrativa para os estudantes, ela é importante, mas concorre com outros aspectos da vida, como o trabalho. Por isso, é fundamental que o tempo que o jovem passa na sala de aula faça sentido para ele. Em segundo lugar, o processo de aprendizagem é cumulativo. Se o aluno não é bem alfabetizado, ele percorre todas as etapas com dificuldades e no Ensino Médio essa defasagem fica mais evidente”, explica.
Sato defende que as autoridades comecem a discutir a questão do financiamento da educação básica, já que o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que está em vigor desde 2007, expira em 2020. Através dele, a União encaminhas recursos para a educação nos estados.
Na comparação com os outros estados do Nordeste, em matemática, a Bahia é o terceiro pior avaliado, à frente apenas de Alagoas (4,5%) e Maranhão (3,2%). O Distrito Federal lidera o ranking com 17%. Em Língua Portuguesa, os baianos superam apenas o Maranhão (16,4%). O Espirito Santo foi o estado mais bem colocado, com 40,7%.
A pesquisa também mostrou que nos primeiros anos da escola os resultados são melhores na Bahia. No Ensino Fundamental (5º ano), 46,1% dos alunos tem proficiência em português e 31,9% em matemática. Já no 9º ano, os resultados foram 26,7% e 12,3%, respectivamente.
O anuário existe desde 2012 e é feito com base nos dados do Pnad, Inep, no Censo da Educação Básica, entre outros. Segundo os organizadores, o propósito é levar informações de qualidade para os gestores públicos para que elas possam norteá-los na elaboração e aplicação de políticas públicas educacionais, além de apontar as questões prioritárias na pauta.
Medidas O subsecretário da Educação da Bahia, Danilo Souza, acredita que, apesar dos números negativos, houve um avanço na comparação com os outros anos. Em 2015, o anuário apontava proficiência dos estudantes do Ensino Médio na Bahia de 3,9%, em matemática, e 17,4%, em Língua Portuguesa. Agora, são 4,7% e 18,4%, respectivamente.“O que precisamos é avançar mais na formação de professores e na participação da comunidade, com mais acompanhamento, avaliações e ações a partir desses resultados. A secretaria acredita que o que ainda pode ser feito é investir em mais formação continuada e fazer com que os professores e estudantes pensem de forma a ter resultados mais imediatos”, afirma.Ele destaca a criação do Bahia Olímpica, programa de incentivo para que os estudantes participem mais de olimpíadas e campeonatos do conhecimento, e o retorno do Sistema de Avaliação Baiana de Educação (Sabe).
“O Sabe avalia o desempenho dos estudantes a cada semestre, porque sentimos a necessidade de uma análise mais imediata. Não queremos ter que esperar dois anos para saber como nossos estudantes estão indo. Este ano estão sendo avaliadas apenas as áreas de Matemática e Língua Portuguesa, mas no próximo ano vamos ampliar para todas as disciplinas”, afirma.
A primeira prova foi aplicada em abril e, no total, 180 mil estudantes do 5º e 9º ano do Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio fizeram a avaliação. A ideia é que a partir dos resultados sejam identificadas as principais dificuldades dos alunos e que elas sejam trabalhadas através de cursos de capacitação para coordenadores, diretores, e professores. A promessa é de que esses cursos serão oferecidos ainda esse ano.
Veja dicas de como aprender Português e Matemática
Leitura extra - Ler é fundamental para aprender Português e Matemática. Peça a um porfessor indicações de livros.
Tema eleito - Descubra um assunto que você gosta e leia sobre ele em revistas, jornais e sites.
Texto fácil - A dica para melhorar o desempenho em redação é escrever um texto por semana sobre temas diversos, para exercitar a fluência verbal.
Exercícios - Fazer exercícios em casa, respondendo questões de Matemática e Português, ajuda a assimilar conteúdos dessas duas disciplinas.
Videoaula - Assista vídeos, palestras e filmes recomendados pelos professores e relacionados aos conteúdos que são trabalhados em aula.