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Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2023 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Com pouco mais de 26 mil habitantes e localizada no extremo oeste baiano, a cidade de Formosa do Rio Preto foi a responsável pelo maior alerta de desmatamento do Brasil no ano passado. O avanço das plantações aumentou em 128% a supressão de vegetação no município, entre 2020 e 2022, de acordo com o relatório anual do MapBiomas, divulgado essa semana. O desmatamento desenfreado na Bahia não é pontual, prova disso é que o estado foi o que mais desmatou os biomas Cerrado e Caatinga no país.
No ano passado, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), órgão estadual, prorrogou uma portaria de 2015 que permitiu que uma região de 12.272 hectares fosse desmatada dentro da Área de Proteção Ambiental do Rio Preto. Esse foi o maior alerta de desmatamento realizado pelo MapBiomas em 2022, de acordo com o Relatório Anual do Desmatamento. Antes e depois da área desmatada em Formosa do Rio Preto (Foto: Reprodução) O município faz parte da localidade conhecida como Matopiba, que engloba, além da Bahia, os estados do Maranhão, Tocantins e Piauí. Desde a segunda metade da década de 1980, a região é alvo crescente de desmatamento. Na cidade que possui o Cerrado como bioma, o desmatamento saltou de 14 mil hectares para 33 mil entre 2020 e 2022.
A menos de 200 quilômetros de Formosa do Rio Preto, São Desidério também sofre com o desmatamento acelerado. O município é o sexto do Brasil com a maior média de supressão de vegetação por dia e o primeiro em desmatamento no Cerrado. Por lá, 100 hectares foram desmatados diariamente entre 2019 e 2022. Formosa aparece em oitavo lugar.
Para Yuri Salmona, diretor executivo do Instituto Cerrados, a legislação ambiental que autoriza o desmatamento é permissiva e não leva em conta as consequências para o meio ambiente, que podem ser irreversíveis. “A porção do cerrado no oeste da Bahia tem ocupação massiva da agricultura intensiva para a exportação de commodities e o empurramento das comunidades tradicionais”.
Em entrevista à reportagem, o secretário de Meio Ambiente de Formosa do Rio Preto, Geraldo Martins, alertou para os riscos do desmatamento na região e cobrou mais critério nas autorizações concedidas pelo Governo do Estado.
“Sabemos que existem problemas que podem ser resolvidos, como o manejo e a conservação do solo, e estamos trabalhando com produtores rurais nesse sentido”, pontua Geraldo Martins. A cidade possui uma das maiores bacias hidrográficas do estado, que corre risco devido ao assoreamento provocado pela destruição da vegetação nativa.
O Instituto do Meio Ambiente e a Secretaria de Meio Ambiente da Bahia (Sema) foram procurados, mas não se manifestaram sobre o estudo. A reportagem não conseguiu contatar a prefeitura de São Desidério.
Três Salvador destruídas A área desmatada na Bahia em 2022 equivale a mais de três cidades de Salvador. Os 225.151 mil hectares devastados colocam o estado como o quarto no ranking de desmatamento do país. O bioma mais afetado foi o Cerrado, com 157 mil hectares de área vegetal destruída, o que representa aumento de 68%, ante 2021.
A perda de biodiversidade, intensificação do efeito estufa e impactos no ciclo da água são alguns dos reflexos da destruição. Uma das formas para evitar o desmatamento e manter a produção agrícola é a recuperação de áreas degradadas, como explica Pedro Bruzzi, coordenador administrativo da Rede Cerrado.
“Há necessidade que o governo, através de assistência técnica e linha de crédito, invista na recuperação de áreas degradadas para que o solo seja reaproveitado e assim ocorra redução da pressão de áreas nativas”, defende.
Além de ter em seu território a cidade que emitiu o maior alerta de desmate do país, a Bahia foi responsável pelo alerta mais significativo da Caatinga. Uma área de 1.096 hectares foi desmatada em Barra, com autorização emitida pela prefeitura local. O município foi o que mais devastou o bioma em 2022. .Dos 50 municípios do país que mais dobraram proporcionalmente a área desmatada em 2022, em comparação com 2021, quatro estão na Bahia, mais especificamente no oeste do estado. São eles: Barreiras, Formosa do Rio Preto, Correntina e São Desidério. Antes e depois da área desmatada em Barra (Foto: Reprodução) Desmatamento cresce 22% no Brasil
Os biomas Amazônia e Cerrado foram os que mais sofreram com a supressão da vegetação no ano passado, de acordo com o Relatório Anual do Desmatamento elaborado pelo MapBiomas e divulgado nesta semana.
Os dois biomas representam 90% do total de 2,057 milhões de hectares desmatados no país em 2022. Em média, uma área equivalente a 5,1 mil campos de futebol foram destruídos por dia no país no ano passado.
Os estados que mais desmataram a Amazônia e o Cerrado foram o Pará, Amazonas e Mato Grosso. Em seguida, aparece a Bahia. Juntos, os quatro respondem por mais da metade (58%) de todo o desmatamento no território nacional.
Segundo o estudo do Mapbiomas, a agropecuária é o principal vetor do desmatamento, responsável por 96% da degradação.
Por outro lado, as terras indígenas e quilombolas foram as que permanecem como os locais mais preservados do Brasil, segundo o estudo, representando 1,4% da derrubada total ocorrida em todo o ano passado.
Para chegar a esses números, a plataforma MapBiomas reúne universidades, empresas de tecnologia e organizações não governamentais que analisam e produzem dados sobre desmatamento a partir de imagens geradas por satélites.
*Com a orientação de Monique Lôbo.