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Autor de 25 assassinatos, liderança do CP comandava ataques contra rivais em 'bondes'

Preso em SP, Caíque foi trazido para a BA; patrulhamento foi reforçado em Amaralina

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 27 de setembro de 2018 às 16:26

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Alberto Maraux/SSP

Não é à toa que Val Bandeira, considerado um dos líderes da facção Comando da Paz (CP), quando ainda estava preso, tinha Antônio Caíque Santos Correia, 24 anos, como seu gatilho. Era Caíque quem comandava todos os 'bondes' do bando baseado no Complexo do Nordeste de Amaralina, em Salvador - além de participar de assassinatos, distribuía drogas e armas.

“A mando de Val Bandeira, Caíque liderava os ataques em grupos, tática criminosa conhecida como 'bonde'. Foram vários confrontos. A maioria deles invasão de territórios de rivais", declarou o delegado Odair Carneiro, titular da Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM), durante coletiva de apresentação do traficante na manhã desta quinta-feira (27). Caíque era investigado desde 2016.  Caíque durante apresentação na manhã desta quinta (27); preso no dia 6 deste mês em São Paulo (Foto: Alberto Maraux/SSP-BA) O delegado preferiu não revelar quem são os rivais de Caíque, mas uma fonte da polícia disse ao CORREIO que atualmente, o Complexo do Nordeste - formado pelos bairros de Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho - está em guerra com traficantes da região de Brotas, onde a predominância é da facção Bonde do Maluco (BDM).

A prisão de Caíque ocorreu em São Paulo, no dia 6 deste mês, num trabalho conjunto das Polícias Civil, Militar e Federal. Segundo informações da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), ele se escondia em São Paulo e frequentemente vinha para Salvador.  Caíque após prisão em São Paulo; ao lado, cabo Gonzaga, uma de suas vítimas (Fotos: SSP e Reprodução) “A CP tem tentáculos pelo país e mantém relação com outras facções que têm a mesma finalidade, que dão apoios logístico e financeiro”, declarou o investigador Cláudio Viterbo, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal.Na apresentação, a Polícia Civil exibiu um vídeo de dezembro do ano passado, onde o traficante aparece no Areal, em Santa Cruz, no comando de uma festa de paredão.

Ele usa tranças e um boné e exibe uma pistola. Equipes da Polícia Militar, Polícia Civil e da Polícia Federal realizam diligências, no Nordeste de Amaralina, em busca de outros traficantes da mesma facção. O patrulhamento na região está reforçado.

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Homicídios Ex-integrante do Baralho do Crime, Caíque também distribuía drogas e armas para criminosos de outros bairros de Salvador. Autor de pelo menos 25 assassinatos, ele participou diretamente da morte do cabo Gustavo Gonzaga da Silva, 44, ocorrida em junho de 2018.

A investigação aponta que ele decidiu matar o militar pelo fato de ele ser policial. "É um homicida frio. Estamos atrás dos outros comparsas desta organização criminosa", informou o titular da Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM), delegado Odair Carneiro.

Caíque também participou das mortes de três seguranças privados, que trabalhavam em um ensaio da banda Harmonia do Samba, em fevereiro de 2017. O crime ocorreu por conta de um comparsa do criminoso que acabou agredido pelos seguranças, em uma festa anterior. 

Prisão Caíque foi preso numa casa em Jaçanã, na cidade de São Paulo. Policiais cumpriram mandados de prisão por homicídios e tráficos de drogas, além de mandando de apreensão. Na ocasião, ele estava com a mulher e o filho, quando foi surpreendido por policiais civis baianos e paulistas. 

O traficante chegou à Bahia de avião na tarde desta quarta-feira (26) – esse período todo, ele estava custodiado numa unidade prisional de São Paulo. Pouco depois das 11h, ele chegou ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Rua das Hortênsias, na Pituba. Um esquema de segurança foi montado. 

Quando a viatura que trazia o traficante ao DHPP parou em frente ao prédio, outras quatro equipes da Polícia Civil entraram em ação: duas viaturas de cada lado bloqueavam os acessos à via. Instante depois, Caíque desembarcou cabisbaixo e com as mãos algemadas e foi levado pelos agentes a uma sala antes de ser apresentado à imprensa.    Apresentação Durante a apresentação, o delegado Odair Carneiro disse que Caíque era uma peça importante da facção e que todos os seus integrantes já foram identificados. “Ele era o homem de confiança de Val. Com a prisão dele de outros criminosos, estamos enfraquecendo a facção Comando da Paz. Todos que fazem parte dela já estão mapeados e terão os mandados de prisão cumpridos”, declarou Odair.  

Odair preferiu não revelar quem está na linha de sucessão de facção e tampouco os seus principais integrantes. “Tudo isso é alvo de investigação e não podemos falar”, disse. Em relação à Val Bandeira, quanto à possiblidade de ele voltar a dar as cartas como antigamente, já que atualmente segue em liberdade, o delegado respondeu: “Todos são monitorados pelo Serviço de Inteligência, inclusive Val”. 

Areal  Por volta das 5h desta quinta-feira (27), policiais civis, militares e federais ocuparam as localidades de Boqueirão e Areal, ambas em Santa Cruz. As equipes tentaram cumprir mandados de prisão e busca a apreensão. 

Equipes da Polícia Militar foram recebidas a tiros no Areal. “Atiraram em uma de nossas guarnições. Eram seis homens, armados de pistolas ponto 40, 45 e 380. Os policiais revidaram. Conseguiram apreender armas e drogas”, declarou o coronel Humberto Costa Sturaro Filho, comandente do Policiamento Especializado da Polícia Militar da Bahia (PMBA).

Quem é Caíque? Ainda garoto, Caíque teve o destino igual ao de muitos outros meninos largados à própria sorte no Complexo do Nordeste de Amaralina, região formada por quatro comunidades carentes de Salvador. Ele foi cooptado pelo tráfico, começou nas funções de 'aviãozinho' e 'olheiro' e, na adolescência, exibia um fuzil que pesava mais do que seu corpo franzino.

A diferença é que a maioria dos meninos que cresceu junto com Caíque não chegou à sua idade – porque foi morta pela polícia ou por rivais –, e tampouco à sua posição – isso em relação aos que ainda vivem. Com 24 anos, Caíque se tornou um dos gerentes da facção CP, grupo criminoso que controla o tráfico nos bairros que formam o complexo: Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho.

Val Bandeira  Caíque é um dos olhos e gatilho de Joseval Bandeira, o Val Bandeira, que mesmo cumprindo pena Unidade Especial Disciplinar (UED), no Complexo Penitenciário da Mata Escura, continuava mandando na região do Nordeste. Val foi solto em junho deste ano, após receber liberdade condicional, em audiência, comandada pela juíza Maria Angélica Carneiro.

À época, ficou decidido que ele seria liberado com o dever de seguir algumas determinações feitas em juízo. Val responde pelos crimes de tráfico de drogas, roubos a bancos e homicídios. Além da Unidade Especial Disciplinar (UED), na Mata Escura, ele também ficou preso nas unidades federais de Catanduvas (PR), e Serrinha, no Centro Norte baiano.

Para continuar cumprindo a pena em liberdade, Val teve que arranjar um emprego (ocupação lícita) no prazo de 90 dias, desde a soltura, comunicando e comprovando periodicamente à Justiça essa atividade. A juíza também determinou que ele não poderá mudar o território da Comarca do Juízo da Execução sem avisar previamente essa decisão, tampouco mudar de residência sem comunicação prévia - assim, ele deve continuar morando no bairro da Santa Cruz, endereço informado à Justiça. 

O prazo para cumprimento da pena vence em 14 de junho de 2022. Até lá, ele terá de abdicar da vida noturna. Na decisão, a juíza especifica que ele não poderá frequentar bares (casas de bebidas), casas de jogos ou de prostituição, nem festas de largo ou carnavalescas. Também prevê que ele deve estar em casa, todos os dias, até as 22h. Está proibido ainda de andar armado. A cada três meses, deve justificar as suas atividades.

Para continuar cumprindo a pena longe da prisão, o fundador do CP também teve que “procurar viver em harmonia com a família e os vizinhos, trazendo ao conhecimento do Setor de Atendimento Psicossocial os fatos que lhe perturbem a convivência em família ou em sociedade”. 

A juíza Maria Angélica Carneiro também o orientou a cumprir recomendações feitas pelas autoridades responsáveis pelo acompanhamento do processo de seu retorno ao convívio social, durante o tempo determinado pelo Juízo de Execução.