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Áudios de policiais sugerem que PM foi morto por engano por colega

Cabo baleado após sequestro no Subúrbio era pastor e não andava armado

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 8 de junho de 2018 às 17:33

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Reprodução

José Luiz levou um tiro no abdômen (Foto: Reprodução) O cabo da Polícia Militar José Luiz da Hora, 51 anos, encontrado baleado por policiais militares na noite dessa quinta-feira (7) em São João do Cabrito, Subúrbio Ferroviário de Salvador, era pastor de uma igreja em Periperi, onde congregava há 17 anos, e não costumava andar armado, de acordo com colegas de religião e de trabalho.

Segundo a polícia, o cabo teve o carro roubado e quando uma guarnição da 14ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Lobato) chegou, foi recebida a tiros pelos criminosos, que abandonaram o veículo. No entanto, um áudio que circula em grupos de policiais no WhatsApp sugere que a vítima fora baleada pela própria polícia.

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O enterro do o cabo Da Hora, que fazia curso para subir de patente e virar sargento na PM, ocorreu no final da tarde desta sexta (8) no Cemitério Bosque da Paz, na Estrada Velha do Aeroporto.

Após o alegado tiroteio, a guarnição socorreu o cabo para o Hospital do Subúrbio, onde não resistiu. José Luiz frequentava a Igreja Batista de Periperi há quase duas décadas, mas há dois anos atendeu ao pedido do rebanho e se tornou pastor. De acordo com a bispa Cláudia Gomes, 44, o policial “era um homem correto em todos os sentidos, um homem de testemunho".  Foto: Reprodução "Tivemos uma grande perda. É muito difícil encontrar militares como ele. Não há nada que comprometa o caráter dele. A esposa perdeu o suporte da vida dela, como ela mesmo disse: 'o porto seguro'", afirmou a bispa, na manhã desta sexta-feira (8), no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) onde, junto com a família do PM, aguardava a liberação do corpo de José Luiz.

Desarmado A bispa estava com o marido, o pastor Jair Oliveira Gomes, 46, amigo do policial morto. “Ele não andava armado. Era uma pessoa preocupada, adotava as medidas que hoje a segurança exige, mas fatalidades acontecem. É imensurável a dor da família e amigos”, disse o pastor. Para ele, "a segurança está comprometida em Salvador como em todo o país". "Este fato foi uma tragédia. O pastor era referência de pai, marido, discípulo e de militar, pois em todas as unidades que passou ninguém tem nada a dizer sobre a idoneidade dele", complementou.

Responsável pela liberação do corpo do cabo, o irmão da vítima, o auxiliar de serviços gerais André Luiz da Hora, 46, estava desolado. “Pra dizer a verdade, ainda estou sem acreditar, por que ele era uma pessoa muito tranquila”, comentou.

Fogo amigo? Apesar de a assessoria da Polícia Militar se limitar a dizer que o PM foi morto num tiroteio entre suspeitos e uma guarnição da PM, um dos áudios que circulam em conversas dos próprios policiais dá a entender que o tiro partiu de forma deliberada da polícia.“Galera, fizeram a maior merda, aí. Botaram o cara aqui como se fosse AR (auto de resistência, procedimento militar que indica que uma pessoa morreu em confronto com a polícia), que ele tinha trocado tiro com a guarnição, porra! Da Hora nem arma tem, véi! É brincadeira uma porra dessa”, diz um suposto policial, num dos áudios.  Moradores de São Bartolomeu disseram que três homens abordaram um Voyage branco conduzido pelo PM numa sinaleira e obrigaram o policial a dirigir. Entrando no parque, os bandidos avistaram uma guarnição da PM e abriram as portas e correram. No entanto, o cabo não correu e foi baleado.

Em nota, a Polícia Militar informou que "não tem conhecimento da versão apresentada pelos moradores". "A investigação seguirá minuciosamente acompanhando todos os desdobramentos do caso", conclui o comunicado oficial.“O que chegou até nós foi que ele (cabo) saiu com as mãos para cima. O tiro atravessou o abdômen”, afirmou a bispa Cláudia Gomes, 44, sobre a morte do pastor e cabo da PM em São João do Cabrito.Questionado sobre a hipótese de o cabo ter sido baleado por policiais, o irmão da vítima, o auxiliar de serviço gerais André Luís da Hora, disse visivelmente nervoso: “A princípio, a família não sabe de nada”.

O pastor Jair Oliveira Gomes preferiu encerrar as entrevistas ao CORREIO dizendo que "o fato ficou muito indefinido". "Vamos esperar a investigação e depois a família deve adotar as devidas providências", declarou.

O cabo e pastor José Luiz da Hora tinha pouco mais 20 anos na corporação, era casado há 23 anos e deixou dois filhos.

Segundo a assessoria da PM, em 2018, foram registradas, até esta sexta, as mortes de seis policiais militares em toda a Bahia vítimas de crimes dolosos contra a vida. Em todo o ano passado, foram 21 mortes.

Incerteza O velório do cabo Da Hora foi marcado por silêncio, incredulidade pela morte e incerteza quanto às causas. 

"Eu não sei como foi, só sei que foi fatalidade", sussurrou um colega. "Soube da morte dele hoje, mas não sei como foi", disse outro. "Acho que foi assalto ou sequestro, alguma coisa assim", contou uma fiel que frequenta a mesma congregação.

Visivelmente abalado, o tenente-coronel Moreno, comandante do Batalhão de Polícia de Guarda da Polícia Militar (BG), no qual Da Hora era lotado, disse que não tinha condições de comentar o caso. "Em outro momento eu posso falar, mas agora não consigo mesmo".

Um policial militar que compareceu ao velório confirmou a versão de que José Luiz foi morto por engano por outros PMs. "Foi uma fatalidade. Realmente houve um sequestro, os indivíduos fugiram. A guarnição que chegou atirou. Os colegas nunca pensaram que outro colega tava no carro", lamenta. 

"Ele era um cara muito correto.Tenha certeza que os colegas que se equivocaram nunca mais serão os mesmos", disse o PM ao CORREIO. A Secretaria de Segurança Pública não confirma nenhuma versão do caso.

Familiares, amigos e conhecidos de José Luiz o descreveram unanimemente como um homem 'correto'. 

"Nunca ouvimos falar de qualquer ato que abonasse a conduta dele. E eu posso atestar como amigo de infância e profissionalmente. Ele era uma pessoa de muita hombridade profissional e um excelente ser humano", disse um colega do BG que também cresceu ao lado do PM.

"Corretíssimo, não andava armado. Não sei porque aconteceu isso aí, uma fatalidade. Uma excelente pessoa. Todos apostam na idoneidade dele", disse outro colega que há 24 anos entrou na mesma turma que José Luiz na polícia militar.

*sob orientação da editora Tharsilla Prates