Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2020 às 18:58
- Atualizado há 2 anos
Às vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente, um dos paraísos naturais do Brasil vive mais uma ameaça. Em dois meses, uma área de cerrado equivalente a mil campos de futebol oficial foi devastada na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. E as máquinas não param.
O desmatamento ocorre no município de Cavalcante, dentro do território dos kalungas, formado por remanescente de escravos, certificado pela Fundação Cultural Palmares e delimitado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 2009. O crime ambiental pode ser agravado porque o mesmo território é considerado Sítio Histórico e Patrimônio Cultural de Goiás pela lei estadual de número 11.409, de 1991.
A denúncia foi feita pela Associação Quilombo Kalunga (AQK) e por representantes da sociedade civil de Cavalcante, mas já se tornou internacional, através das redes sociais. Uma ação civil pública está sendo preparada para que a Justiça seja provocada a se manifestar.
[[galeria]]
A secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do governo de Goiás, Andréa Vulcanis, pegou um avião e embarcou de Goiânia, no início da tarde de hoje, com destino a Cavalcante, para sobrevoar, ao lado de uma equipe de fiscalização, o que se configura como crime ambiental.
“Recebemos a denúncia de um grande desmatamento no território kalunga na terça-feira passada. Não vamos permitir, e vamos conter, qualquer tipo de atividade ilegal na área ambiental de Goiás. Goiás não admite intervenções ambientais que não sejam feitas de forma adequada e autorizada. O território kalunga está sob gestão do governo federal, porém toda parte de supressão de vegetação e autorização é da secretaria estadual. Faremos nosso papel atuando de forma efetiva”, disse a secretária, que prometeu autuação.
Berço das águas Segundo a denúncia da AQK e de outros setores da sociedade civil de Cavalcante, incluindo guias de turismo, donos de pousadas e restaurantes, comerciantes, professores, empresários e trabalhadores em geral da cidade e da zona rural, as terras desmatadas estão na cabeceira do Rio Prata e na nascente de outros afluentes. Trata-se de uma região considerada berço das águas, onde estão algumas das mais belas cachoeiras da Chapada dos Veadeiros, a exemplo do Rei do Prata.
O desmatamento, de acordo com essas entidades, é praticado pela Agropecuária Rei do Prata Ltda., proprietária da Fazenda Pequi. A área desmatada se localiza entre essa propriedade e a Fazenda Alagoas. “Um crime ambiental feito pela ganância do agronegócio que põem em risco a saúde de todos que estão abaixo de suas cabeceiras e principalmente da comunidade kalunga”, disse a AQK, em texto postado nas redes sociais e enviado pelo WhatsApp para várias pessoas, inclusive formadores de opinião.
“Algo sem precedentes para a conservação do bioma cerrado. Infelizmente, tudo sendo feito na calada da noite e destruindo os últimos Campos de Cerrado, Cerrado Stricto Senso, Veredas, Campos Úmidos e a vida silvestre. As autoridades precisão se posicionar e dar transparência para a comunidade de Cavalcante, da Chapada dos Veadeiros e principalmente para os kalungas, pois essas áreas estão em seu território”, acrescentou.
Dependência do turismo Cavalcante, assim como as cidades que integram a Chapada dos Veadeiros, depende do turismo como atividade econômica. Nesses tempos de pandemia, com os atrativos fechados e sem previsão de reabertura, praticamente toda a população sofre com a perda de renda, principalmente os kalungas, que exploram, em seu território, cachoeiras como a famosa Santa Bárbara, a Candaru e o próprio Rei do Prata. Com o desmatamento, o problema só tende a aumentar.