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Daniel Aloísio
Publicado em 31 de agosto de 2020 às 18:40
- Atualizado há 2 anos
Aglomerados no porta-malas e no banco traseiro de um carro, 66 cachorros filhotes da raça shih tzu, com sinais de maus-tratos, seriam vendidos em petshops de Salvador, Recife e Petrolina, as duas últimas cidades de Pernambuco, se não fosse uma ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Mesmo transportados nessa situação, 36 dos animais foram liberados para duas pessoas que se identificaram como proprietários, após comprovação da compra.
Segundo a PRF, a entrega foi realizada mediante assinatura de termo de compromisso de comparecimento a audiência. Esses donos não estão com a guarda dos animais, mas são os “fiéis depositários” até que o destino dos bichinhos seja definido pelo Ministério Público e pela Justiça.
Atualização: Ministério Público recomenda que compradores devolvam filhotes de shih tzu“Os animais foram liberados pela PRF diante da situação de risco de morte, considerando que muitos estavam fragilizados. A equipe de policiais consultou a médica veterinária do município (de Itaberada) que constatou que a permanência por tempo prolongado dos cães no local disponibilizado poderia acarretar a morte de vários destes animais ou agravamento de sua saúde”, explicou a PRF, em nota. Foi em Lençóis que o veículo foi parado na tarde da última sexta-feira (28) pelos agentes da PRF, no quilômetro 250 da BR-242, após terem recebido uma denúncia de que o motorista tinha abandonado três filhotes na estrada. Eles morreram, assim como cinco dos outros 66 cachorros apreendidos, todos com sinais de desidratação, diarreia e hematomas. Ainda segundo a PRF, os proprietários estão impedidos de vender os animais, até segunda ordem. Animais estavam amontoados em caixas (Foto: Divulgação/PRF) “Os proprietários apresentaram caixas de transporte adequadas, sendo assim, entregues os cachorros mediante termo de entrega e emissão de laudo técnico de avaliação da situação. A entrega foi definida pela equipe de policiais por ser a alternativa mais segura para preservar a saúde e garantir a sobrevivência deles”, explicou ainda a PRF.
Guarda legal O Instituto Patruska Barreiro, que há 25 anos trabalha em prol da causa animal, foi chamado pela PRF para cuidar dos outros 30 animais. Sua fundadora, que tem o mesmo nome da instituição, disse que está tentando, de acordo com os meios legais, ter a guarda de todos os animais, para que eles não sofram mais maus-tratos. “O motorista afirmou que já faz esse trânsito pelo menos duas vezes ao mês. Então, se trata de um crime que já vem acontecendo”, disse Patruska.
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Ela foi acionada pela Polícia Rodoviária no último sábado (29), um dia após a apreensão dos animais. No mesmo dia, ela embarcou com um grupo formado por veterinário, advogado e voluntários da sua Organização Não-Governamental (ONG) em direção à Itaberaba. Quando chegou, 36 filhotes já tinham sido liberados, 18 para um dono de Salvador e outros 18 para um dono de Juazeiro, segundo Patruska.
O CORREIO solicitou a PRF informações de quem seriam esses donos que levaram os animais, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem. Patruska informou que sabe quem são essas pessoas, mas que não poderia informar o nome a pedido da polícia, já que estão numa investigação.
Segundo o inspetor Luciano Souza, da Delegacia de Seabra, que participou da operação junto com outros três policiais, o motorista afirmou que receberia R$ 100 por cada filhote transportado. Ele usava um veículo alugado. “Esse era o meio de sobrevivência dele. Isso não quer dizer que das outras vezes ele cometeu o crime de maus-tratos. Possa ser que ele tenha transportado da forma correta. Ele também disse que não criava. Havia uma pessoa em Goiânia que compravam os animais das matrizes e vendiam para os pet shops”, explicou Souza.
Na delegacia, o motorista, que não teve o nome revelado, ficou detido, mas foi liberado após assinar um termo de compromisso para comparecer à audiência. O crime que ele cometeu - o de maus-tratos aos animais - prevê 12 meses de prisão e pode ser aumentado em até um terço se houver morte de algum animal. “Ele foi liberado, pois em casos de crime com pena menor de dois anos, a pessoa não fica presa. Isso acontece em todos os crimes”, disse Luciano.
Ainda segundo o inspetor, transportar animais domésticos não é crime. Em carros particulares, as pessoas podem fazer sem precisar de um atestado sanitário, que só é exigido para transporte público coletivo. “O problema nessa viagem é que ele acumulou uma quantidade grande de animais em um espaço pequeno: bagageiro e banco traseiro. O local não tinha refrigeração, proteção. Eles estavam em caixas pequenas e desidratados”, relatou.
Só nesse final de semana, a equipe do inspetor Luciano também apreendeu pássaros silvestres em gaiolas e caminhões que estavam burlando a emissão de poluentes, mas apreensão de animais domésticos por maus-tratos é algo incomum. “Acontece mais com galos de rinha e pássaros. Mas nesses 14 anos que tenho de PRF, foi a primeira vez que encontramos cachorros nessa situação”, disse.
Adoção Dos 30 animais que ficaram sob a responsabilidade do Instituto Patruska, dois morreram ainda em Itaberaba. Os outros 28 estão agora internados em Salvador, na Clínica Pet Vida, em Stella Maris. Dois já precisaram passar por transfusão de sangue e lutam pela vida. Nenhum, no entanto, poderá ainda ser adotado. “Depois que eles se recuperarem, eles passarão por procedimentos de saúde, como vermifugação, castração e vacinação. Só depois poderão ser adotados. E assim vamos fazer o procedimento de entrevista de adoção para famílias cuidarem desses animais. Para a adoção ocorrer, todas as pessoas da família têm que ter disponibilidade para cuidar deles, saberem que o animal faz parte da família, ter condições financeiras para promover alimentação e assistência médica, assinar um termo de responsabilidade e permitir o nosso acompanhamento”, disse Patruska. A previsão é de que os filhotes possam ser adotados em um período de, no mínimo, 60 dias. No entanto, o instituto lembra que já possui cerca de 200 animais disponíveis para adoção imediata. Patruska, inclusive, fez um apelo contra a venda de animais. “A gente é contra a venda exploratória, pois ela alimenta essa crueldade. As pessoas que compram baratinho podem financiar o crime. Ela vai adquirir um animal que conseguiu sobreviver para tantos outros que morreram no caminho por causa dos maus-tratos”, afirmou.
A sugestão, portanto, além da adoção, seria a compra consciente. “Se você quer comprar um animal de raça, busque um criador responsável, não vá em pet shop, conheça os pais, vá até o local onde eles vivem, veja como eles estão sendo cuidados”, disse Patruska. Os filhotes da raça shih tzu podem custar de R$ 1,2 mil a R$ 2,5 mil. “Menos que isso é para desconfiar da procedência. Infelizmente, os pet shops não têm como oferecer uma garantia de que eles não sofreram crueldade”, disse.
Quem quiser ajudar o Instituto Patruska a cuidar dos 28 filhotes, pode entrar em contato com eles através do Instagram @institutopatruska ou pelo telefone (71) 99933-1450.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.