Acesse sua conta

Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Recuperar senha

Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Dados não encontrados!

Você ainda não é nosso assinante!

Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *

ASSINE

Após mais de 160 anos, Trem do Subúrbio encerra atividades; usuários se despedem

VLT substituirá equipamento tradicional, que para de funcionar na segunda (15)

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 13 de fevereiro de 2021 às 05:30

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Depois de mais de 160 anos de serviço, o Trem do Subúrbio vai ser aposentado nessa segunda-feira (15), e os cerca de seis mil usuários dos trens de Salvador têm até este sábado, às 19h30, para se despedir deles. Pela última vez, os velhos trens vão correr os 13,5 km de trilhos que ligam Paripe e Calçada e fazem parada em dez estações em bairros do Subúrbio Ferroviário.

Fim de uma era para a chegada de outra. O governo do estado vai dar início à nova etapa das obras do Veículo Leve de Transporte (VLT). Entre os usuários, uns defendem a mudança e focam nos benefícios, e outros lamentam o aumento de preços e o apagamento de tanta história. 

Jacira Silva, de 68 anos, desenvolveu uma relação especial com o trem. Professora de História, ela leva, todos os anos, seus alunos para conhecerem o modal, enquanto conta a história ferroviária de Salvador. Na sexta (12), foi dia de fazer a última viagem, desta vez sem os alunos, por conta da pandemia, apenas ao lado do filho. 

Para a professora, o VLT poderia ser implantado sem a desativação dos trens. “Acabar com o trem é acabar com a história, deixar ela somente para os livros. Ver isso tudo ruir de repente dá um nó na garganta. Eu não acredito que o progresso signifique destruição da história”, diz ela, emocionada.

Para a despedida, o plano foi parar em cada estação e relembrar a história de cada uma delas. “Hoje eu vim fazer a minha última viagem. Quero perpetuar essa história na minha memória e poder continuar passando ela adiante, mantendo ela viva de alguma forma”, conclui Jacira.  

Quem também vai sentir falta do serviço é a comerciante Rose Freitas, de 33 anos. Ela mora no Lobato e utiliza o trem todos os dias, para chegar na estação da Calçada, onde tem uma barraquinha de frutas. Ela diz que o novo custo da passagem vai pesar no bolso e teme que, com a desativação, as vendas entrem em queda. 

“Agora vai aumentar muito o nosso gasto. Eu gastava um real por dia, vou gastar quase nove. Vai pesar muito, até por conta do comércio, que é forte por causa do ponto na porta da estação. Aqui é passagem mesmo de todo mundo. Vou tentar uma ou duas semanas aqui, para ver como fica. Todos os ambulantes aqui estão muito desanimados, preocupados”, diz Rose.  Foto: Arisson Marinho/CORREIO Segundo a Companhia de Transportes da Bahia (CTB), a passagem custa R$ 0,50 (inteira) e R$ 0,25 (meia), com viagens a cada 40 ou 45 minutos. Os trens operam das 6h às 20h, e a passagem é gratuita para maiores de 60 anos. Com a mudança, os passageiros terão que passar a desembolsar R$ 4,20 por viagem. 

Uma pesquisa realizada em 2019 pelo Bákó Escritório Público de Engenharia e Arquitetura da Ufba, Ministério Público estadual e Tec&Mob, apontou que 42% dos usuários do trem ganhavam, à época da pesquisa, menos que um quarto do salário mínimo e estavam abaixo da linha da pobreza.

O perfil traçado apontou ainda que 90% dos usuários eram negros, 80% chegavam à estação do trem a pé e cerca de 70% afirmaram que deixarão de utilizar a linha ou reduzirão o uso após a mudança do modal.

Devido a esse cenário, o Ministério Público estadual, por meio da promotora de Justiça Hortênsia Pinho, ajuizou na quinta-feira (11) uma petição para solicitar que a Justiça impeça a paralisação do trem do subúrbio marcada para a próxima segunda-feira (15). Segundo a promotora de Justiça, a paralisação deve ocorrer de forma escalonada e deve ser divulgada para a população com prazo mínimo de 30 dias, possibilitando uma prévia adaptação dos usuários que não têm condições de arcar com a alteração de valor. “A divulgação ocorreu apenas dez dias antes da paralisação. Um total desrespeito com aqueles que dependem do modal para se locomover”, destacou Hortênsia Pinho.

Mas há também quem concorde com a desativação dos trens. Para a aposentada Marizete Araújo, de 65 anos, o VLT vai valorizar a região mais carente da cidade. “Vai ser ótimo para o Subúrbio, para a periferia. A gente precisa de melhorias, de modernidade. É um desrespeito com o ser humano isso aqui ainda estar funcionando, porque toda hora quebra, é um perigo. Já passou da hora de mudar isso aqui”, opina Marizete, que diz evitar pegar o trem, preferindo outros meios de transporte. 

Mudança Segundo informações da Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB), a implantação do VLT vai provocar a realocação de aproximadamente 360 famílias do local. Ainda de acordo com a Companhia, todas elas terão seus imóveis avaliados individualmente e receberão as indenizações justas. A escolha do novo lar será feita com assistência, e as famílias receberão desde apoio jurídico para a aquisição da nova casa, até suporte para a mudança.

A região do Subúrbio, após a conclusão das obras do VLT, ganhará um museu ferroviário e um centro comercial de serviços na região.

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Sedur), com o VLT, serão 25 estações e 23 km de extensão. O investimento a ser aplicado é de R$ 2 bilhões e a previsão é de geração de 2.200 empregos.

O percurso terá duas linhas. A principal vai sair da Ilha de São João, em Simões Filho, passando por todo o Subúrbio, Estação Acesso Norte, Lapa, Aeroporto, Iguatemi e Pirajá. A outra linha, na altura da Via Expressa, passa pelo Comércio, com estação final no Instituto do Cacau.

Segundo a Sedur, a desativação dos trens e implantação do VLT é uma questão necessária. “O trem já pararia naturalmente, porque é um trem cinquentenário, que você não acha mais peça de reposição. Na gestão João Henrique, tentaram fazer uma modernização de três unidades, que não vingou. Temos hoje só dois funcionando e outros dois de reserva”, explica o secretário da pasta, Nelson Pelegrino.  

Pelegrino também destaca as vantagens que a mudança trará para a população. Segundo ele, quem leva cerca de duas horas para chegar ao destino final vai passar a fazer viagens de 50 minutos, contando com ar-condicionado e Wi-fi. Além disso, o tempo de espera, hoje de cerca de uma hora, será de quatro minutos.  

“Assim como o metrô foi uma revolução, que transportava 400 mil pessoas por dia antes da pandemia, isso acontecerá no subúrbio. É uma revolução. Vamos sair de um sistema precário para um sistema moderno”, completou o secretário.

O secretário Nelson Pelegrino informou ainda que ainda não há definição de qual destino será dado aos trens, mas que eles devem compor museus da capital e também de outros estados.  (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) História A linha, que hoje se resume às dez estações da cidade de Salvador, costumava cortar toda a Bahia, aproximando o território aos estados vizinhos numa malha que interligava o país. A via férrea foi inaugurada em 1860, conectando Salvador a Alagoinhas. Era a quinta ferrovia a ser construída no Brasil e a primeira na Bahia. 

Com o passar dos anos, o número de estações foi reduzindo e a distância, com as reformas, também. Em 1972, a viagem ia até Simões Filho. O desenho atual é do início dos anos 1980. Em 2005, a gestão do trecho ferroviário entre as estações da Calçada e Paripe era de responsabilidade da Prefeitura de Salvador, porém em maio de 2013 o sistema foi transferido para o Estado, juntamente com as obras do metrô, passando a ser administrado pela Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB).

Operação especial Com o fim da operação dos trens no Subúrbio de Salvador, a Secretaria de Mobilidade (Semob) montou uma operação assistida para atender a nova demanda de passageiros que devem passar a utilizar o transporte público através dos ônibus na região. A operação terá início na segunda-feira (15), mesmo dia em que os trens deixarão de circular.

Os agentes de trânsito e transporte estarão na região para observar a demanda de passageiros e realizar os ajustes necessários. Veículos da frota reguladora ficarão em pontos estratégicos, reforçando o atendimento, principalmente nos horários de pico. 

Serão oito veículos das 5h30 às 9h, dos quais quatro ficarão em frente ao centro de abastecimento de Paripe e quatro no Largo do Luso. No pico da tarde, das 16h às 19h, oito veículos da frota reguladora ficarão à disposição no Terminal da França.

Integração  Os passageiros que utilizarem os ônibus poderão agora contar com a integração, opção que não era contemplada pela operação de trens. A integração poderá ser feita entre ônibus convencionais, Stec ou mesmo com o metrô, pagando apenas uma passagem pelo período de 2h, utilizando o Salvador Card. Após a conclusão das obras do VLT, a integração também irá contemplar o novo modal.

Equipes do Salvador Card estarão com promotores de vendas no ponto de ônibus do Centro de Abastecimento de Paripe, na Estação do Trem de Periperi e no Largo do Luso entregando o Bilhete Avulso, que pode ser utilizado por qualquer pessoa sem a necessidade de uma identificação. A entrega será gratuita apenas para o cartão, que custa normalmente R$5. Já as passagens devem ser adquiridas pelo usuário. 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.