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Vinicius Nascimento
Publicado em 9 de janeiro de 2021 às 19:22
- Atualizado há 2 anos
A relação entre a população de Uauá, cidade do norte do estado a cerca de 430 km da capital Salvador, e o fornecimento de água feito pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) é conflituosa e não é de hoje. Não são raros os relatos de uauaenses que já passaram 10, 15, 17 dias sem ver uma gota sequer saindo de suas torneiras - mesmo com as contas pagas em dia.>
A situação é atual e fica ainda mais grave quando no meio de uma pandemia que exige medidas de higienização frequente dos espaços, das roupas e do corpo para garantir a saúde e prevenção contra um vírus que já matou quase 9,5 mil pessoas no estado. E mesmo no meio da pandemia, Uauá está sem o fornecimento de água há cerca de 4 dias.>
O advogado Maximiliano Miguel, 41, é um dos cidadãos que sofre com a falta de água na cidade. Sem o fornecimento da embasa, ele conta com uma cisterna própria para ter abastecimento em sua casa e ajudar alguns vizinhos. Nos últimos 3 meses, o município registrou sequências de 17 e 12 dias sem cair água para ninguém.>
"A última vez que caiu água aqui foi na terça-feira e sabe lá Deus que dia vai cair. A situação é horrível e ainda falta uma comunicação melhor da Embasa. Mesmo quando tem algum dano no encanamento eles não avisam, não dão um informe para a população ficar atenta e economizar", disse.>
Como se já não fosse o bastante, a falta de água não é o único problema: até quando cai, a população sofre. Maximiliano relata que o mais comum é cair água durante a madrugada e aí só há dois caminhos: quem tem um reservatório, dá graças a Deus. Quem não tem, precisa ficar aceso durante a madrugada para poder lavar roupa e armazenar água em baldes para fazer as coisas de casa como cozinhar, lavar pratos e beber água.>
Esse é o caso da empregada doméstica Eliane Gomes. A rotina dela é puxada, com afazeres durante todo o dia desde muito cedo. E toda essa labuta não acaba nem na hora que chega em casa para descansar porque precisa ficar acordada aguardando para ver se a água chega.>
"Eu moro aqui há três anos e sempre teve esse problema. Sempre. É muito humilhante, muito triste e injusto. Como é que uma pessoa vive sem uma gota de água em casa?", questiona.>
Com a pouca quantidade de água, tudo é racionado. Eliane conta que coisas simples como abrir o chuveiro são simplesmente impossíveis em sua casa. Tomar um banho com esse "luxo", custa o sacrifício de não poder lavar uma roupa ou um copo que seja durante quase uma semana.>
"A gente tem que economizar em tudo. Toma banho de caneca, lava um prato do mesmo jeito. É algo insuportável", conta.>
Procurada, a Embasa afirmou que, no dia 24/12, a adutora de água bruta entre Pilar e Uauá apresentou um vazamento que foi corrigido no dia seguinte. De acordo com a empresa, sse fato agravou a irregularidade no fornecimento de água na cidade, que depende de captação de água bruta no sistema da Caraíba Metais em Pilar, distrito de Jaguarari, e o volume que pode ser captado para tratamento não é suficiente para atender com folga a demanda. Por isso, a distribuição de água tratada na cidade de Uauá e em Pilar é feita em regime de alternância.>
A Embasa afirma que recisa investir R$ 25 milhões para perfurar dois poços em Canudos e implantar 30 quilômetros de adutora, atendendo dessa forma o distrito de Bendengó e a sede de Uauá.>
"No entanto, o município não assinou contrato de programa com a Embasa. Essa situação gera insegurança jurídica para a empresa realizar um investimento de tal monta no município sem haver, no momento, uma solução legal possível prevista no novo marco legal do saneamento, vigente desde julho deste ano e que proíbe o contrato de programa entre municípios e empresas estaduais de saneamento no país", diz a Embasa, em nota.>
O CORREIO não conseguiu contato com a Prefeitura Municipal de Uauá.>
Contas Apesar do problema com o abastecimento ser reocnhecido pela própria Embasa, as cobranças chegam em dia. Eliane conta que já recebeu a fatura, no valor de R$30, para ser paga até o próximo dia 2 de fevereiro. Suas torneiras não viram uma gota de água sequer no ano de 2021.>
Maximiliano diz que a sua última fatura veio com a cobrança de um valor referente a 18 m³ de consumo de água - o maior dos últimos 4 meses. Como dito anteriormente, o último mês chegou a quase 17 dias seguidos sem fornecimento.>
Questionada, a Embasa alegou que sua cobrança é feita pela quantidade de água que passa pelo hidrômetro, ou seja, "pelo volume de água efetivamente entregue no domicílio", mas não explicou o porquê dos valores serem cobrados a quem diz não receber abastecimento.>