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Georgina Maynart
Publicado em 7 de janeiro de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Com plantios iniciados, cultivos em andamento, máquinas em campo e próximas safras já projetadas, a agropecuária segue um calendário próprio. O ano agrícola começou faz tempo em muitas áreas rurais da Bahia. Os agricultores estão no meio da safra de soja no Oeste, colhendo uvas no norte do estado, e regando outras frutas em vários municípios do Baixo Sul. >
Entre safras e entressafras, o jornal CORREIO traz um painel dos frutos gerados pelo campo em 2018, e destaca as expectativas de alguns segmentos para 2019. As principais estimativas indicam que este ano será um ano promissor para a maioria dos setores agrícolas, caso não haja grandes variações climáticas inesperadas. O cenário internacional e a valorização das commodities trazem uma tendência de vantagem para os produtores brasileiros.>
Segundo o Ministério da Agricultura, cinco produtos, que lideraram a produção agropecuária nacional, devem continuar se destacando no próximo ano. Fazem parte deste grupo a soja, cana de açúcar, milho, algodão e o café. Juntos, eles geraram 80% do valor bruto de produção das lavouras este ano. É neste contexto que a Bahia segue beneficiada, afinal o estado tem grandes produtores nestes segmentos. >
Cana de açúcar>
Em Juazeiro, a Agrovale - uma das maiores produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade do Brasil - pretende aumentar a produção em aproximadamente 20% em 2019. A empresa está investindo na modernização das operações agrícolas para chegar a uma produtividade média de 120 toneladas de cana por hectare, cerca de 5% a mais do que o patamar obtido este ano. >
“A Agrovale vem investindo cada dia mais em pessoas e tecnologias. Isso nos garante a segurança para que em 2019 possamos aumentar nossa produtividade, seja na geração de açúcar, etanol ou bioeletricidade, de maneira sustentável, sólida e atenta às responsabilidades social e econômica da região em que está inserida”, pontua o diretor e vice-presidente da Agrovale, Denisson Flores.>
A empresa gera 5 mil empregos. Este ano, foram moídos 1,7 milhão de toneladas de cana em área irrigada, produzidos cerca de 2,4 milhões de sacos de açúcar, e 64 milhões de litros de etanol. Nos campos do norte da Bahia foram gerados ainda 20 mil megawatts de energia a partir do bagaço de cana. >
Cerca de 90% dos produtos que saem dos canaviais são consumidos na Bahia, os outros 10% são direcionados para outros estados do Nordeste.>
Florestas plantadas>
Segundo os principais indicadores, a demanda global por celulose também continuará crescente. Por conta disso, o Brasil deve ampliar a produção e o plantio de florestas nos próximos anos. O país já é o maior exportador de celulose do mundo, e o segundo maior produtor, atrás apenas dos Estados Unidos. Dados da consultoria Forest2Market do Brasil mostram que o ramo deve crescer 8% ao ano, principalmente para atender aos mercados chinês, norte-americano e europeu.>
A celulose já está consolidadano topo dos produtos semifaturados da economia baiana. Em 2018, as vendas do produto representaram 17% do total das exportações do estado, segundo o Ministério do Comércio Exterior. Na balança comercial brasileira, a matéria-prima, produzida a partir de árvores plantadas, dividiu o pódium com a soja.>
“Apesar da calmaria na economia, foi um ano de muito movimento para o setor, com melhoria dos preços e das quantidades exportadas, além de uma significativa junção de duas empresas líderes no Brasil, que são a Fibria e Suzano”, analisa Wilson Andrade, presidente da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf).>
Em 2019, o ramo pode ser ainda mais alavancado por outras cinco cadeias produtivas que precisam de madeira e derivados. A indústria de papel, o setor de construção civil, o de grãos - que pode utilizar cavaco de madeira no processo de aquecimento - e os setores de mineração e de energia, que, entre outras funções, utilizam a biomassa da madeira para acionar caldeiras. >
Cerca de 10% das florestas plantadas do Brasil estão na Bahia, elas ocupam 700 mil hectares no estado. A melhoria na logística é um dos principais desafios para 2019.>
“Somos muito competitivos dentro da cancela, nas propriedades, mas na hora do embate logístico saímos perdendo. É preciso gerar incentivos fiscais, desburocratizar os licenciamentos, cuidar dos portos e rodovias, o escoamento da produção e os serviços como eletricidade. O que nos dá confiança é o compromisso assumido pelo novo governo brasileiro em realizar estas mudanças, e em atingir a meta de plantar cerca de 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Um percentual disso deve ser de florestas produtivas, como pinus e eucalipto. Há um círculo futuro que nos estimula, e indica que teremos anos promissores pela frente, seja para as florestas, seja para as fibras”, explica Andrade.>
Segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), as exportações cresceram 26% entre janeiro e outubro de 2018, gerando 8 bilhões de dólares para o país.>
Grãos e cereais>
Os grãos, cereais e as chamadas oleaginosas, continuam em alta. Apenas o chamado “complexo soja” aumentou em mais de dois pontos percentuais a participação nas exportações baianas, totalizando 22% de todas as mercadorias enviadas para fora do país este ano.>
A soja triturada passou a responder por 17% das exportações, enquanto o farelo e os resíduos da extração de óleo correspondem a 5%. A venda do grão para outros países rendeu a economia baiana US$ 1,35 bilhão este ano.>
A soja se consolida como principal commodity brasileira, ultrapassando inclusive os óleos brutos de petróleo, os minérios de ferro e concentrados. Analistas apontam que a guerra comercial entre Estados Unidos e China pode beneficiar a produção brasileira. Os agricultores do Oeste da Bahia estão otimistas quanto a safra de 2019.>
“A área de soja está toda plantada, e a condição da lavoura é boa. Torcemos para que continue assim e possamos ter uma boa safra. Estamos otimistas também quanto as demais lavouras, como milho e feijão, onde esperamos aumento da produtividade”, afirma Celestino Zanella, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (Aiba).>
Entre os entraves enfrentados pelos agricultores destaimensa fronteira agrícola estão as deficiências emserviços essenciais, como energia elétrica. “Nós temos o desafio de conseguir uma distribuição adequada de energia elétrica. Temos pouca energia disponível, menos do que precisamos. É preciso ampliar o sistema de distribuição, mas temos certeza que os governos vão continuar fazendo ações positivas em relação ao oeste”, conclui Zanella.>
Os problemas de infraestrutura ainda persistem nesta área do estado. Entre as obras mais urgentes, os produtores rurais esperam a pavimentação de cerca de 200 quilômetros da BR-030, entre Cocos e Jaborandi, e a continuação da BR-020, ligando a Bahia até São Raimundo, em Pernambuco. >
Segundo dados da Receita Federal, divulgados esta semana, este ano os agricultores da região pagaram o maior volume de impostos dos últimos sete anos. Os municípios de São Desidério, Formosa do Rio Preto e Correntina, fecharam o ano liderando a lista dos maiores arrecadadores com áreas agrícolas no Oeste da Bahia. >
Os agricultores destes três municípios pagaram mais de R$ 17 milhões em impostos. Somando com outros municípios, como Barreiras, Cocos, Jaborandi, Baianópolis, Luís Eduardo Magalhães e Riachão das Neves, a marca de impostos pagos ultrapassa os R$ 26,5 milhões.>
"Com essa arrecadação, gostaríamos que as prefeituras revertessem parte desse valor para a manutenção das estradas vicinais firmando, por exemplo, a parceria com Programa Patrulha Mecanizada, que já tem uma estrutura e vem trabalhando com investimento de outros fundos dos agricultores como o Fundeagro e Prodeagro. Alguns municípios como Luís Eduardo Magalhães já são parceiros e vem ampliando a quantidade de estradas recuperadas facilitando o trânsito para todas as pessoas, que moram nas localidades da zona rural e em fazendas, e para o escoamento da safra", explica Júlio Cézar Busato, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa).>
Seca e chuva excessiva afetam desempenho do setor>
O ano de 2018 foi marcado por extremos para os agricultores baianos. Muitos produtores perderam safras devido à seca ou chuva excessiva. Foi assim no nordeste do estado com os produtores de milho e feijão, que viram fracassar mais de 95% das lavouras por causa da severa estiagem. Também é o que está ocorrendo com alguns produtores de uva da região norte do estado, atingidos pelas chuvas torrenciais registradas no fim de novembro.>
Já no Oeste, os agricultores colheram excelentes safras. Foram mais de 9,3 toneladas de grãos, cereais e oleaginosas. Um desempenho bem acima das melhores estimativas, e que fez a Bahia subir para a sétima posição no ranking nacional dos maiores produtores de grãos do país, superando São Paulo. A produção de algodão foi a segunda melhor da história, alcançou 1,2 milhão de toneladas de algodão.>
O bom desempenho também foi registrado nos cafezais. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revelam que a Bahia atingiu o maior volume de produção de café da história. Foram mais de 4,55 milhões de sacas, com produtividade média recorde de 35 sacas por hectare. O uso de tecnologia de irrigação e as mudanças no manejo da lavoura teriam influenciado no resultado. >
Cerca de 11% da produção de café saiu do cerrado baiano, 30% do planalto da Conquista e 59% da região sul, da área do chamado café atlântico.>
A fruticultura ganhou robustez com a primeira safra produtiva de amoras e framboesas da Chapada Diamantina. Acompanhadas dos tradicionais morangos, estas outras frutinhas vermelhas já podem ser encontradas nos municípios de Mucugê e Barra da Estiva. Outros dois polos se destacaram. O Vale do São Francisco com as uvas e mangas voltadas para exportação, e o Baixo Sul com a diversidade marcante da região de Gandu e Teolândia, que se tornaram grandes produtores de graviola, maracujá e banana da terra. >
O censo agro do IBGE revelou um novo perfil da agropecuária do estado:>
* Ocupando áreas menores, os agricultores estão produzindo mais, graça a tecnologia. >
* Os homens ainda são maioria da administração das propriedades, mas as mulheres avançaram nos postos de comando e já ocupam 25,6% da gestão das propriedades rurais. >
* Já na infraestrutura e na educação, os dados continuam preocupantes. Cerca 32% dos produtores rurais que ocupam postos de comando são analfabetos, um em cada quatro estabelecimentos agropecuários não tem energia elétrica, e 75,9% não tem acesso a internet. >
* Ferrovias inacabadas, estradas não pavimentadas e falta de assistência técnica, completam o balanço negativo dos problemas que atrapalham o avanço do setor.>
Agricultura familiar vem perdendo espaço na Bahia>
Dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) revelaram que a agricultura familiar vem perdendo espaço na Bahia. Segundo o último levantamento realizado entre 2010 e 2015, e só divulgado este ano, a participação da agricultura familiar caiu de 43,2% para 32,4% na estrutura da agropecuária baiana. >
A seca e a expansão da agricultura comercial, voltada para a produção de commodities, são apontadas como fatores desta redução. Junta-se a isso a crise econômica e política que afetou o Brasil nos últimos anos.>
Os especialistas e representantes do segmento defendem a oferta de mais recursos do governo federal para os pequenos agricultores, e a flexibilização dos bancos na liberação de crédito para capital de giro. >
“O principal desafio para 2019 é ajudar o agricultor a se organizar, para que ele possa fortalecer a gestão do negócio, se consolidar no mercado, beneficiar os produtos e passar a ser fornecedor. É preciso incentivar a implantação de agroindústrias. O agricultor já sabe que através de associações e cooperativas ele pode ganhar mercado, agregar valor e produzir alimentos mais saudáveis com base na agroecologia. Temos a disposição do governo do estado para aumentar estes recursos e dar continuidade a estes investimentos”, afirma Jerônimo Rodrigues, secretário de Desenvolvimento Rural da Bahia.>