Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Bruno Wendel
Publicado em 31 de janeiro de 2020 às 15:00
- Atualizado há 2 anos
Foto: Acervo pessoal No Brasil não existe pena de morte, segundo a Constituição Federal brasileira. Em Salvador, porém, algumas facções criminosas fazem suas próprias leis. O adolescente Iuri Wanderson, de apenas 16 anos, foi uma das vítimas mais recentes dessa barbárie.
Nesta terça-feira (28), o garoto foi sentenciado à morte simplesmente porque colocou os pés em Jaguaripe, na região de Cajazeiras. A execução foi realizada por traficantes do Comando da Paz (CP), ao descobrirem que o rapaz era morador da Fazenda Grande do Retiro, área da rival Bonde do Maluco (BDM). Os dois grupos vivem uma guerra.
Iuri tinha ido ver a namorada quando foi sequestrado, torturado, morto e esquartejado. O corpo foi encontrado nesta quinta (29), em uma mata, numa espécie de cemitério clandestino. Após passar por perícia, somente na manhã desta sexta (31), os restos mortais dele foram liberados do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLRN) para ser enterrado. A cerimônia aconteceu por volta das 10h30, no cemitério Quinta dos Lázaros.
Devastados, parentes de Iuri contaram que o rapaz estava em Jaguaripe desde o dia 24, na casa de uma namorada, uma jovem de 20 anos."Ele sabia que lá é uma área dominada por uma outra facção, sabia dos riscos, mas ele gostava tanto dela. Não foi a primeira vez que ele foi lá", disse um tio da vítima, que preferiu não se identificar.Após o crime, a namorada de Iuri e a mãe da jovem abandonaram o imóvel onde moravam.
Segundo o tio, Iuri estava com a namorada quando um grupo de homens armados da região invadiu o local, por volta das 17h de terça. Ele correu, conseguiu pular o muro e, durante a fuga, ainda conseguiu enviar uma mensagem para o celular da mãe pedindo socorro.“Ele enviou um áudio dizendo: ‘mãe, chama a polícia, eles querem me pegar, mãe’. Ela acionou um serviço de transporte de aplicativo, mas vários motoristas recusaram porque o local é perigoso”, lamentou o tio. Imagens Iuri chegou a correr por alguns quilômetros, mas foi alcançado e arrastado para uma região de mata e executado. A notícia da morte dele não demorou muito de chegar à família. A mãe, que estava desesperada com o pedido de socorro do filho, foi à 13ª Delegacia (Cajazeiras XI) em busca de ajuda. Enquanto conversava com o policial, o celular dela não parava de vibrar.
Quando abriu um aplicativo pelo qual recebia as mensagens de um número desconhecido, a mulher entrou em desespero. “Eram fotos e vídeos de Iuri. As primeiras fotos mostravam ele sentado na frente de uma porta, com olhar sério e ferimentos no joelho e braço, como se tivesse apanhado. Na segunda foto, ele aparece fazendo o sinal de uma facção rival (BDM) e dava para ver que ele foi obrigado a fazer o símbolo", narra o tio.
Ele contou ainda que a mãe de Iuri começou a gritar quando viu um vídeo enviado por este mesmo número. "Nas imagens seguintes, ela começou a gritar na delegacia. Ela recebeu uma foto de Iuri logo quando morto e, depois, um vídeo dele já esquartejado. Foi terrível”, completou.
Na quarta-feira, agentes do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) foram até Jaguaripe e não encontraram a namorada de Iuri, nem a mãe dela. Em seguida, vasculham a mata e encontram um local idêntico ao mostrado nas fotos enviadas ao celular da mãe do rapaz.
“Os policiais disseram que havia umas dez covas e que Iuri estava em uma delas. Era um cemitério do grupo”, contou o tio do rapaz. Devido à complexidade do local, os restos mortais da vítima foram retirados no início da manhã de quinta pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT).
O CORREIO entrou em contato com a Polícia Militar, que recebeu a denúncia de que um corpo foi encontrado em uma área de vegetação densa do Loteamento Coqueiro Grande, 2ª Travessa Floriano Tibúrcio, em Jaguaripe I, na tarde de quarta-feira (29).
Equipes da 3ª Companhia Independente da PM (CIPM/Cajazeiras) foram até o local, isolaram a área e chamaram o Corpo de Bombeiros Militar e o Serviço de Investigação em Local de Crime (Silc), para realização da perícia e remoção do corpo.
A reportagem também procurou a Polícia Civil, que informou por meio de nota que o crime é investigado por equipes da 2ª Delegacia de Homicídios (DH/Central). No documento, a pasta informa que apreenderam um outro adolescente, suspeito de envolvimento no caso, e o encaminharam para a Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI). Outros suspeitos estão sendo investigados e a motivação está sendo apurada.