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Da Redação
Publicado em 13 de julho de 2021 às 15:22
- Atualizado há 2 anos
O youtuber Felipe Neto criticou nesta terça-feira (13) a decisão da Fundação Nacional de Artes (Funarte) de negar autorização para que o Festival do Jazz do Capão, na Bahia, captasse recursos através da Lei Rouanet. A justificativa inclui uma postagem antifascista feita no ano passado nas páginas do evento. A proibição foi divulgada ontem pela organização do festival e recebeu várias críticas. Secretário da Cultura, Mario Frias rebateu algumas pessoas e ameaçou outras de processo após ser chamado de "otário" e "fascista".
"Mario Frias, o secretário de cultura, diz que vai processar todo mundo que xingá-lo. Ele está sendo venerado por Silas Malafaia, Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli. O motivo? Ele barrou um festival de jazz da Bahia pq tinha no título "ANTI-FASCISTA". Mas calma que piora...", escreveu Felipe. "O festival se dizia "anti-fascista e a favor da democracia". Mario Frias impediu a captação de investimento usando a lei. Agora, o MOTIVO dado para barrar: "O objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma”, acrescentou.
Depois, Felipe finalizou: "O Mário Frias está processando criminalmente quem o chama de otário? Mário Frias, eu não te acho otário não. Eu te acho um admirador lambe-botas de genocida e conivente com genocídio praticado pelo seu mestre. Você, aos meus olhos, é uma vergonha para a cultura brasileira".
O secretário respondeu que verá Felipe Neto na Justiça. O youtuber respondeu que não teme esse tipo de ameaça e ainda lembrou que oferta ajuda jurídica em casos do tipo. "Qualquer pessoa que venha a ser processada pelo Mario Frias apenas por expor opinião (lembrando que é preciso se manter dentro da lei) pode procurar o "Cala Boca Já Morreu", disse, linkando site do movimento que organiza.
O caso O parecer contra o festival, anexado no sistema Salicweb, em papel timbrado do Ministério da Cidadania, e datado de 25 de junho de 2021, está assinado pelo coordenador do Programa Nacional de Apoio à Cultura da Funarte, Ronaldo Gomes, que foi exonerado do cargo no dia 2 de julho de 2021. “É um parecer absurdo. Em nenhum momento o parecerista foi analisar o projeto de maneira técnica, artística”, critica o músico Rowney Scott, diretor artístico e idealizador do Festival de Jazz do Capão.
Scott comenta a postagem antifascista que também é citada no parecer. “Ele simplesmente foi na nossa página e achou um post avulso, publicado no ano em que não houve captação de recursos e nem teve evento. Nos posicionamos enquanto um evento antifascista e pela democracia e ele fez o parecer em cima disso, com citações religiosas que desvirtuam completamente do que um parecer deveria tratar”, afirma, citando a postagem feita no dia 1º de junho de 2020.
Baseado nesse post, o documento ao qual o CORREIO teve acesso afirma que “a ocorrência constatada escapa ao escopo das possíveis denominações do conceito de música”. O parecer cita, ainda, uma fala atribuída ao compositor alemão J. S. Bach (1685-1750) que afirma que “o objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da Glória de Deus e a renovação da alma”.
O documento cita, ainda, que “por inspiração no canto gregoriano, a Música pode ser vista como uma Arte Divina, onde as vozes em união se direcionam à Deus” (sic.). Outro argumento de caráter religioso usado no documento diz que “a Arte é tão singular que pode ser associada ao Criador”.
“É uma coisa muito bizarra. Temos mais de 2 mil postagens com workshops, músicas e tudo o que acontece no festival. Ele pinçou um post que não foi bancado com verba pública para fazer o parecer”, criticou Rowney. “Somos seres políticos, temos o direito de ser. A gente não pode deixar passar isso em branco”, defendeu.