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Carol Neves
Publicado em 11 de março de 2025 às 07:33
O ex-presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, foi preso nesta terça-feira (11) pela polícia após o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitir um mandado contra ele por crimes contra a humanidade. A acusação está relacionada à sua violenta "guerra" contra as drogas, que resultou na morte de milhares de pessoas durante seu mandato presidencial, de 2016 a 2022, e também durante seu período como prefeito de Davao. >
Ao chegar ao aeroporto de Manila, vindo de Hong Kong, Duterte, de 79 anos, foi detido. Ele não demonstrou arrependimento pelas ações brutais de seu governo, questionando a legitimidade do mandado: "Que crime cometi?". Seu ex-porta-voz, Salvador Panelo, criticou a prisão, chamando-a de "ilegal", já que as Filipinas deixaram o TPI em 2019. No entanto, o tribunal afirmou que mantém jurisdição sobre crimes supostamente cometidos antes da saída do país.>
Ativistas de direitos humanos celebraram a detenção como um "momento histórico". Peter Murphy, presidente da Coalizão Internacional pelos Direitos Humanos nas Filipinas (ICHRP), declarou: "O arco do universo moral é longo, mas hoje ele se curvou em direção à justiça. A prisão de Duterte é o início da responsabilização pelos assassinatos em massa que definiram seu governo brutal".>
Duterte estava em Hong Kong para promover sua candidatura à prefeitura de Davao nas eleições de meio de mandato, marcadas para 12 de maio. Imagens televisivas mostraram o ex-presidente saindo do aeroporto com uma bengala. As autoridades afirmaram que ele está com a "saúde boa" e sob cuidados médicos governamentais.>
Antes de deixar Hong Kong, Duterte dirigiu-se a uma multidão de filipinos, dizendo: "Qual é o meu pecado? Fiz tudo na minha época pela paz e por uma vida pacífica para o povo filipino". Um vídeo postado por sua filha, Veronica Duterte, mostrou-o sob custódia na Base Aérea de Villamor, em Manila, onde ele questionava: "Qual é a lei, e qual é o crime que eu cometi? Não fui trazido para cá por vontade própria, mas por vontade de outra pessoa. Você tem que responder agora pela privação de liberdade".>
"Guerra às drogas">
A "guerra às drogas" de Duterte, iniciada durante seu mandato como prefeito de Davao, transformou a cidade em uma das mais seguras do país. No entanto, sua abordagem violenta resultou na morte de mais de 6 mil suspeitos, segundo dados oficiais, embora organizações de direitos humanos afirmem que o número real é muito maior. A ONU relatou que a maioria das vítimas eram jovens pobres de áreas urbanas, e que a polícia frequentemente forçava confissões sob ameaça de violência letal.>
Críticos argumentam que a campanha visava principalmente pequenos traficantes, sem atingir os grandes líderes do tráfico. Muitas famílias alegaram que suas vítimas estavam simplesmente no lugar errado na hora errada. Investigações parlamentares sugeriram a existência de um "esquadrão da morte" que agia sob ordens de Duterte, algo que ele sempre negou. Durante uma investigação em outubro, ele afirmou: "Não questione minhas políticas porque não peço desculpas, não dou desculpas. Fiz o que tinha de fazer e, quer você acredite ou não... Eu fiz isso pelo meu país".>
O TPI iniciou sua investigação em 2021, cobrindo casos desde novembro de 2011, quando Duterte era prefeito de Davao, até março de 2019. Conhecido como o "Donald Trump do Leste", Duterte ganhou popularidade por sua retórica populista e por ser o primeiro líder filipino originário de Mindanao, uma região historicamente marginalizada. Ele frequentemente usava o cebuano, idioma regional, em vez do tagalog, mais comum na capital.>
Sua filha, Sara Duterte, atual vice-presidente, é vista como uma potencial candidata à presidência em 2028. Recentemente, a aliança da família Duterte com o atual presidente, Ferdinand Marcos Jr., desmoronou publicamente. Inicialmente, Marcos se recusou a cooperar com o TPI, mas, com o desgaste do relacionamento, mudou de posição, indicando que as Filipinas poderiam colaborar. Ainda não está claro se ele permitiria a extradição de Duterte para ser julgado em Haia, sede do TPI.>