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Papa ou papisa? Saiba se uma mulher pode liderar a Igreja Católica

Lenda com história de Papisa Joana ainda gera debates

  • Foto do(a) author(a) Carol Neves
  • Carol Neves

Publicado em 21 de abril de 2025 às 17:32

Papisa Joana em pintura antiga
Papisa Joana em pintura antiga Crédito: Reprodução

A Igreja Católica nunca teve uma mulher oficialmente reconhecida como papa. Ao longo de seus mais de dois mil anos de existência, o posto máximo da hierarquia católica foi ocupado exclusivamente por homens. A razão, segundo especialistas, está menos na doutrina e mais na tradição histórica da instituição.

De acordo com o reverendo Thomas Reese, citado pela Live Science, a principal barreira é o fato de que apenas padres podem ser eleitos para o papado — e, pelas regras da Igreja, mulheres são proibidas de exercer o sacerdócio. Desde 1455, com o papa Calixto III, todos os papas foram sacerdotes ordenados. E desde Urbano VI, todos eram também cardeais. Como a ordenação feminina não é permitida, mulheres ficam automaticamente excluídas da possibilidade de ocupar o cargo de papa.

Essa posição é sustentada com base na escolha dos 12 apóstolos por Jesus, todos homens, o que, segundo a tradição, teria estabelecido um modelo a ser seguido. A socióloga Michele Dillon, da Universidade de New Hampshire, afirma à revista Aventuras na História que “mesmo que o papa atual fosse a pessoa mais feminista que você poderia conhecer e acreditasse que as mulheres deveriam ser padres, eles querem ser fiéis ao que veem como as intenções de Jesus”. Para ela, a Igreja interpreta que, se Cristo quisesse mulheres como sacerdotes, teria chamado mulheres para serem apóstolas.

A argumentação inclui ainda a ideia de representação na liturgia. Durante a celebração da missa, os padres pronunciam as palavras de Jesus na Última Ceia — “fazei isto em memória de mim” —, e a tradição defende que essa representação deve ser feita por um homem. A Igreja vê nessa continuidade uma fidelidade simbólica e corporal ao Cristo histórico.

Apesar de parte dos fiéis e alguns teólogos defenderem a ordenação de mulheres, a possibilidade de mudança é considerada remota. A discussão ganhou força no papado de João Paulo II, que reafirmou a proibição e classificou o debate público sobre o tema como falta de respeito à tradição. Em 2013, pouco antes de renunciar, Bento XVI endossou essa posição e o Vaticano repreendeu uma conferência de mulheres religiosas por não condenar fortemente a proposta. Para Michele Dillon, “as chances de que a Igreja mude sua postura são muito, muito mínimas”.

'Papisa' Joana

No entanto, há um episódio lendário que desafia essa narrativa. É uma história centenária que afirma que entre os papas da história pode ter existido uma mulher. A chamada papisa Joana teria assumido o cargo após a morte do papa Leão IV, por volta do ano 855, e permanecido no trono de Pedro por dois a três anos. Joana teria escondido sua identidade e, durante uma procissão, entrou em trabalho de parto. Foi então descoberta e, conforme a lenda, apedrejada até a morte.

A existência de Joana não é reconhecida pela Igreja, e historiadores contemporâneos apontam a falta de evidências para confirmá-la. Ainda assim, sua história é contada há mais de 700 anos, aparece em crônicas medievais e inspirou pinturas, filmes e até a carta da Papisa no baralho de tarô. Um monge beneditino da época, Mariano Escoto, escreveu: “O papa Leão morreu nas calendas de agosto e foi sucedido por Joana, uma mulher, que reinou durante dois anos, cinco meses e quatro dias”.

Há ainda relatos de uma estátua em Roma com a inscrição “Perdoa, Pai dos Pais, o parto traído da papisa” e de um decreto que proibia incluir o nome de Joana na lista oficial de papas. Esses indícios alimentam a tese de que sua existência teria sido deliberadamente apagada da história e transformada em tabu. Segundo Toniol, “no contexto do catolicismo, a ideia de uma papisa mulher só pode ser uma invenção dos inimigos da Igreja”, refletindo a resistência histórica da instituição em aceitar mulheres em posições de poder.

Enquanto o debate sobre a ordenação feminina permanece praticamente encerrado dentro do Vaticano, narrativas como a da papisa Joana seguem vivas na cultura popular. Para muitos, ela é símbolo da exclusão histórica das mulheres na Igreja; para outros, apenas uma lenda.