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Carol Neves
Publicado em 9 de fevereiro de 2025 às 09:44
A Comissão Europeia deu um passo importante no reconhecimento dos insetos como fonte alternativa de proteína para a alimentação humana. Em janeiro, a comissão aprovou o uso de pó de larvas de Tenebrio molitor, conhecido como verme da farinha, tratado com luz ultravioleta (UVB) em alimentos como pães, massas e itens de panificação. A decisão foi tomada após uma avaliação científica rigorosa pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), que garantiu que o produto não representa riscos à saúde humana. O pó é produzido a partir de larvas inteiras de Tenebrio molitor, que são tratadas termicamente e moídas, e será comercializado como um "novo alimento" no mercado europeu.>
O conceito de "novo alimento", estabelecido pela Comissão Europeia, refere-se a itens que não foram consumidos em quantidade significativa na União Europeia antes de 15 de maio de 1997, quando entrou em vigor o regulamento sobre novos alimentos. Esse avanço reflete a crescente aceitação dos insetos como uma fonte alternativa e sustentável de proteína, com outros insetos, como gafanhotos e grilos, já sendo autorizados para consumo. O regulamento visa garantir a inovação no mercado, ao mesmo tempo em que protege a segurança dos consumidores, com uma rotulagem adequada.>
A pesquisadora Roberta Cruz Silveira Thys, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca em entrevista ao Globo Rural que o pó de tenebrio é uma proteína completa e rica em ácidos graxos poliinsaturados. Ela ressalta que o produto tem sido estudado há muito tempo e pode ser utilizado tanto na fase larval quanto na fase adulta do inseto. A aprovação desse ingrediente também ocorre no contexto de uma crescente demanda por proteínas alternativas, impulsionada por questões ambientais, insegurança alimentar e o crescimento populacional.>
De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), os insetos são fontes altamente nutritivas de proteínas, vitaminas e minerais, contribuindo para dietas mais saudáveis e sustentáveis. O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (IFAD) da ONU estima que cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo consomem insetos.>
Embora o consumo de insetos ainda seja um nicho de mercado, a criação desses animais oferece benefícios ambientais significativos, como redução de emissões de gases de efeito estufa, menor demanda por terras, uso reduzido de água e maior eficiência na conversão alimentar. No Brasil, embora haja diversas pesquisas nessa área, a legislação ainda não permite a adição de insetos ou seus derivados em alimentos destinados ao consumo humano.>
Roberta Thys também observa que, embora haja grande resistência ao consumo de insetos inteiros, a atitude dos consumidores em relação ao consumo de pó ou larvas é mais positiva. “Em uma pesquisa sobre a intenção de consumo de insetos, identificamos que há grande resistência em relação ao inseto inteiro; já sobre o consumo de pó à base de insetos ou larvas, a atitude dos entrevistados foi mais positiva”, conclui a pesquisadora.>