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Carol Neves
Publicado em 28 de março de 2025 às 11:44
A modelo baiana Vanessa Amorim estava prestes a entrar no chuveiro em seu apartamento no 21º andar em Bangkok, na Tailândia, quando as paredes começaram a balançar 'como uma gangorra'. Em segundos, a modelo baiana se viu no meio de uma cena de filme de terror: vizinhos em pânico, pessoas sem roupa descendo escadas e o medo de um novo tremor. O terremoto de magnitude 7.7 que atingiu o país vizinho Mianmar nesta sexta-feira (28) transformou a rotina da capital tailandesa em caos - e Vanessa registrou tudo em vídeos que mostram parte do drama.>
Com medo do arranha-céu em que estava vir abaixo, como aconteceu com outros prédios, Vanessa sabia que tinha que descer às pressas. "Foi por volta de 13h (horário local da Tailândia), se não engano. Eu estava em casa no banheiro, já tinha passado óleo no cabelo, aí do nada ouvi uma coisa estranha, mas pensei que estava passando mal", diz. "Mas quando saí vi que o prédio não estava só tremendo, estava balançando, como se fosse uma gangorra. Foi muito forte", explica em conversa com o CORREIO. "Balançou de um lado pro outro".>
Apesar da urgência do momento, ela teve um momento de paralisia. "Eu não lembrava onde era a escada e fiquei esperando o prédio colocar pelo menos um alarme. Não sabia se o que estava vendo era real ou eu estava passando mal, porque foi aterrorizante", lembra. "Entrei em estado de choque, sentei no chão e esperei passar, porque não conseguia ficar em pé".>
Quando voltou a si, Vanessa saiu gritando por ajuda e batendo nas portas dos vizinhos. Uma vizinha abriu e tentou chamar Vanessa para descer de elevador, mas ela disse que deveriam achar a escada. "Era do lado da minha porta e eu estava nervosa e nem percebi". No saguão do prédio, o caos. "Gente sem sandália, de sutiã, de cueca", conta. Havia o medo de um segundo tremor, de menor impacto, se seguir ao primeiro, que não foi sentido no local. >
Nas redes sociais, ela relatou o momento para os amigos e familiares. "Aconteceu um terremoto aqui em Bangkok, a galera sem roupa, descendo todo mundo de qualquer jeito. Desci 21 andares, uma loucura. A água da piscina caiu. Estou segura tomando um cafezinho aqui com meus vizinhos, todo mundo aqui. Único lugar mais seguro", contou ela. As cenas mostravam ela e os amigos caminhando descalços pela cidade, vendo a destruição ao redor. Depois, a modelo fez questão de gravar uma mensagem para mandar o recado de que está bem. "Estou bem, estou em casa, mas foi muito forte". Nas imagens compartilhadas pela modelo, é possível ver a ligação elevada entre dois prédios se rompendo.>
O irmão de Vanessa, que também mora em Bangkok, ajudou ao lado de amigos a colocar crianças e idosos em segurança em frente a outro prédio que também foi evacuado. "Ele tinha ido encontrar amigos brasileiros e quando saíram do prédio tinha uma mulher com várias crianças. Cada um pegou uma criança e ajudou. Tinha idosos... Ajudou quem precisava", conta. >
Agora, Vanessa está hospedada com uma amiga que mora em casa. "Eles falaram que poderia dormir no prédio, mas ainda não fizeram a inspeção, vai demorar um ou dois dias, então não achei muito seguro", diz, afirmando que o edifício está com rachaduras e outros danos aparentes. "Deixei tudo lá, só peguei meu passaporte e cinco roupas. Não consegui voltar, fiquei lá alguns minutos e minha perna começou a tremer de novo. Entrei em estado de choque". >
O caos continua na cidade. "O metrô não funciona, os carros não funcionam, motos, você tem que tentar achar no meio da rua porque nenhum aplicativo funciona. Muita gente andando na rua porque não tem como pegar transporte". >
Soteropolitana do Vale das Pedrinhas, Vanessa mora em Bangkok há dois anos, depois de iniciar uma carreira na moda na capital baiana - ela chegou a desfilar pelo Afro Fashion Day, projeto do CORREIO. "Vim passar férias e gostei, porque é muito parecido com Brasil, as pessoas são receptivas, as comidas maravilhosas e o estilo de vida é muito bom. Dá para fazer tudo e as pessoas não se importam tanto em mostrar, cada um vive a sua vida", diz. "Tive oportunidade de ficar aqui e estou trabalhando como modelo", conta. >
Ela não tem planos de voltar para o Brasil, só para visitar, e há quatro meses levou o irmão para morar no país asiático. "Tenho saudade, mas aqui é mais seguro", diz ela, que ainda tem pai e mãe morando em Salvador. Nos dois anos em que vive lá, nunca viu nada parecido com as cenas de hoje. "Difícil de esquecer".>
Terremoto>
Pelo menos 144 pessoas morreram e mais de 732 ficaram feridas no forte terremoto de magnitude 7,7 que atingiu Mianmar, conforme o chefe do governo militar do país. Além disso, a dezenas de desaparecidos, incluindo trabalhadores que estavam em obras de prédios que desabaram. >
O tremor também atingiu a Tailândia e uma autoridade informou que pelo menos nove pessoas morreram na capital Bangkok. >
O terremoto ocorreu 16 quilômetros ao norte a noroeste da cidade de Sagaing, por volta das 12h50, horário local, disse o USGS. Um tremor secundário de magnitude 6,4 atingiu a região cerca de 12 minutos após o terremoto inicial, conforme o USGS.>