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Carol Neves
Publicado em 23 de abril de 2025 às 09:08
Bento IX, considerado o papa mais jovem a assumir o trono de Pedro, viveu um período incomum na história da Igreja Católica. Batizado como Teofilacto de Tusculum, era membro de uma poderosa família aristocrática de Roma e teve três papados intercalados ao longo do século XI. A idade exata com que se tornou papa é incerta, mas estima-se que tenha sido entre 12 e 20 anos.>
Sua família, os Tusculum, exercia forte influência política e eclesiástica em Roma. Naquela época, segundo o especialista Thales Reis, o papado era mais visto como um posto de poder político do que como uma função espiritual, com famílias nobres disputando o controle da Igreja para consolidar sua posição.>
De acordo com a historiadora Susan Wise Bauer para a CNN, o jovem papa via a função como uma oportunidade para aumentar a riqueza da família. Seu primeiro papado durou de 1032 a 1044, até ser substituído por Sylvester III. Retornou ao cargo em 1045, tornando-se o primeiro papa da história a reassumir o posto.>
Durante esse segundo mandato, conforme Thales Reis, Bento IX teria desejado se casar e, para financiar o casamento, vendeu o papado ao padrinho, que viria a se tornar Gregório VI. Este episódio é considerado o único registro histórico de um papa que renunciou em troca de dinheiro. Mais tarde, Gregório VI renunciou após acusações de simonia.>
Pouco tempo depois, Bento IX reassumiu o trono de Pedro pela terceira vez, entre 1047 e 1048, até ser definitivamente deposto pelo imperador. O cenário era de fragmentação política e surgimento de reformas na Igreja.>
O período, marcado por sucessivas disputas pelo papado e perda de legitimidade da autoridade papal, acabou impulsionando transformações. Thales Reis destaca que o caso de Bento IX expôs a necessidade de mudanças no processo de eleição papal, que, na época, era controlado por uma elite romana influenciada por poder militar, alianças políticas e recursos financeiros.>
Foi a partir dessas crises que, mais adiante, surgiria o conclave como forma de eleger o papa, estabelecendo critérios mais claros e estruturados — processo que só viria a ser formalizado no século XIII.>