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Israel planeja controle militar de Gaza sem prazo para acabar no pós-guerra

O plano foi mal recebido pelos palestinos, que o chamaram de "fadado ao fracasso", e não satisfaz os EUA, maior aliado de Israel

  • Foto do(a) author(a) Estadão
  • Estadão

Publicado em 24 de fevereiro de 2024 às 08:29

Netanyahu
Netanyahu Crédito: Shutterstock

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, divulgou nesta sexta, 23, seu plano mais detalhado até o momento para o pós-guerra na Faixa de Gaza. O documento materializa declarações anteriores do premiê, com a promessa de Israel manter o controle militar sem prazo de saída do território, enquanto a administração civil ficaria nas mãos de palestinos que não tenham vínculos com o Hamas.

O plano foi mal recebido pelos palestinos, que o chamaram de "fadado ao fracasso", e não satisfaz os EUA, maior aliado de Israel, que defendem a soberania palestina após o fim da guerra. Se concretizado, o projeto inviabiliza a criação de um Estado palestino em Gaza e na Cisjordânia ocupada no curto prazo.

O documento apresentado por Netanyahu reitera a posição israelense contra o "reconhecimento unilateral de um Estado palestino" por considerá-lo "uma forma de recompensa ao terrorismo". Ele estabelece ainda duas zonas tampões que seriam controladas por Israel por tempo indefinido.

Objetivo

A primeira seria estabelecida na fronteira de Gaza com o Egito, o que aumentaria as tensões com o governo egípcio e pressupõe uma invasão à cidade de Rafah. A outra seria ao longo da fronteira israelense com Gaza, com o controle israelense de uma faixa de território dentro do enclave, onde hoje os militares estão demolindo casas e prédios.

Em relação à administração civil, os gestores seriam escolhidos a dedo por Israel entre os moradores locais sem vínculos com países e entidades que apoiem o terrorismo. Embora o projeto não mencione explicitamente a Autoridade Palestina, que administra partes da Cisjordânia ocupada, a menção a moradores de Gaza afasta o envolvimento do principal grupo político palestino.

O plano, como esperado, também pede o fechamento da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, que tem forte atuação na Faixa de Gaza. Em janeiro, Israel acusou funcionários da organização de cooperar com o Hamas - a acusação foi questionada por um relatório de inteligência dos EUA.

A intenção de Israel com o plano é dificultar um ataque como o que ocorreu no dia 7 de outubro, quando terroristas do Hamas mataram 1,2 mil pessoas em território israelense.

A Autoridade Palestina chamou a proposta de "colonialista e racista" e disse que ela equivaleria à reocupação israelense de Gaza, como antes de 2005. "Se o mundo estiver genuinamente interessado em ter segurança e estabilidade na região, deve pôr fim à ocupação de Israel de terras palestinas e reconhecer um Estado palestino independente com Jerusalém como sua capital", declarou Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.

Acordo

Esta é a primeira vez que os planos de Netanyahu para Gaza foram reunidos em um único documento. A divulgação foi feita no mesmo dia em que autoridades israelenses voaram para Paris para se reunir com diplomatas de Catar, EUA e Egito em um esforço para obter um acordo de cessar-fogo em troca da libertação de mais de 100 reféns que permanecem em poder do Hamas em Gaza.

Embora as autoridades israelenses afirmem que estão abertas a um acordo para suspender o combate e libertar os reféns, o governo de Netanyahu rejeita um cessar-fogo permanente. A pressão internacional, no entanto, cresce à medida que o número de mortos aumenta.

Em quatro meses de guerra, 29,5 mil palestinos, entre civis e membros do Hamas, foram mortos por Israel, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

O plano divulgado ontem atraiu pouca reação da extrema direita israelense, que faz parte da base política de Netanyahu e cujos líderes esperam reocupar a Faixa de Gaza com colonos judeus após o fim da guerra. O documento evita qualquer manifestação de apoio ao reassentamento de colônias em Gaza, mas não descarta a possibilidade, uma omissão que parecia ser um tentativa de evitar uma rebelião na coalizão radical do governo. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.