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Estadão
Publicado em 24 de março de 2024 às 14:08
Quando um eclipse solar total transformar o dia em noite na América do Norte, será que as tartarugas começarão a agir de forma romântica? Será que as girafas começarão a galopar? E os macacos cantarão fora do tom?
Pesquisadores estarão de prontidão para observar como a rotina dos animais no Zoológico de Fort Worth, no estado americano do Texas, será alterada quando o céu escurecer em 8 de abril. Anteriormente, outros comportamentos estranhos foram detectados em animais em um zoológico do estado da Carolina do Sul que estava na área atingida pela escuridão total em 2017.
"Para nosso espanto, a maioria dos animais fez coisas surpreendentes", conta Adam Hartstone-Rose, pesquisador da Universidade Estadual da Carolina do Norte que esteve à frente das observações publicadas na revista Animals.
Embora existam muitos testemunhos individuais do comportamento bizarro das criaturas durante eclipses ao longo da história, apenas nos últimos anos os cientistas começaram a estudar com rigor as alterações no comportamento de animais selvagens, domésticos e em zoológicos.
Sete anos atrás, as tartarugas das Galápagos do zoológico Riverbanks Zoo, em Columbia, Carolina do Sul, "que geralmente não fazem absolutamente nada durante todo o dia (…) durante o pico do eclipse, todas começaram a procriar", diz Hartstone-Rose A causa do comportamento ainda não foi esclarecida.
Um casal de siamangs, gibões que geralmente emitem chamados um ao outro pela manhã, cantou músicas incomuns durante o eclipse, que ocorreu durante a tarde. Algumas girafas macho começaram a galopar com "aparente ansiedade". Os flamingos se amontoaram em torno de seus filhotes.
Os pesquisadores dizem que muitos animais apresentam comportamentos relacionados ao anoitecer.
Em abril, a equipe de Hartstone-Rose planeja estudar espécies semelhantes no Texas, para avaliar se os comportamentos que testemunharam na Carolina do Sul apontam para padrões mais amplos.
Vários outros zoológicos no caminho do eclipse também estão convidando os visitantes para ajudarem a observar os animais, como os zoológicos de Little Rock, no estado do Arkansas; Toledo, em Ohio; e Indianápolis.
O eclipse solar total deste ano na América do Norte percorre uma rota diferente daquela de 2017 e ocorre em outra estação, dando aos pesquisadores e cientistas cidadãos a oportunidade de observar novos hábitos.
"As expectativas são muito altas. Temos um período muito curto para a observação e não podemos repetir o experimento", diz Jennifer Tsuruda, entomóloga da Universidade do Tennessee que observou colônias de abelhas durante o eclipse de 2017.
As abelhas que Tsuruda estudou diminuíram as atividades de forrageamento durante o eclipse, como normalmente acontecia à noite, exceto nas colmeias mais famintas.
"Durante um eclipse solar, há um conflito entre os ritmos internos e o ambiente externo", diz Olav Rueppell, da Universidade de Alberta, acrescentando que as abelhas dependem da luz polarizada do sol para se orientar.
Nate Bickford, pesquisador de animais do Instituto de Tecnologia de Oregon, diz que "os eclipses solares, na verdade, se assemelham a tempestades curtas e rápidas", quando o céu escurece e muitos animais se abrigam.
Após o eclipse de 2017, ele analisou dados de dispositivos de rastreamento previamente implantados em espécies selvagens para estudar o uso do habitat. As águias-americanas mudam a velocidade e a direção do voo durante um eclipse, segundo ele. O mesmo acontece com os cavalos selvagens, "provavelmente procurando proteção, respondendo à possibilidade de uma tempestade nas planícies abertas".
O último eclipse solar total dos EUA, abrangendo as costas leste e oeste, aconteceu no final do verão, em agosto. O próximo eclipse, em abril, dá aos pesquisadores a oportunidade de fazer novas perguntas, inclusive sobre os potenciais impactos sobre a migração da primavera.
A maioria das espécies de pássaros canoros migra à noite. "Quando houver um ambiente noturno durante o eclipse, será que os pássaros pensarão que é hora de migrar e alçar voo?", pergunta Andrew Farnsworth, da Universidade Cornell.
Sua equipe pretende testar esta hipótese analisando dados de radares meteorológicos - que também detectam a presença de pássaros voadores, morcegos e insetos - para averiguar se mais pássaros levantam voo durante o eclipse.
Já os animais de estimação que vivem dentro de casa podem reagir tanto ao que seus donos estiverem fazendo - estejam eles entusiasmados ou indiferentes com o eclipse - quanto a quaisquer mudanças no céu, segundo Raffaela Lesch, zoóloga da Universidade do Arkansas.
"Cães e gatos prestam muita atenção em nós, além de seus relógios internos", diz ela. As informações são da Associated Press.