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Carol Neves
Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 12:35
Após mais de três meses sendo mantidos reféns e submetidos a torturas em Mianmar, os brasileiros Luckas Viana dos Santos, 31, e Phelipe de Moura Ferreira, 26, finalmente foram resgatados, segundo os familiares deles, informou o Uol.>
O resgate ocorreu depois que os brasileiros conseguiram escapar no último sábado, sendo localizados na segunda-feira (10) por um grupo armado. Eles estavam entre centenas de estrangeiros que, assim como eles, eram vítimas de tráfico humano em Mianmar. Após a fuga, Luckas e Phelipe foram encontrados e capturados por agentes do Exército Democrático Karen Budista (DKBA), uma milícia dissidente das Forças Armadas de Mianmar, que desde 2021 vive sob uma ditadura militar e é dominada por diversas milícias, tanto pró quanto contra o governo.>
Phelipe havia se comunicado com seu pai, Antonio Carlos Ferreira, antes da fuga. Em uma mensagem enviada no sábado, de um número desconhecido, ele disse: "Vamos tentar daqui a pouco. (...) Se acontecer algo comigo, saiba que eu tentei ao máximo". Depois da fuga, ambos foram levados para um centro de detenção, onde puderam contatar seus familiares. Atualmente, aguardam ser transferidos para a Tailândia com o auxílio da ONG The Exodus Road, que confirmou o resgate de 368 estrangeiros de 21 países.>
"Estou me sentindo o homem mais feliz do mundo. Eu pensei que não ia mais conseguir ver meu filho, mas graças a Deus, conseguimos", declarou Antonio Carlos Ferreira, pai de Phelipe.>
Apesar da felicidade pela fuga, a família ainda expressa preocupação. Ana Paula, prima de Luckas, disse: "A gente está muito feliz, mas preocupados ainda. Já sabíamos da fuga, só que soubemos hoje que foram presos por alguma milícia em Mianmar e o DKBA pegou eles. Agora, é outra etapa, mas eles ainda correm risco porque, como foi fuga, a máfia ainda pode estar procurando eles.">
Desde segunda-feira, a Exodus Road segue resgatando e verificando a situação de outros estrangeiros que fugiram do local. De acordo com uma porta-voz da organização, espera-se que até o dia 12, 170 vítimas sejam libertadas e enviadas à Tailândia, incluindo Luckas e Phelipe.>
A operação de resgate não contou com o apoio do Ministério das Relações Exteriores brasileiro ou da embaixada, segundo os familiares. "O mérito do resgate foi todo da ONG [Exodus]. A embaixada [brasileira] só ficou aguardando a boa vontade das autoridades de Mianmar, que não iam fazer nada. Já sabiam onde eles estavam e tinham que ter pressionado mais, mas não fizeram nada. Quem pressionou foi a ONG", afirmou Antonio Carlos Ferreira.>
A Exodus Road, como organização civil, afirmou ter pressionado o governo tailandês para que um acordo fosse firmado com Mianmar para a libertação dos reféns. A porta-voz Cintia Meirelles explicou: "Após essa pressão, foi feito um acordo no qual as 371 vítimas que apresentamos fossem libertas, incluindo Luckas e Phelipe.">
Antonio Carlos Ferreira também relatou as dificuldades em obter ajuda da embaixada: "Desde sábado, tentamos contato com a embaixada do Brasil para falar da fuga e pedir ajuda deles para acionar as autoridades locais, mas não responderam. Ligamos para o Ministério das Relações Exteriores e falaram que não podiam fazer nada. Só hoje [11], entraram em contato comigo para dizer que tinha novidade sobre o meu filho, depois que eu já tinha recebido a notícia.">
Agora, os familiares aguardam ação do Itamaraty para repatriar Luckas e Phelipe. De acordo com Antonio e Ana Paula, os dois brasileiros permanecerão detidos na Tailândia até que o Ministério das Relações Exteriores intervenha, possibilitando o acesso a seus passaportes e ao dinheiro necessário para sua viagem de volta ao Brasil.>
O Itamaraty ainda não se manifestou sobre o caso. A reportagem será atualizada assim que houver novos posicionamentos do ministério ou informações adicionais sobre o resgate.>
Relembre o caso>
Luckas e Phelipe foram vítimas de tráfico humano em Mianmar entre outubro e novembro, após aceitarem ofertas de emprego na Tailândia. Eles ficaram presos em uma fábrica em Myawaddy, onde eram forçados a trabalhar 15 horas por dia, aplicando golpes digitais contra pessoas de outros países sob ameaças e tortura.>
Durante esse período, a família relatou a dificuldade em obter respostas das autoridades brasileiras. "Quando respondem, nos mandam notas dizendo que estão em contato com as autoridades locais e que a situação ali é complicada. Mas, então, como que para resgatar o ator chinês famoso foi tão rápido?!", questionou Antonio Carlos Ferreira.>
Em janeiro, um ator chinês, Wang Xing, foi resgatado em Mianmar, quatro dias após chegar ao país como vítima de tráfico humano. Ele também havia sido atraído por uma falsa proposta de trabalho para a Tailândia, o que gerou uma comparação com o caso dos brasileiros.>