Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Estadão
Publicado em 3 de maio de 2024 às 08:20
O presidente dos EUA, Joe Biden, condenou ontem os protestos pró-palestinos nas universidades americanas. O discurso na TV foi a primeira declaração dele sobre a onda de manifestações das últimas semanas, que já registraram mais de 2 mil prisões em 40 campus.
O presidente, que disputa a reeleição em novembro, disse que os americanos têm o direito de protestar, mas não o de provocar caos. "Destruir propriedades não é um protesto pacífico. É contra a lei."
Os jovens protestam contra o apoio irrestrito da Casa Branca a Israel na guerra em Gaza, refletindo uma insatisfação da ala mais à esquerda do Partido Democrata. Na quarta-feira, 57 de 212 deputados democratas pediram a Biden que suspendesse a ajuda a Israel.
O presidente virou alvo fácil também dos conservadores, que criticam a falta de ação para conter as manifestações, rotuladas pelos republicanos de antissemitas. Em seu discurso, Biden rejeitou as críticas e a pressão para reprimir os estudantes.
Até agora, Biden havia oferecido apenas algumas frases de efeito em resposta a perguntas de jornalistas. "Em momentos como este sempre há quem tente obter ganhos políticos. Mas este não é um momento para política", disse o presidente, que se colocou como um defensor da liberdade de expressão, mas reconheceu que muitas manifestações tinham ultrapassado o limite do discurso - uma clara tentativa de se defender dos dois lados.
Segundo a agência Reuters, assessores de Biden rejeitam a ideia de que os protestos possam custar sua reeleição. Eles argumentam que o número de participantes é pequeno em comparação com os mais de 40 milhões de eleitores da geração Z.
Nos últimos dias, a Casa Branca lançou políticas favoráveis aos jovens, como o perdão de dívidas estudantis. Na quarta-feira, ele suspendeu US$ 6 bilhões em dívidas de cerca de 370 mil estudantes de arte. Desde que assumiu, Biden já perdoou US$ 29 bilhões em dívidas de estudantes.
No entanto, qualquer tema pode ser determinante em uma disputa apertada. Uma pesquisa da Universidade Quinnipiac, no mês passado, mostrou que 46% apoiavam a ajuda a Israel na guerra contra o Hamas e 44% se opunham. Mas, entre os eleitores registrados com idade entre 18 e 34 anos, apenas 25% apoiam a ideia e 66% são contra.
Já a pesquisa Reuters-Ipsos, de março, mostrou que os americanos entre 18 e 29 anos preferem Biden em vez de Trump por apenas 3 pontos porcentuais - 29% a 26% -, com o restante escolhendo outro candidato ou sem saber em quem votar. Biden venceu a eleição em 2020 com uma vantagem de 24 pontos entre os jovens.
Enquanto os estudantes parecem minar a candidatura do presidente, pesquisadores identificaram esforços de países como Rússia, China e Irã para alimentar tensões dentro dos EUA, se aproveitando das manifestações estudantis.
Nas últimas semanas, a mídia estatal desses três países produziu quase 400 artigos em inglês sobre os protestos, de acordo com a NewsGuard, ONG que monitora a desinformação online. "Todos os três países lançaram uma enxurrada de propaganda e de desinformação desde o início da guerra em Gaza, buscando enfraquecer Israel e os EUA", disse a ONG.
Com os protestos, os rivais dos EUA passaram a se concentrar no apoio incondicional do governo Biden a Israel, argumentando que isso prejudica a posição internacional dos americanos e não reflete o sentimento da população nos EUA.
A Turquia suspendeu ontem todas as atividades comerciais com Israel - exportação e importação -, até que o país permita o envio ininterrupto de ajuda a Gaza. Em resposta, o chanceler israelense, Israel Katz, acusou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de agir como um "ditador". Ele prometeu substituir a Turquia por outros parceiros.
O impacto, porém, é grande. A Turquia é o 5.º país que mais compra produtos de Israel e o 7º que mais vende para os israelenses. O volume total do comércio entre os dois países foi de US$ 6,8 bilhões em 2023. (Com agências internacionais)