Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Voo de 8 horas em linha reta sobre o sertão baiano leva empresário alagoano a novo recorde

Ele sobrevoou as cidades de Araci e Santa Luz até chegar em Jacobina

  • Foto do(a) author(a) Nilson Marinho
  • Nilson Marinho

Publicado em 24 de março de 2025 às 05:19

O piloto levantou voo e seguiu para onde o vento o levava, em direção à Bahia
O piloto levantou voo e seguiu para onde o vento o levava, em direção à Bahia Crédito: Acervo pessoal

Pablo Vieira de Tomás é um empresário que mora em Maceió, Alagoas. Desde pequeno, olhava para o alto e se imaginava no comando dos aviões que cortavam o céu. No entanto, os ventos que guiam a vida podem soprar em direções inesperadas ou, no caso dele, para caminhos semelhantes. Tornou-se piloto, mas apenas por hobby — e de uma aeronave mais leve e menos complexa do que aquelas equipadas com hélices e turbinas, usadas no transporte comercial, militar e de carga: o parapente.

“Acabei encontrando o parapente justamente quando estava prestes a me inscrever em uma escola de aviação para me tornar piloto privado. Hoje, sou empresário em Maceió e voo de parapente há oito anos, por hobby. Foi onde me encontrei como pessoa. Minha maior satisfação é poder voar, fazer meus voos”, contou Pablo.

A modalidade que ele pratica é chamada cross country, que consiste em decolar de um ponto e tentar voar a maior distância possível. Essa prática exige um grande esforço logístico, além de um estudo detalhado das condições climáticas e do relevo ao longo do trajeto.

No início de fevereiro deste ano, o empresário foi até a Serra da Pioneira, localizada entre as cidades de Itabaianinha e Pedrinhas, no interior de Sergipe, acompanhado de amigos e de seu parapente modelo Enzo 3. Esse equipamento de alto desempenho é extremamente sensível aos comandos dos pilotos e projetado para pessoas experientes e competidores de cross country.

Sua missão era quebrar seu recorde pessoal, ultrapassando 265 km de voo, saindo de Sergipe em direção à Bahia. A rota vinha sendo estudada há cerca de um mês. Durante o percurso, ele decolou do Morro da Pioneira, sobrevoou as cidades baianas de Tucano, Cipó e Algodões e pousou com segurança em Andorinhas. O trajeto totalizou 235,6 km, abaixo de sua marca anterior. “Como vimos que a previsão estava boa novamente, retornamos para tentar bater a meta de 300 km, que era nosso objetivo”, explica.

Pablo destaca que a escolha da rota depende de um estudo detalhado das condições climáticas, incluindo a verificação da previsão do tempo para uma área ampla e a análise da direção e intensidade do vento. Se o vento estiver muito forte, por exemplo, o risco aumenta, e o ideal é adiar o voo.

“A rampa de onde decolei tem sua frente voltada para leste, nordeste e sudeste. Se o vento estiver vindo do sul, por exemplo, não conseguimos decolar. Então, planejamos a rota conforme a direção do vento, que pode mudar ao longo do percurso”, finaliza.

Pablo Vieira de Tomás
Pablo Vieira de Tomás Crédito: Acervo pessoal

O piloto levantou voo e seguiu para onde o vento o levava, em direção à Bahia. No nordeste baiano, sobrevoou as cidades de Araci e Santa Luz. Moradores locais, ao avistá-lo planando no céu do semiárido, imaginaram que fosse um paraquedista, o que gerou preocupação sobre um possível pouso inesperado. “Foi algo inesperado. Nunca tinha visto nada assim por aqui”, relatou um morador a um veículo de imprensa local.

Nas alturas, Pablo pôde contemplar os relevos suaves e as áreas planas da Caatinga, predominantes na região, além das turbinas eólicas instaladas naquele trecho do sertão. Ele estava equipado com barras de cereal, uma sonda para esvaziar a bexiga em caso de necessidade e dois paraquedas reserva.

Monitorando a previsão do vento hora a hora e ajustando a rota conforme suas variações ao longo do voo, percebeu que as correntes o levavam em direção a Jacobina. “O vento estava direcionado para lá naquele dia. Conseguimos voar contra o vento, lateralmente e em qualquer direção, mas para um voo mais produtivo e eficiente, precisamos seguir a favor do vento. Isso melhora muito a performance do equipamento”, pontua o piloto.

Pablo planeou durante oito horas, praticamente em linha reta, até chegar a Jacobina. A intenção era pousar no aeroporto da cidade, mas ao perceber que não havia nenhum carro no local, imaginou que estivesse fechado. Em terra, seus amigos o acompanhavam desde Sergipe, utilizando um GPS que transmitia a localização do piloto a cada 10 minutos.

O empresário conseguiu ultrapassar a quilometragem que havia estipulado. Seu voo alcançou 315 km, estabelecendo o recorde de voo livre de Sergipe. Já no território baiano, o recorde atual é de 403 km, estabelecido pelo piloto Vagner Campos, que decolou de Ribeira do Pombal e pousou às margens do Rio São Francisco.

De acordo com Alessandro Luz dos Santos, presidente da Federação Baiana de Voo Livre (FBVL), a Bahia sempre teve uma presença discreta nesse esporte, com poucos pilotos e poucas rampas de decolagem conhecidas. Por muito tempo, o recorde de distância no estado foi de 217 quilômetros, estabelecido por um piloto suíço que decolou de Santa Terezinha e pousou em Seabra, na Chapada Diamantina.

“Recentemente, novas rampas foram abertas na Bahia. Uma delas é a de Ribeira do Pombal, que, apesar de não ser muito alta (com um desnível de aproximadamente 100 metros), oferece uma excelente condição de voo. Além dessa, foram abertas outras rampas, como a de Abaíra, que apresenta um grande potencial para voo, embora ainda seja pouco explorada. Há muitos outros locais promissores na Bahia que ainda não foram devidamente aproveitados para o voo livre”, explicou.

Com seu recorde pessoal de 315 km, Pablo agora quer alcançar 400 km. O recorde mundial de cross country é de 530 km e pertence a outro brasileiro. O piloto alagoano pretende superá-lo entre outubro e novembro deste ano. “O que sinto ao voar? Até chegar à rampa, sou empresário, um trabalhador comum. Mas, no momento em que coloco o equipamento no chão e começo a checá-lo, viro piloto. Todos os problemas do trabalho, dos funcionários, dos clientes e da família desaparecem. Só de estar na montanha, já é uma terapia”, finaliza o piloto.