Vizinho conhecia rotina de menina de 8 anos morta em Pernambués

Aisha costumava andar na Travessa São Jorge entre a sua casa e a da avó

  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Wendel de Novais

Publicado em 23 de julho de 2024 às 16:00

auto-upload
Aisha Vitória desapareceu e foi encontrada morta na rua de casa Crédito: Reprodução

As idas e vindas da pequena Aisha Vitória, menina de 8 anos encontrada morta na manhã desta terça-feira (23), entre a casa dos pais e a residência da sua avó eram constantes. Afinal, as duas casas estavam localizadas na Travessa São Jorge, onde ela desapareceu e foi encontrada morta, e são separadas por uma curta distância. A reportagem identificou que é possível ir de um imóvel a outro dando apenas 35 passos, tratando-se de um adulto.

A proximidade dava liberdade para que ela circulasse no local, mas também para que Joseilson Souza da Silva, 43 anos, que confessou ter matado Aisha, soubesse da sua rotina. Ele era morador da mesma travessa há três meses.

A rua é uma transversal da Avenida São Paulo, uma das vias mais movimentadas de Pernambués. O local, no entanto, é descrito pelos moradores como tranquilo, tendo, em geral, a circulação limitada de pessoas que vivem na região. Até por isso, não se imaginava que ela pudesse virar vítima de um crime, como explica uma de suas tias, que prefere não se identificar.

“Se você olhar aqui, vê que é muito perto. Então, tanto ela como os outros irmãos ficavam entre a casa onde moram e a da avó. Aisha era, inclusive, muito apegada à avó. Como aqui nunca houve esse tipo de coisa, ninguém imaginava que algo assim pudesse ocorrer. Não passava pela nossa cabeça que alguém poderia pegar ela no caminho e fazer isso”, explica a familiar.

Joseilson Souza da Silva
Joseilson Souza da Silva Crédito: Marina Silva/CORREIO

Aisha foi vista pela última vez na tarde de segunda-feira (22), às 17h. Depois, só foi encontrada, já sem vida, às 4h40, na Travessa São Jorge. Já no fim da manhã, na casa do vizinho que confessou o crime, foram encontradas as sandálias da vítima, que estavam em cima do telhado, e uma boneca, localizada atrás da geladeira. A Polícia Civil confirmou a confissão, mas disse que "em respeito à Lei de Abuso de Autoridade, não identifica suspeitos".

Desde o momento em que Aisha foi encontrada, a família suspeitava que o responsável por matá-la estava na travessa. Um dos principais motivos é que, segundo eles, a menina não tinha o costume de deixar o local. "Ela não saía daqui, eu não mandava ela comprar nada em mercado fora daqui, e já tinha a orientação para não sair, eu oriento minha filha. Eu acredito que quem fez essa maldade é daqui", falou o pai de Aisha, identificado apenas como Rogério, a um policial no local onde a menina foi encontrada. O suspeito ainda não tinha assumido a autoria do crime quando a declaração do pai foi dada.

Menina de 8 anos é encontrada morta em Pernambués após desaparecer
Pai de Aisha [de branco] é consolado Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Samara Nogueira, vizinha e cabeleireira, relata que a pequena sempre passava por seu salão enquanto circulava entre a casa dos pais e da avó. O comportamento de Aisha, de acordo com ela, era o melhor possível. “Era uma menina muito alegre, respeitosa, uma criança que dava bom dia, passava por você e perguntava como você está. [...] Chegava ali no meu salão, se sentava em uma cadeirinha ou só botava a cabecinha para falar comigo. Era uma criança inocente, que só circulava por aqui”, lembra a vizinha.

Muito emocionada, Samara falou sobre a dor pela morte da pequena e o medo da violência contra crianças. “É complicado, a gente estremece o coração de não ter resposta e a gente sabe que não é só a Aisha. Tantas crianças que estão pegando e fazendo tanta maldade. É sempre do nada, a troco de nada, descartam, parecendo que é nada. Não tratam mais como um ser humano. O amor de muitos realmente não existe mais”, termina a vizinha.

Apesar de ser conhecida apenas na rua onde vivia, a pequena mobilizou pessoas de todo o bairro que a procuraram. Desde as primeiras horas da manhã, quem vive em Pernambués estava na expectativa de informações do caso. Quando Joseilson confessou e foi encaminhado a uma viatura, agentes da PC o tiraram da casa onde vivia para uma viatura. Na saída da rua, os moradores revoltados tentaram linchar o suspeito, e a polícia precisou atirar para cima para dispersar a multidão.