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Elaine Sanoli
Publicado em 11 de abril de 2025 às 16:29
Antes que os blocos de Carnaval encham as ruas Salvador de música, cor e alegria, todo um sistema de organização é pensado anualmente para dar ordem às novas e antigas entidades carnavalescas. As representações são ordenadas em uma fila obedecendo critérios de colocação. Nas últimas edições, no entanto, o Empresa Salvador Turismo (Saltur) tem registrado a venda das posições no ordenamento para “falsos blocos”. O assunto foi tema de uma reunião entre o Conselho Municipal de Salvador (Comcar) e o Ministério Público da Bahia (MP-BA), na quinta-feira (10). >
“Eles se aproveitam de uma brecha na legislação, se caracterizam como blocos, mas não saem. Quando chega o Carnaval, isso atrapalha muito, além de ser um comércio paralelo ao nosso ver e do Ministério Público, mas infelizmente a Justiça ainda não entendeu isso”, declarou o presidente da Saltur, Isaac Edington. >
Todos os anos, as representações jurídicas dos blocos são convocadas a manifestar o interesse em participar do Carnaval. Alguns deles, conseguem o lugar ‘privilegiado’ por já fazerem parte do desfile de blocos há muito anos, sendo assim, ganham o direito de sair nos primeiros momentos. Na prática, Edington explicou que alguns trios são colocados na rua, mas não obedecem aos critérios de um bloco. >
“Um bloco de Carnaval tem um trio elétrico, uma ou duas bandas, carro de apoio, corda, contrato de pessoas, registro como bloco, comércio de abadás, registro na [Secretaria da] Fazenda, um site, tudo isso normalmente feito com bastante antecedência”, elencou.>
Procurada pelo CORREIO, a Associação de Blocos de Salvador (ABS), por meio do advogado Fernando Aras, argumentou que o próprio Regulamento do Desfile do Carnaval permite a participação de blocos sem cordas na folia. "Constatamos que o Art. 10 desse ato normativo editado pelo Comcar prevê de forma cristalina o direito daqueles blocos mais antigos e tradicionais do Carnaval de Salvador de desfilar sem cordas, desde que tenham mais de 10 anos consecutivos de desfile", explicou.>
O representante da Saltur, no entanto, afirmou que a flexibilização dos critérios havia sido pensada anos atrás para facilitar a participação de blocos que sobreviviam com certa dificuldade. "A proposta é que, na reunião de conselho, volte a se caracterizar [o bloco], como já foi feito no passado", disse. >
Para frear a prática de venda, o Comcar tem se organizado para modificar regras do regimento interno do conselho, segundo o secretário-geral Jairo da Mata. “A discussão basicamente trata das regras e de punições para aqueles que não se adequarem”, falou.>
Assembleia suspensa>
Também na quinta-feira, uma reunião seria realizada para formar uma comissão, elaborar uma minuta e apresentá-la em audiência pública com as novas sugestões. No entanto, a ABS acionou a Justiça baiana para impedir que a assembleia ocorresse, com a justificativa de que a coordenadora executiva do Carnaval de 2026, Márcia Mamede, não poderia estar no cargo por já ter exercido o mandato nos anos de 2024 e 2025, o que denotaria uma ilegalidade. O pedido foi acolhido pela Justiça, suspendendo a assembleia até que uma nova eleição para o cargo de coordenador seja realizada. >
“A ação integra um conjunto de duas medidas judiciais adotadas pela ABS. Na primeira, a entidade já havia solicitado a suspensão da reunião por considerar que a convocação excluiu blocos e entidades tradicionalmente envolvidas no Carnaval. A ABS argumenta que os temas em pauta dizem respeito às regras dos desfiles, o que exige ampla participação de todos os segmentos carnavalescos”, publicou a instituição em nota.>
“No carnaval de 2024, o coordenador do Carnaval foi o conselheiro Pedro Costa, e a senhora Márcia era a vice-presidente. Em 2025, Pedro Costa foi eleito vice-presidente e Márcia, a coordenadora, para o Carnaval de 2025, portanto não houve recondução do cargo de coordenação”, argumentou Jairo da Mata.>
O Ministério Público da Bahia também foi procurado sobre a reunião com a Saltur e sobre a organização da fila dos blocos, mas ainda não respondeu. O espaço segue aberto. >