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UPA fechada e postos sucateados: a precarização dos serviços de saúde em Lauro de Freitas

Funcionários alegam atraso e descontos de salários, além da falta de insumos

  • Foto do(a) author(a) Millena Marques
  • Millena Marques

Publicado em 20 de novembro de 2024 às 07:06

UPA de Itinga
UPA de Itinga Crédito: Lucas Lins/Prefeitura de Lauro de Freitas

Pelo menos duas Unidades de Saúde da Família (USFs) e uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) foram fechadas em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, nos últimos dias. Moradores da cidade e servidores públicos relataram a precarização de serviços, incluindo atividades relacionadas à saúde, após a derrota do grupo liderado pela prefeita Moema Gramacho (PT) nas eleições de outubro.

Lauro possui apenas uma UPA 24h, situada no bairro de Itinga. Um médico que trabalha no local, que não se identificou por medo de represálias, relatou que o setor foi precarizado. “Houve demissões de enfermeiros, médicos, funcionários de limpeza e segurança. Quem está fazendo a segurança agora é a Guarda Municipal”, contou. As mudanças, segundo ele, aconteceram após o pleito municipal do dia 6 de outubro, mas foram intensificadas em novembro.

Só de funções relacionadas aos cargos de comissão da prefeitura, o CORREIO levantou 1.666 demissões. A lista foi publicada no Diário Oficial do Município (DOM), no último dia 14. Além da exoneração em massa, os funcionários alegam que os salários estão sendo descontados até 70% do valor original. No caso do médico que conversou com a reportagem, apenas seis dos 10 plantões (relativos a outubro) dele foram pagos.

“Isso (desconto de remuneração) é muito aleatório. Tem pessoas que trabalharam 12 plantões e só receberam dois. Tem gente que trabalhou quatro e recebeu três. São cortes aleatórios, sem nenhuma explicação”, continuou. Nessa semana, a unidade ainda não funcionou. Estavam em falta na última segunda-feira (18): material de sutura, radiografia, laboratório, medicações (penicilina, loratadina, entre outros), equipes de limpeza e de segurança.

As USFs, que são conhecidas popularmente como postos de saúde, também foram impactadas. No total, Lauro de Freitas possui 15 unidades desse tipo. Pelo menos duas foram fechadas nos últimos dias por falta de insumos e equipes de serviço. A USF Irmã Dulce, em Portão, não funcionou na última sexta-feira (15), enquanto a USF Manoel José Pereira, no Capelão, foi fechada na segunda-feira (18).

Embora a precarização tenha sido intensificada após as eleições municipais, há servidores não recebem há mais tempo. É o caso de uma médica plantonista na UPA de Itinga. “Eles simplesmente estão se recusando a pagar meus plantões. Já entrei em contato com o RH, com o Gabinete do secretário de Saúde. Eles não pagam. Só dizem que estão cientes e acompanhando a situação”, relatou a profissional, que alega não ser remunerada desde agosto deste ano.

A médica falou com a reportagem sob a condição de anonimato. Segundo ela, a situação é insustentável e o pedido de desligamento deverá acontecer em breve. “Acabaram minhas reservas financeiras. Eu, basicamente, estou pagando para trabalhar porque tem transporte, alimentação. Isso sem nenhum retorno”, disse. A projeção é de uma perda salarial de R$20 mil. A renda mensal era mantida de um trabalho de 30 horas semanais em outro município.

Procurada, a prefeitura de Lauro de Freitas informou, por meio de assessoria, que “os serviços essenciais estão mantidos.” Em nota oficial, a gestão disse que realizará o pagamento dos servidores que ainda não receberam os salários referente ao mês de outubro de forma gradativa.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro