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Uma em cada 5 pessoas na Bahia vive em domicílio com mais de dois moradores por dormitório

Falta de renda e ausência de espaço estão entre principais razões para alta concentração de pessoas em dormitórios

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 13 de dezembro de 2024 às 02:05

Quarto com beliche
Quarto com beliche Crédito: Divulgação/Pousada Reino de Aruanda

Um dos primeiros sinais de independência durante a infância é a conquista do próprio quarto. Em muitos lares, no entanto, essa questão fica para depois. Segundo o IBGE, na Bahia, uma em cada cinco pessoas vive em domicílio com mais de dois moradores por dormitório – o equivalente a 20% dos baianos. Os lares com mais de dois moradores por dormitório representam um em cada 10 domicílios particulares ocupados no estado (509.565). Os que tinham mais de três pessoas por dormitório eram 1,9% dos domicílios (95.871).

A Bahia tem a 9ª menor proporção de pessoas morando em domicílios com mais de dois moradores por dormitório (16,6%), assim como a 9ª menor proporção de moradores em domicílios com mais de 3 pessoas por dormitório (1,9%). As classificações do IBGE sobre as condições de habitação definem que um imóvel que tem mais de dois moradores por dormitório já se enquadram como um espaço com adensamento.

“As pessoas que vivem em um domicílio muito denso não têm espaço adequado e qualidade de vida no próprio lar. [...] Isso revela uma questão principalmente de renda”, aponta Mariana Viveiros, supervisora de disseminação de informações do IBGE.

A renda, nesse caso, tem fator determinante para manutenção desse quadro porque, sem recursos, não há como investir em um imóvel com mais espaço, conforme constata o historiador e doutor em urbanismo Ernesto Carvalho. Além disso, não é como se o esforço e trabalho pesado da família bastasse por si só, já que o mercado econômico também influencia diretamente as possibilidades de compra. Nos últimos anos, contudo, o especialista acredita que os resultados não têm sido favoráveis.

“A desvalorização da moeda, redução da capacidade de compra, desempenho do PIB nos últimos anos, falta de políticas regionais para aumento de riqueza e geração de recursos e falta de ofertas de trabalho terminaram por ser determinantes para a redução da capacidade de compra de um novo imóvel”, afirma Ernesto.

Impactos

Diante dessa conjuntura, quem tem que dividir o quarto com pelo menos mais duas pessoas acaba encontrando estratégias para conseguir uma boa convivência. A vendedora Karoline Dias, 31, por exemplo, estabeleceu acordos para que a irmã e o sobrinho conseguissem respeitar o ciclo de sono. A única queixa dela é quanto à individualidade. “Afeta a privacidade de todos nós”, lamenta.

No caso do estudante de Psicologia João Nascimento, 23 anos, a saída é intercalar noites de sono no quarto e noites de sono no sofá. “Eu sempre dividi o beliche com a minha irmã, só que agora que ela teve uma filha o quarto passou a ter que ser de nós três. Vez ou outra eu durmo no quarto, porque acabo preferindo ir para o sofá”, relata.

“O fato de não ter um quarto me afeta porque a casa é pequena. Me falta privacidade, já que os outros cômodos estão sendo ocupados pelas outras pessoas que vivem na casa”, finaliza ele, que confessa que o maior sonho é conquistar o próprio espaço.

Panorama do estado

De acordo com o IBGE, a participação dos domicílios com maior concentração de moradores por dormitório caiu de forma significativa na Bahia entre 2010 e 2022. Os que têm mais de dois moradores por dormitório passaram de 17,6% para 10,0%, já os que têm mais de três moradores por dormitório diminuíram de 4,9% para apenas 1,9% do total.

No último Censo, Salvador tinha 361.375 pessoas (15% da população total) vivendo em casas em que mais de duas pessoas ocupavam o mesmo quarto, sendo a 10ª menor proporção entre as capitais. Um total de 92.661 pessoas moravam em domicílios com mais de três moradores por dormitório, representando 3,9% da população do município, a 17ª maior proporção entre as capitais.

O total de 209 dos 417 municípios baianos tinham uma proporção de pessoas em domicílios com mais de dois moradores por dormitório acima da verificada no estado como um todo (16,6%). Eles eram liderados por Piraí do Norte (33,8% da população nessa situação), Ibirapitanga (33,1%) e Arataca (32,8%). No outro extremo, São Domingos (6,2%), Gavião (8,5%) e Candiba (8,8%) tinham os menores percentuais.

Arataca tinha ainda a maior proporção de pessoas vivendo em domicílios muito densos, com mais de três moradores por dormitórios (13,9%), seguida por Ibirapitanga (9,8%) e Itagi (9,2%). São Domingos (0,3%), Ibiassucê (0,4%) e Lajedo do Tabocal (0,5%) tinham as menores proporções.