Uma aula de antirracismo: auditório lotado recebe Djamila Ribeiro na Uneb

Escritora apresentou aula magna sobre direitos humanos na noite desta quinta-feira (14)

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  • Raquel Brito

Publicado em 14 de março de 2024 às 22:59

Djamila Ribeiro apresentou palestra na UNEB
Djamila Ribeiro apresentou palestra na Uneb Crédito: Danilo Oliveira/Ascom UNEB

Era difícil achar o fim da fila formada em frente ao teatro da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), na noite desta quinta-feira (14). A movimentação foi para assistir a palestra da filósofa e escritora Djamila Ribeiro, que apresentou uma aula magna sobre direitos humanos para marcar o início do semestre letivo. A iniciativa foi realizada por meio do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direitos Humanos e Sociais (PPDHS).

A mesa de apresentação foi composta pelo coordenador do PPDHS, José Araújo Alvelino; pela docente Dayse Lago de Miranda, representando a reitora Adriana Marmori; além do professor titular do Campus da Uneb, em Camaçari, Sérgio Henrique da Conceição; e do professor Natanael Reis Bomfim, representando a pró-reitora da universidade, Tânia Hetkowski.

Entre os estudantes da instituição e admiradores externos que esperavam para entrar no teatro, estava Pedro Antunes, de 21 anos. Estudante da Universidade Federal da Bahia (Ufba), ele aproveitou a oportunidade para acompanhar a namorada Vitória, que cursa Ciências Sociais na Uneb.

“Como referência em inclusão e diversidade, a Uneb está mais uma vez afirmando seu papel social, trazendo uma das maiores pensadoras do Brasil e do mundo de maneira gratuita. Muito se fala sobre ações e políticas que permitem resoluções ao problema racial e às tensões de gênero e se questiona acerca das devolutivas imediatas que as ciências humanas trazem à sociedade. Bom, as respostas estão na universidade, e em atividades como essa”, defendeu Pedro.

Apresentando o direitos humanos sob o viés do pensamento negro, Djamila Ribeiro iniciou sua fala lembrando três importantes personalidades: Carolina Maria de Jesus, Abdias do Nascimento e Marielle Franco. Isso porque o dia 14 de março representa o dia em que os dois primeiros fariam aniversário – 100 e 110 anos, respectivamente – e também a data na qual Marielle e o motorista Anderson Gomes foram assassinados, há seis anos no Rio.

“O ensino tem que ser democratizado, e é por isso que eu vou apresentar [a aula magna] no dia de hoje, que marca o aniversário de duas grandes figuras importantes para o nosso país. É por isso que é tão importante que essa inauguração seja hoje. Infelizmente, marca também o assassinato de Marielle Franco, que foi essa lutadora, que defendia os direitos humanos”, disse Djamila.

A pensadora levou para o público conceitos como Interseccionalidade e Amefricanidade, com base nas ideias de autores negros, como a baiana Carla Akotirene, que estava na plateia, além de nomes como Lélia Gonzalez, Frantz Fanon e Juliana Borges. Na plateia, estava também a secretária de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Angela Guimarães.

Elane Mendes, de 40 anos, estudante do curso de Pedagogia, celebrou a visita de Djamila à universidade. Ela e as colegas chegaram cedo para garantir seus lugares no auditório. “É de uma importância singular recebê-la aqui em Salvador em pleno mês de luta das mulheres. E para mim, o que mais chama atenção é a Uneb nos presentear com a visita de uma intelectual preta em uma aula inaugural de pós-graduação de um curso de Direito, lugar elitista onde predominam homens e mulheres brancas”, ponderou.

Foi um momento de aprendizado para todas as idades. Com um quadro feito à mão do rosto de Djamila em seu colo, a estudante Esther da Silva, de 15 anos, se destacava na plateia. Fã da escritora, a adolescente foi com a mãe, que cursa Direito na Uneb, e estava determinada a entregar a homenagem à palestrante.

“Eu estou no primeiro ano do ensino médio agora, mas gosto dela há muito tempo. Leio os livros. Tenho o Pequeno Manual Antirracista e Quem Tem Medo do Feminismo Negro, que li quando tinha uns 11 ou 12 anos”, afirmou Esther.

Esther lê Djamila desde os 11 anos
Esther lê Djamila desde os 11 anos Crédito: Raquel Brito

Autora de três livros, Djamila Ribeiro permanece em Salvador para a estreia da peça Pequeno Manual Antirracista, baseada no seu livro de mesmo nome, lançado em 2019. Protagonizado pela atriz Luana Xavier, o espetáculo tem início nesta sexta-feira (15), no Goethe-Institut, no Corredor da Vitória, e será apresentado às sextas, sábados e domingos até o dia 31 deste mês.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela.