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Larissa Almeida
Publicado em 27 de novembro de 2024 às 05:40
Os bairros de maioria negra são mais afetados pelos tiroteios no entorno das escolas de Salvador do que os bairros com população negra abaixo da média da capital. Isso é o que revela um estudo feito pelo Instituto Fogo Cruzado e pela Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas. Para Dudu Ribeiro, que é integrante da Rede de Observatórios da Segurança e pesquisador da Iniciativa Negra, os resultados do estudo revelam que a violência atinge a população negra de maneira mais incisiva por conta do modelo adotado pela segurança pública, mas também pelo modo de organização da sociedade.
“Há um ataque racial em curso e ele se apresenta tanto do ponto de vista das estatísticas criminais, como do ponto de vista da relação da segurança pública com a educação. Nós estamos falando de uma cidade que, apesar de majoritariamente negra, tem uma maioria branca que concentra a maioria da riqueza produzida por essa cidade. Esse é um projeto de dominação atualizado pela guerra às drogas, que participa de forma central na distribuição desigual de cidadania”, analisa o especialista.
Onze dos 124 bairros de Salvador que tiveram tiroteios próximos a escolas no período concentram 34% dos tiroteios. Os bairros de Fazenda Grande do Retiro, Beiru/Tancredo Neves e Castelo Branco foram os três mais atingidos. Todos têm população negra acima da média do município, que é de 79,48%, de acordo com dados do Censo de 2010. A pesquisa considerou os tiroteios ocorridos entre 4 de julho de 2022 e 30 de agosto de 2024, durante dias e horários letivos.
Dudu Ribeiro aponta que os bairros com mais episódios de tiroteios no entorno das escolas também figuram em outros monitoramentos do Instituto Fogo Cruzado e da Iniciativa Negra, o que os consolida como localidades ocupadas pela violência. “Há um ciclo que atinge determinados locais e ele pode, inclusive, em um momento seguinte, ser transferido para outras localidades com as mesmas características de localidades grandes e periféricas, com precariedade se serviços públicos e proporção populacional com maioria negra”, pontua.
O especialista adiantou que na próxima etapa do estudo os pesquisadores vão se debruçar sobre os impactos desses tiroteios para a comunidade escolar. O objetivo é auxiliar a construção de políticas pública para reduzir os danos causados pela violência armada, promover o diálogo entre a população afetada e os agentes de segurança, e conseguir a colaboração de mais agentes.
“É fundamental que nós, cada vez mais, possamos reforçar a ideia de que segurança pública não pode ser mais um caso só de polícia. A entrada da secretaria de educação estadual e municipal nesse debate muito vai nos ajudar a pensar a questão da violência a partir da perspectiva dos educadores e educadoras, das mães e pais que acompanham os filhos nas escolas e dos próprios adolescentes”, finaliza.