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Maysa Polcri
Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 11:55
As observações de turistas brasileiros e estrangeiros sobre problemas estruturais da Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, eram constantes antes do desabamento. Na quarta-feira (5), parte do teto do templo religioso despencou, causando a morte de uma visitante de São Paulo. Guias de turismo que atuam na região consideram o episódio uma "tragédia anunciada". >
É o que conta Ricardo Luciano, monitor de turismo que acompanhou um casal paulista no último domingo (2). Ele conta que a dupla de visitantes se assustou quando viu dilatações no teto da Igreja. Isso significa que as madeiras estavam afastadas, mas não rachadas.>
"Todos os turistas questionavam sobre os riscos de desabamento quando viam as rachaduras no teto. Pediam explicações sobre o porquê não era restaurado", explica Ricardo Luciano. "No domingo, um casal de São Paulo falou que as madeiras estavam afastadas uma das outras. Era algo que todos falavam", completa.>
Imagens registradas por turistas na semana passada mostram que o teto da Igreja de São Francisco tinha dilatações em diversos pontos. Um outro guia de turismo, autorizado a acompanhar viajantes dentro da Igreja, revela que chegou a perder clientes por medo de desabamento.>
"Perdi as contas de quantos turistas desistiram de entrar na Igreja quando viam o teto. Turistas que são engenheiros e arquitetos, por exemplo, questionavam a situação estrutural diariamente", conta. Uma vistoria seria realizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), nesta quinta-feira (6), para avaliar as condições estruturais. >
O historiador Rafael Dantas explica que as dilatações no teto são indícios de que o local precisaria passar por reformas. "São afastamentos dos retábulos de madeira. Isso acontece porque alguma coisa se soltou. As madeiras podem ter se separado por questão de cupim ou umidade, por exemplo", avalia o historiador. "Não é um sinal de que cairia, mas um indício que precisaria ser visto", avalia.>
A dilatação no forro do teto da Igreja São Francisco de Assis, no Pelourinho, já tinha sido notada pelo frade Pedro Júnior Freitas da Silva, guardião e diretor do templo, e alertada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na última segunda-feira (3). >
No documento, o frade pediu uma visita técnica do instituto para verificar o problema identificado no local e enviou uma imagem mostrando o estado do forro. Para isso, já estava agendada a visita de uma equipe técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) nesta quinta (6), mas o acidente aconteceu antes da visita.>
Em setembro de 2021, o Iphan foi condenado a realizar obras de recuperação, conservação e manutenção da Igreja e Convento de São Francisco, no Centro Histórico de Salvador. A autarquia federal se tornou ré de ação após a Comunidade Franciscana da Bahia, dona do imóvel, alegar não ter recursos para realizar obras emergenciais. >
A decisão, a qual o CORREIO teve acesso, aponta que perícia realizada em 2018 apontou problemas no "pavimento superior, na clausura, no depósito, na biblioteca, no elevador, na varanda superior do imóvel, nas peças e madeiras e elétrica com fiação aparente, na cobertura, na varanda do pavimento superior, na rede pluvial, na fachada e na estrutura do imóvel".>
Um dia após o desabamento de parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, a Polícia Federal (PF) não descarta responsabilização criminal pela morte de Giulia Panchoni Righetto. A turista de 26 anos, natural de São Paulo, morreu após ser atingida pelos escombros.>
A informação foi confirmada por Maurício Salim, corregedor da Polícia Federal que atua na investigação. Segundo ele, a apuração será complexa, especialmente por se tratar de um imóvel tombado.>
"A investigação tem como norte que, possivelmente, sempre em tese, pode ter acontecido um homicídio, provavelmente culposo, uma lesão, provavelmente culposa, e os danos. Mas não há nenhuma conclusão ainda nesse sentido", explicou.>
O desabamento de uma parte do teto central da Igreja São Francisco de Assis, no Pelourinho, deixou uma jovem de 26 anos morta e mais cinco feridos na tarde de quarta-feira (5). A tragédia, que aconteceu em um dos cartões-postais de Salvador, causou comoção entre moradores e visitantes da capital baiana. >
O acidente aconteceu entre 14h30 e 15h. A igreja era aberta para visitação e tinha o interesse de muitos turistas. A entrada custa R$ 10. Segundo guias que estavam no local, no momento da ocorrência, houve um estrondo que assustou quem passava pela região. >
Uma comerciante do Pelourinho, que preferiu não se identificar, disse que o barulho no momento do acidente se assemelhava ao estouro de uma bomba. “Parecia que tinham soltado uma bomba no lugar. Quando eu saí para ver, só tinha poeira bem amarronzada, por conta do barro. Teve também muito desespero, porque a entrada para a igreja é pela lateral. Então, o desespero foi porque as pessoas queriam sair e as portas estavam fechadas”, diz.>