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Donaldson Gomes
Publicado em 29 de fevereiro de 2024 às 17:27
O turismo é a grande aposta do setor de comércio e serviços na Bahia para 2024. Após alcançar o maior crescimento da série histórica em 2023, com uma alta de 11,4% no ano, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a atividade é apontada como a grande aposta pela Fecomércio-Ba, entidade que representa as empresas de comércio e serviços na Bahia.
Com resultados positivos em 11 dos 12 meses do ano passado, os serviços turísticos baianos tiveram, em 2023, o 3º melhor resultado anual entre os locais pesquisados, ficando abaixo apenas de Minas Gerais (15,0%) e Rio de Janeiro (11,4%), e acima do índice registrado pelo Brasil como um todo (6,9%).
“O ano de 2023 já foi marcado por uma boa recuperação no setor de turismo e de eventos. A gente vem acompanhando efetivamente uma recuperação que agora em 2024 se acelerou muito. Estamos com uma atividade extremamente forte e hoje a Bahia é o estado mais desejado pelos visitantes”, destacou o presidente da Fecomércio-Ba, Kelsor Fernandes, nesta quinta-feira (29), durante o evento para a apresentação das perspectivas econômicas para este ano.
Segundo Fernandes, o restante do setor de Serviços e o Comércio também estão se recuperando e dependem apenas de uma queda mais acelerada nos juros para melhorar ainda mais. “O que a gente espera para este ano é que se conclua a discussão sobre a reforma tributária, baixe os juros e nos forneça um ambiente de negócios bom, para que o empresário se sinta confiante na hora de investir e possamos gerar emprego e renda”, defende.
“Nós temos grandes possibilidades de fazer um ano memorável para o turismo. Temos um centro de convenções que atende perfeitamente o turismo de negócios, uma gama imensa de coisas para ver na Bahia”, enumera. “Somos um povo que é especial nesta área”.
Outra aposta do representante dos empresários do comércio e de serviços é a retomada do mercado imobiliário de Salvador. “Apesar dos juros, que encarem os financiamentos, o mercado continuou aquecido e vemos que Salvador está um canteiro de obras. Temos uma demanda reprimida, um estoque baixo de imóveis e precisamos voltar a incentivar o mercado porque ele é vital para a economia”, acredita.
Para o assessor econômico da Fecomércio-Ba, Guilherme Dietze, o volume de turistas registrados na Bahia em 2023 mostra claramente um cenário de recuperação. “Nós tivemos um bom desempenho tanto no que diz respeito aos baianos viajando internamente, quanto em relação à chegada de visitantes de outros estados”, lembra. Segundo ele, a posição geográfica da Bahia foi um atrativo, num momento de carestia nas passagens aéreas.
“Consumidores de grandes polos exportadores, como São Paulo e Minas, optaram por vir para Salvador, no lugar de ir para lugares mais distantes, como Fortaleza ou Recife”, compara. “Os custos tanto para Salvador, quanto para Porto Seguro e Ilhéus acabaram sendo mais atrativos e estimulou demais o turismo”, lembra. Ele acredita que os investimentos na hotelaria que estão sendo anunciados refletem o bom momento do turismo baiano.
Guilherme Dietze acredita que a Bahia precisa aproveitar o bom momento para investir mais na promoção dos destinos turísticos e fomentar o aumento da malha aérea. “É muito importante ajudar a aviação principalmente no que diz respeito à alíquota do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre o querosene, obviamente tendo como contrapartida o investimento no incremento das operações. Isso já é feito, mas precisa ser ampliado”, acredita.
O consultor econômico defende ainda que haja uma definição em relação à continuidade do Perse – programa criado para estimular o setor de eventos que tem previsão de continuidade até 2027, mas vem sendo questionado pelo governo federal. “Como empresas vão fazer investimentos sem saber se terão que lidar com uma possível mudança em sua carga tributária”, questiona.
Outros números que apontam o reaquecimento do turismo, que foi bastante impactado pelos anos de pandemia, são os de passageiros domésticos nos aeroportos do estado. Neste caso, a alta foi de 9,2%, de acordo com dados da Secretaria de Turismo da Bahia (Setur). Foram mais de 84,5 mil voos nacionais e internacionais, com taxa de ocupação média de 79,7% das aeronaves. No período, o fluxo de passageiros do exterior cresceu 59%, colocando a Bahia como principal portão de entrada do Norte-Nordeste para os estrangeiros.
Em 2023, houve ainda o aumento de 23% na taxa de permanência dos visitantes que escolheram a Bahia. No mesmo ano, a média da ocupação hoteleira em Salvador foi de 63,8%, sendo que em alguns feriados e datas de festas populares, a ocupação teve picos entre 85% e 95%; e o turismo foi responsável por 11% de todos os novos empregos de carteira assinada no estado.
Indefinições
Para Kelsor Fernandes, presidente da Fecomércio-Ba, as indefinições que persistem na reforma tributária trazem muita insegurança para quem atua no setor de serviços. “A gente torce para que neste primeiro trimestre boa parte das respostas que estão sendo buscadas sejam dadas para que tenhamos previsibilidade e possamos trabalhar”, diz.
Segundo ele, as principais fontes de preocupação dizem respeito às taxas, que não possuem nenhuma previsão de quedas atualmente. “Isso envolve uma reforma administrativa por parte do governo, para definir o tamanho do estado que ele quer e aí defina o quanto precisa realmente arrecadar”, afirma. “Não podemos ficar sempre aumentando o tamanho do estado porque isso só vai demandar uma arrecadação cada vez maior e pode nos levar a uma condição em que não tenhamos condições para bancar isto”, avalia.
Apesar das incertezas, ele frisa que a reforma é extremamente positiva para o país. “Nós não podemos continuar com esta complexidade de legislação tributária que temos atualmente no país e a mudança vai simplificar de cara tudo isso”, aponta.
O presidente da Fecomércio-Ba lembra que além das preocupações com a reforma, de âmbito nacional, o empresariado baiano ainda precisa conviver com movimentos por parte do governo estadual no sentido de elevação da alíquota do ICMS. “Isso é muito ruim, nós fizemos o governo ver a nossa insatisfação porque achamos que não precisava aumentar de 19% para 20,5%, sendo que antes já tinha aumentado de 18% para 19%. O empresariado demonstrou sua insatisfação”, lembra.
“O governo estava superavitário, não tinha porquê aumentar a arrecadação, mas o argumento é de que estavam fazendo isso pensando numa possível perda de arrecadação futura, que nem sabemos se vai mesmo acontecer. Infelizmente não fomos ouvidos e estamos pagando o preço mais uma vez”, lamenta.