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Maysa Polcri
Publicado em 25 de dezembro de 2024 às 06:00
Há 16 anos, quando o casal Ana e Jorge Ramos procuravam um novo apartamento, havia uma exigência inusitada. Mais do que uma sala ventilada, cozinha com armários e banheiro confortável, um critério diferente precisava ser preenchido para que a morada fosse escolhida. Era preciso espaço. Espaço para guardar as centenas de peças do presépio gigante montado todos os anos pela família.
"Quando chegamos nesse apartamento aqui, eu falei para ficarmos com ele porque tinha o lugar do presépio. Quando olhei os armários antigos, vi que tinha um espaço bom para guardar as caixas, que são muitas. É um desembalar e embalar muito delicado para não quebrar as peças", conta Ana Ramos.
Dessa vez, a montagem do presépio de seis andares e mais de 3 mil peças teve um gosto diferente. A saudade embalou os corações de Aninha, como é chamada pelos mais próximos, e os dois filhos, Desiree e Diego. Pela primeira vez em 35 anos, o pai, Jorge Ramos, não foi o "cérebro" do presépio da família. O jornalista morreu em abril deste ano, vítima de infarto.
Querido por muitos amigos e referência no jornalismo baiano, Jorginho Ramos era, dentro de casa, quem liderava a missão. Ela surgiu com sua mãe, que montava um presépio todos os anos na cidade de Cachoeira. Jorge e Aninha deram seguimento à tradição, mas o presépio só ganhou as proporções de hoje graças aos incontáveis amigos da família.
O presépio gigante é formado por peças de todos os lugares do mundo. Cada amigo que viaja, traz uma lembrança para ser exposta na casa durante o mês de dezembro. "É um presépio que está sempre em construção. Todos os anos, nossos amigos estão viajando e trazendo alguma coisa. Tem um camelo que veio de Dubai, um anjinho, do Havaí, outro presépio de Israel, até da China trouxeram coisas", detalha Ana.
A estrutura de seis andares é formada por cerca de 400 presépios em miniatura. Os materiais variam. A maior parte dos objetos é feita de barro, mas há outros de madeira, papelão, vidro e palha. Um dos que mais chama atenção dos visitantes é o que guarda a imagem de Jesus, José e Maria dentro de uma casca de noz. Neste ano, Aninha e os filhos fizeram uma ala em homenagem ao Nordeste, com elementos típicos da região.
São inúmeros detalhes que formam sempre a mesma imagem: o estábulo onde Jesus Cristo nasceu, no dia de Natal. Para contemplar todas as minúcias, é preciso tempo e olhar atento. Há imagem do Papa Francisco, Santa Dulce, presépio indígena, anjos, santos, Papai Noel e muito mais. Uma foto 3x4 de Jorge foi colocada no topo do presépio, como forma de homenagem. Há ainda pisca-pisca e laços natalinos.
Aninha Ramos conta que montar o presépio sem o companheiro de anos não foi tarefa fácil. "O cérebro do presépio era Jorginho. Eu falei para minha filha que, se ela quisesse deixar ele feliz, nós precisávamos fazer o presépio, que seria o desejo dele", conta.
Assim como acontece em todos os anos, a casa da família, no bairro do Rio Vermelho, foi aberta aos amigos e visitantes. Quem entra, não vai embora sem uma boa prosa. Durante o mês de dezembro, as visitas ao presépio são mais um pretexto para reunir as pessoas queridas, como o casal sempre gostou.
Aninha Ramos
Cargo do AutorUma das visitas foi a da jornalista Fernanda Carvalho, que esteve na casa da família na segunda-feira (23). "Apesar de sabermos que está sendo um momento doloroso, eles estão conseguindo manter a tradição, isso nos ensina muito. Jorginho era o próprio presépio que tanto admirava e cultivava. Era aquela pessoa de espírito amoroso, que adorava estar próximo dos amigos o ano todo", afirma.
Uma tendência se repete entre os visitantes. O olhar de quem admira o presépio logo busca encontrar o presente dado à família. Cada objeto, inclusive, tem as informações com o nome de quem presentou, lugar e data. Assim, não há risco de confusão. No caso de Fernanda, foi um presépio de vidro comprado quando sua mãe foi aos Estados Unidos.